quarta-feira, 28 de novembro de 2012

OPERAÇÃO OUTONO


 
UM CRIME QUE FICOU IMPUNE

 

Baseado no livro “Humberto Delgado – Biografia do General Sem Medo”, da autoria de Frederico Delgado Rosa, Bruno Almeida realizou um filme sobre o assassínio de Delgado pelo regime salazarista, que para o efeito se serviu da mão criminosa da PIDE.

Esta nota não tem por objectivo fazer a crítica do filme, mas tão-somente evidenciar aquilo que logo em 1981 – data do julgamento – parecia óbvio. O General Sem Medo era uma personalidade tão incómoda que mesmo depois de morto continuava a incomodar. Convinha, por isso, pôr uma predra sobre o "Caso Delgado" o mais  rapidamente possível  e encerrá-lo de uma vez por todas com uma “decisão politicamente correcta”, como hoje se diria ou, como os juristas costumam dizer, de acordo com a “verdade processual” judiciosamente trabalhada.

Embora desde o desaparecimento de Humberto Delgado, em Fevereiro de 1965, não houvesse grandes dúvidas por parte da generalidade da oposição de que o General tinha sido preso ou assassinado pela PIDE com a prévia anuência de quem mandava na polícia, foi preciso esperar um pouco mais de dois meses para se ter a confirmação de que Delgado tinha sido assassinado e depois esperar muito mais tempo, até Abril de 2008, para se ficar a saber, praticamente com todos os pormenores, como tudo se passou.    

Esse trabalho deve-se a Frederico Delgado Rosa, neto do General e historiador. Numa excelente biografia de mais de 1200 páginas, relata, na base de aturadíssimo trabalho de investigação, em pouco mais de cem páginas, os últimos dias do General, o crime praticado pela PIDE, as consequências políticas do assassinato e o julgamento -  capítulos 23, 24 e 25 - “Exílio na Argélia”, a “Cilada de Badajoz” e o “Caso Delgado”.

A morte de Delgado é uma vingança torpe e covarde de Salazar, humilhado, tal como a PIDE, pela imprevisibilidade da sua acção política e pelo ridículo a que frequentemente os sujeitou.

O julgamento em tribunal militar do “caso Delgado”, ocorrido já em liberdade, foi uma farsa. Numa farsa em que, infelizmente, muita gente colaborou, embora não necessariamente com os mesmos propósitos ou objectivos. Apesar de o “Caso Delgado” continuar bem presente nos meios anti-fascistas, a verdade é que à época do julgamento as forças democráticas genuinamente interessadas num julgamento sério já não tinham, no plano da opinião pública, a força suficiente para impor um julgamento conforme à verdade material.

 Apesar dos esforços do Promotor de Justiça, coronel Casimiro Dias Morgado, o tribunal acabou por adoptar a tese que mais convinha ao salazarismo e à Pide, o mesmo é dizer à direita, que, depois de ter recuperado a iniciativa com o 25 de Novembro e ter passado a ser eleitoralmente maioritária com a Aliança Democrática, não estava nada interessada na constatação judicial de factos que pusessem a nu a natureza criminosa do regime do qual sob múltiplos aspectos havia sido cúmplice nem em criar mais um facto eventualmente polarizador dos que antes do 25 de Abril se bateram pela democracia. Por outro lado, sectores reaccionários das Forças Armadas entretanto recuperados, igualmente com múltiplas cumplicidades com o regime deposto, nomeadamente com o seu aparelho repressivo, acabaram por servir na perfeição aquele desígnio.

E foi assim que o tribunal acabou por impor a tese segundo a qual Casimiro Monteiro, contra o pano estabelecido, matou Delgado num impulso criminoso como reacção à impulsividade do General ao aperceber-se de que o “encontro de Badajoz” não passava de uma cilada. Ou seja: o tribunal concluiu exactamente ao contrário do que se passou. Delgado tentou reagir quando se apercebeu dos propósitos homicidas dos algozes da PIDE.

Com a “versão judicial” se inocentou (politicamente) Salazar e criminalmente Silva Pais, Barbieri Cardoso, Álvaro Pereira de Carvalho, Rosa Casaco, Tienza e Ernesto Lopes Ramos. Só o facínora Casimiro Monteiro, já a bom recato na África do Sul, foi condenado pelo homicídio.

Como na altura disse Manuel Geraldo, o julgamento de Santa Clara foi A Segunda Morte de Humberto Delgado!

Uma Revolução que, em tempo oportuno, não foi capaz de condenar um crime com a importância política  do assassínio de Humberto Delgado, responsabilizando todos os seus autores morais e materiais, era inevitavelmente uma revolução condenada ao fracasso.

2 comentários:

pvnam disse...

UMA BRINCADEIRA DE CRIANÇAS: A ditadura de Salazar é uma brincadeira de crianças... face àquilo que está na forja – a NWO:
- SENHORES NEO-FEUDAIS E MERCENÁRIOS
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-> Senhores Neo-Feudais em pânico... sempre que... se fala em SEPARATISMO tendo em vista a Sobrevivência de Identidades Étnicas Autóctones.
{nota: A superclasse ('bielderbergos', Senhores Neo-Feudais, a alta finança - capital global e suas corporações) não só pretende conduzir os países à implosão da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à implosão económica/financeira... um caos organizado por alguns... uma nova ordem a seguir ao caos... a superclasse ambiciona um neo-feudalismo}
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NOTA 1: Não-nativos naturalizados estão com uma demografia imparável em relação aos nativos... e... com o desmoronamento da base sociológica que esteve na sua origem... uma Identidade não vai conseguir sobreviver.
Ninguém acredita (bom, exceptuando os 'parvinhos-à-Sérvia' – vide Kosovo) que com a evolução demográfica em curso... Portugal (França, etc) vai conseguir sobreviver!

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NOTA 2: Quando se fala em SEPARATISMO-50-50... existem logo 'marionetas' a reagir... leia-se: o pessoal com um discurso anti-separatismo-50-50... como é óbvio, não é português, francês, coisíssima nenhuma... trata-se, tão somente, de MERCENÁRIOS ao serviço dos Senhores Neo-Feudais.
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P.S.
Uma NAÇÃO é uma comunidade de indivíduos de uma mesma matriz racial que partilham laços de sangue, com um património etno-cultural comum... uma PÁTRIA é a realização e autodeterminação de uma Nação num determinado espaço.

jvcosta disse...

O comentário anterior, ultranacionalista, xenófobo, fascista, é um exemplo de parasitismo vulgar na blogosfera. Não tem nada a ver com o post, mas aproveita o prestígio do Politeia para lhe dar difusão.

Certamente que só por falta de acesso ao blogue é que o JMCP não disse nada. Sugiro-lhe que, como faço no meu Moleskine, sujeite a publicação de comentários a moderação pelo proprietário do blogue.