sexta-feira, 9 de outubro de 2009

O GESTO DE CARVALHO DA SILVA


COMO EXPLICAR?

Compreende-se mal que o PS que, durante quatro anos e meio, se recusou, no plano nacional, a aceitar qualquer ponto de vista da esquerda ou a com ela negociar sobre questões nevrálgicas, como o Código do Trabalho, a segurança social e outras, reclame agora, em Lisboa, o seu apoio para livrar a capital do “terrível governo de direita”. Mais: o PS não só actuou assim no passado, como já deu indícios suficientes de que continuará a agir assim no futuro. O PS está, portanto, muito preocupado com a hipotética vitória da direita em Lisboa, mas não demonstra ter a menor preocupação pelo papel dessa mesma direita a nível nacional. Tanto assim que nunca manifestou a menor vontade de se entender com os partidos e forças políticas à sua esquerda.
Durante a legislatura que agora acaba, o rosto da revolta e do combate contra a ofensiva neoliberal do PS em todos os domínios económicos da governação, foi Carvalho da Silva, Coordenador da CGTP.
É por isso com alguma surpresa que todos aqueles que durante quatro anos e meio o acompanharam na luta contra o Governo ou que concordaram com a sua acção, o vêem agora, a troco e nada, a apoiar um candidato do partido do governo para a Câmara de Lisboa com uma justificação manifestamente insuficiente.
O gesto de Carvalho da Silva exige de todos aqueles que sempre o apoiaram uma explicação mais convincente. Não por ele ser membro do PCP, facto para mim absolutamente irrelevante neste contexto, por ele ter sido, desde sempre, com toda a esquerda que o apoia, insisto, um lutador contra a prepotência económica e a descriminação social por uma política de justiça e de coesão social, em defesa dos legítimos direitos de quem trabalha. E essa luta, neste momento histórico, como em qualquer outro, faz-se contra os detentores do poder económico e contra quem, no governo, inequivocamente os apoia.
Assim sendo, a coerência política exige que o PS não possa reclamar uma solução política para a Câmara de Lisboa e outra, completamente diferente, a nível nacional. Se o PS não consegue um entendimento mínimo com a esquerda a nível nacional também não se pode exigir à esquerda que o apoie em Lisboa. Carvalho da Silva agiu de modo diferente, com base numa explicação insuficiente. O que se lhe pede, no mínimo, é que se explique.
Será Carvalho da Silva um excelente candidato a Presidente da República? Sempre achei que sim. Mas este não é o caminho. Mais uma vez relembro, agora também a Carvalho da Silva, que nunca se esqueça da história de Roma. A maior fonte política de ensinamentos de toda a história da humanidade….

6 comentários:

Francisco Clamote disse...

"Será Carvalho da Silva um excelente candidato a Presidente da República?" Concordo que sim, mas também acho que este pode ser mesmo um primeiro passo nesse caminho. Em matéria de intransigências, meu caro, estamos bem servidos e não é só de um lado. Cumprimentos.

JM Correia Pinto disse...

Meu Caro Francisco Clamote

Eu vejo as coisas assim. Gostaria que houvesse um acordo entre as forças de esquerda. Um acordo é um acordo. É uma espécie de convergência conflitual. Não serve para eu impor a minha vontade, nem você a sua. Tem de haver compromisso conforme ao peso eleitoral de quem acorda. Agora, o que não estou de acordo é que me digam: tens que me apoiar porque eu tenho um problema grave no pátio traseiro da minha casa e preciso da tua ajuda. A isso eu respondo:a melhor forma de te apoiar é pormo-nos de acordo sobre o modo de governar a casa toda. Se nos pusermos de acordo para esse efeito, a questão o pátio traseiro fica logo resolvida. Agir de outro modo é como eu convidar alguém para vir a minha casa e recebê-lo na lavandaria, não só porque não acho o convidado muito digno de entrar nos meus salões, mas também porque nos salões estão todos os outros que aceitariam muito mal a presença daquele convidado na minha casa.
CP

JOSÉ LUIZ FERREIRA disse...

Para haver um compromisso à esquerda, é preciso que cada um dos partidos tenha nos outros dois interlocutores em quem confie.

Para o BE e a CDU, António Costa é simplesmente um interlocutor mais fiável do que José Sócrates.

Eis o grande mistério explicado.

Anónimo disse...

O que está em causa em Lisboa não é só a vitória da esquerda ou da direita:é sobretudo o destino político de Santana Lopes, uma espécie de Berlusconi de via reduzida.Destes pormenores se faz a História.

Anónimo disse...

Eu estou plenamente de acordo de que concentre os votos no PS, votar útil, será o caminho mais acertado para quem se revê na esquerda. A direita é sempre perigosa em Lisboa e não de deve facilitar nada.
O Carvalho da Silva, pelos vistos não deve nada a ninguém, pensa e age por conta própria. Era o que faltava ter de que se explicar pelas suas decisões, mas...vocês lá sabem!

JM Correia Pinto disse...

Resposta ao último comentário:
"Vocês lá sabem", não sei quem são. Carvalho da Silva, como muitas outras pessoas neste país,não pode agir politicamente em nome próprio sem explicações convincentes.
Muita gente nele se revê e nele confia. Toda essa gente precisa de explicações.
E essa do "não deve nada a ninguém" é também uma forma muito singular de ver a política. Cada um é titular de muitos créditos e de muitos débitos...
Mas acho que não vale a pena continuar. O essencial está dito e explicado.
CP