quarta-feira, 28 de outubro de 2009

É DIFÍCIL RECOMEÇAR



VALHA-NOS O TEXTO DE RICHARD ZIMLER

É difícil recomeçar. Se ao fim de um longo exercício de escrita, sem interrupções, começa a escassear a originalidade, a seguir a uma paragem de quinze dias falta o ritmo. E talvez também a motivação. Nomeadamente, quando o tempo dedicado à escrita é roubado à leitura, à aprendizagem de coisas novas.
De longe fui vendo os títulos dos jornais e não fiquei com pena por não ter acompanhado as notícias de perto.
Bastou-me saber que o Benfica continuava imparável e os sportinguistas cada vez mais desesperados. Os do Porto, habituados a olhar de cima para baixo, e não para o lado, como os do Sporting, têm uma atitude mais inteligente e emocionalmente madura. Fiquei satisfeito por Hulk ter sido convocado para a selecção brasileira. Vai ser a grande estrela do mundial do ano que vem.
Claro que também fiquei contente com o apuramento de Portugal para o play-off, apesar de Queiroz e de Madaíl. Queiroz, depois da triste figura que fez, e ainda sem nada ter garantido, já diz que vai ser campeão. Não seria motivo suficiente para o substituir? Mais tarde, será tarde…
Da formação do governo, nem surpresa, nem decepção. Mais ou menos o esperado com duas notas politicamente importantes: Isabel Alçada e Vieira da Silva, de quem Sócrates muito espera, por razões diferentes. A passagem de Santos Silva para a Defesa vai finalmente permitir-nos perceber o que resta nele do famoso Comissário de Guerra que em tempos mais recuados o terá inspirado.
Veremos até que ponto irá a pormenorização do programa do governo. Provavelmente, aperceber-nos-emos do programa de cada ministério pela acção política do respectivo Ministro, à medida que a for concretizando. E, se assim for, não haverá como avaliar o programado com o realizado.
Também, pelo discurso de Sócrates, me pareceu que ele não interpretou correctamente o sentido do voto de 27 de Setembro. Com as suas palavras parece ter ratificado o que Santos Silva disse na SIC aqui há umas três semanas. Se está a contar com a fragilidade de Cavaco e a indisponibilidade da maior parte dos partidos para novas eleições em breve –factos inquestionáveis – para actuar como se tivesse maioria absoluta, vai enganar-se redondamente. É que o Parlamento, com o partido do Governo em minoria, também pode “governar”.
Finalmente, o texto de Richard Zimler, no Público de hoje, sobre as “teses” de Saramago. Jamais esquecerei o que disse Saramago em Oslo, no discurso de aceitação do Prémio Nobel: o elogio do seu Avô, homem analfabeto, como o homem mais sábio que conheceu.
Anos mais tarde, Lula, já como Presidente do Brasil, não se cansa de lutar contra o analfabetismo e de alertar para o “mau exemplo” que ele pode representar para a maior parte da juventude brasileira se não acreditar no estudo e na educação como factor primordial de erradicação da pobreza e da marginalidade.
Enfim, não temos que saber tudo, nem mesmo dominar o essencial da filosofia ocidental. Mas nada disso legitima a arrogância da nossa ignorância.

3 comentários:

anamar disse...

Bem vindo...
Bem temperado na análise e com esse futebol no coração...
Abraço
:))

FJCoutinhoAlmeida disse...

Benvindo, rapaz, já cá fazias falta. Um abraço.

Ana Paula Fitas disse...

Em boa hora, este regresso... e inspirado, como sempre! Obrigado por estar de volta :)
Abraço.