sábado, 3 de outubro de 2009

A PROPÓSITO DA CAPACIDADE PARA GOVERNAR DO PRÓXIMO GOVERNO


A IRRACIONALIDADE DE ALGUNS COMENTÁRIO

Descontando os comentários tipo Pacheco Pereira, quase sempre ditados por um ressabiamento difícil de superar, muitos dos comentários veiculados pelos media sobre a capacidade para governar do próximo governo assentam num pessimismo tão irracional quanto seria um optimismo sem fundamentos ou com falsos fundamentos. Só que por razões porventura idiossincráticas o pessimismo quadra-se melhor com a mentalidade portuguesa dominante, gozando por isso de uma aceitação de princípio com que o optimismo não conta.
Não há assim muita diferença entre os que, do lado do PS, antes das eleições insistiam em nos convencer que não se poderia governar senão em maioria absoluta monopartidária e aqueles que agora, do lado da direita, teimam em prever que o próximo governo está condenado ao fracasso imediato.
A concessão de uma maioria relativa num parlamento fragmentado, à semelhança do que cada vez mais tende a acontecer na Europa – veja-se o caso da Alemanha –, deveria constituir um bom pretexto para que os intelectuais deste país fizessem, finalmente, a pedagogia da democracia. Da democracia assente em factos e não apenas em palavras vãs. Infelizmente, não é isso o que se passa, mas exactamente o contrário. Todos eles estão sumamente empenhados em demonstrar que o governo não terá qualquer hipótese de governar, não por ser este – que ainda nem sabemos bem qual seja – mas ser um governo não apoiado por uma maioria absoluta de um só partido.
Procuram-se factos passados para, com base em falsas analogias, extrair conclusões que a lógica não suporta. Admitir que a esquerda e a direita podem convergir no derrube do governo a curto prazo, parece-me uma conclusão irracional, principalmente se assente na ideia de que é preciso "correr" com Sócrates. "Correr" com Sócrates para pôr a governar quem e com que composição parlamentar?
É teoricamente admissível e praticamente confirmável que o PSD não esteja satisfeito com a sua expressão parlamentar. Mas isso de forma alguma significa que esteja tão cedo em condições de entrar numa nova aventura eleitoral. O CDS e o BE, como já aqui se disse várias vezes, estão satisfeitíssimos com os resultados eleitorais e de forma alguma estão dispostos, a curto prazo, a provocar novo acto eleitoral. Perderiam com essa insensata atitude parte da base de apoio que alcançaram nestas eleições.
O PCP pode não estar completamente satisfeito com os resultados eleitorais, principalmente por comparação com o BE e o CDS, mas já deu sobejas provas na democracia portuguesa que não embarca em aventuras, nem se deixa pressionar por estratégias alheias, pelo que acaba por ser, neste contexto, o partido mais fiável…por ser o mais previsível.
O PS, por seu turno, não pode fazer de conta que governa em maioria absoluta nem manter a arrogância da anterior legislatura e, embora conheça os constrangimentos políticos e estratégicos que impendem sobre os demais partidos, tem de ter a arte e maleabilidade suficientes para fazer uma governação próxima daquilo que o eleitor em geral espera.
Há assim condições para fazer uma governação muito mais positiva do ponto de vista do interesse geral do que a dos anteriores quatro anos e meio de Sócrates. Não se pode dizer que tudo depende do PS, embora se possa dizer que depende do PS mais do que dos restantes.

3 comentários:

jvcosta disse...

"O PS, por seu turno, não pode fazer de conta que governa em maioria absoluta nem manter a arrogância da anterior legislatura e, embora conheça os constrangimentos políticos e estratégicos que impendem sobre os demais partidos, tem de ter a arte e maleabilidade suficientes para fazer uma governação próxima daquilo que o eleitor em geral espera."

Zé, parece-me ser este o aspecto menos previsível e lógico da tua exposição, partidom a partido. É que aqui entra o factor imprevisível da velha história da rã e do escorpião, do que está na natureza. Se JS conseguir essa inflexão no seu estilo e comportamento, tenho de lhe gabar o talento político. mas também é bem possível que ele (e ministros que não têm sido apontados como de partida, como os igualmente arrogantes Santos Silva e Mariano Gago) não tenham estofo pessoal para uma governação em diálogo e compromisso, principalmente depois dos hábitos de 4 anos. É o que me palpita que venha a ser o principal factor de incerteza sobre a futura governação.

JM Correia Pinto disse...

Caro João

Tudo isso é verdade, mas sobre o PS impende uma ameaça se o partido der aso à sua concretização. Eles têm portanto que ser inteligentes e têm de perceber a nova situação. Se o não fizerem já sabem o que os espera. E é neste ponto que eu quero ser racionalmente optimista. O comportamento passado não é extrapolável para uma situação diferente. Só se o PS não perceber o que se passa e nisso eu não acredito

Anónimo disse...

Anotei, particularmente, esta passagem do seu post: "O PCP ... já deu sobejas provas na democracia portuguesa que não embarca em aventuras,...".
Não restam dúvidas de que a riqueza de tudo isto reside no facto de cada um ter o seu ângulo de visão sobre os factos, sobre as pessoas, sobre a história.

JR