QUE AFIRMAÇÃO MAIS TONTA!
Já aqui dissemos vezes sem conta que o problema mais grave da actualidade na Europa é a crise grega. Grave não apenas pelo que ela representa para os gregos, mas para todos nós, a começar pelos países do sul.
A afirmação frequentemente repetida pelos nossos governantes: “Nós não somos a Grécia”, além de pretender sugerir um distanciamento que na realidade não existe e antes encobre uma mal disfarçada falta de solidariedade, é uma afirmação politicamente pouco inteligente.
O ataque dos predadores capitalistas que manejam o capital financeiro e especulativo não se evita, nem se combate deixando isolada a presa que eles se preparam para devorar, mas, pelo contrário, fazendo com ela corpo e lutando com todos os meios à disposição para conjurar um perigo que é tanto grave quanto mais isolado estiver quem o sofre.
O objectivo que os Estados em risco desde a primeira hora deveriam ter assumido como vertente principal da sua estratégia não era o tentar demonstrar aos “famigerados” mercados que a sua situação é diferente da da Grécia – estulta pretensão, obviamente votada ao fracasso – mas o de procurar fazer prevalecer dentro da União Europeia, com o apoio das respectivas opiniões públicas nacionais, uma unidade que de facto pudesse fazer frente àqueles ataques.
Em vez de procurar “amansar” a Alemanha, a Holanda e a Áustria, o que os Estados em risco – e os Estados em risco são em maior número do que se pensa – deveriam ter feito (e devem ainda fazer) era um combate frontal dentro da UE contra aqueles que, estando do lado dos predadores, também se preparam para ganhar dinheiro à custa das vítimas.
Na verdade, a solução encontrada para a Grécia no seio da UE é uma falsa solução. Ela não desencoraja os ataques predatórios nem representa uma alternativa viável caso pudesse ser posta em prática. E não representa, antes de mais porque o preço que se está a exigir à Grécia para a pôr em prática é igualmente excessivo e a praticamente a deixa na mesma situação em que a deixariam os ataques predatórios. Depois, nem é sequer seguro que ela alguma vez possa ser posta em prática, já que a unanimidade exigida para a implementar e o prévio recurso às autorizações parlamentares que alguns já anunciaram dificultarão ou até inviabilizarão a sua exequibilidade em tempo útil.
O caminho terá de ser outro, portanto. Hoje é a Grécia, amanhã é Portugal ou a Espanha ou ambos a sofrer a fúria especulativa. Para atalhar estes efeitos, é preciso compreender sem ambiguidades a estratégia alemã e empurrá-la até às últimas consequências. O que quer a Alemanha? Primeiro que tudo Merkel não quer perder as eleições de 9 de Maio na Renânia Vestefália. Mas essa é apenas uma questão conjuntural. O objectivo fundamental da estratégia alemã é impor uma política que lhe assegure o controlo absoluto da política monetária e de crédito dentro da zona euro. Fazer do Banco Central Europeu um verdadeiro Bundesbank.
Para pôr em prática esta política a Alemanha pode não hesitar em deixar ficar pelo caminho aqueles que não acompanhem a sua passada. Mas esta estratégia tem limites. Os limites impostos por uma lógica que levada às últimas consequências se viraria contra quem a segue. Embora a saída do euro pelos países em crise não seja uma perspectiva que não tenha de ser encarada pelos próprios como uma possibilidade concretizável, ela nunca deverá ser equacionada sem que simultaneamente se questione a conveniência desta solução para os demais (ou uma parte considerável deles) que nele se mantêm. Será do interesse da Espanha, da Itália, da Finlândia, da Irlanda que alguns dos Estados da zona euro se vejam forçados a abandonar a moeda única? E aceitará a França passivamente estas consequências? Uma coisa é certa: tal como as coisas estão já não é com “paninhos quentes”, nem com os habituais falsos consensos que elas se resolvem no seio da União Monetária. É preciso um sobressalto. É preciso algo de muito mais profundo que ameace a unidade do conjunto para se ficar a perceber até onde cada um está disposto a ir.
Fugir à realidade, ignorá-la, ou, pior ainda, tentar seduzir os predadores, será sempre uma política votada ao fracasso e de funestas consequências.
Já aqui dissemos vezes sem conta que o problema mais grave da actualidade na Europa é a crise grega. Grave não apenas pelo que ela representa para os gregos, mas para todos nós, a começar pelos países do sul.
A afirmação frequentemente repetida pelos nossos governantes: “Nós não somos a Grécia”, além de pretender sugerir um distanciamento que na realidade não existe e antes encobre uma mal disfarçada falta de solidariedade, é uma afirmação politicamente pouco inteligente.
O ataque dos predadores capitalistas que manejam o capital financeiro e especulativo não se evita, nem se combate deixando isolada a presa que eles se preparam para devorar, mas, pelo contrário, fazendo com ela corpo e lutando com todos os meios à disposição para conjurar um perigo que é tanto grave quanto mais isolado estiver quem o sofre.
O objectivo que os Estados em risco desde a primeira hora deveriam ter assumido como vertente principal da sua estratégia não era o tentar demonstrar aos “famigerados” mercados que a sua situação é diferente da da Grécia – estulta pretensão, obviamente votada ao fracasso – mas o de procurar fazer prevalecer dentro da União Europeia, com o apoio das respectivas opiniões públicas nacionais, uma unidade que de facto pudesse fazer frente àqueles ataques.
Em vez de procurar “amansar” a Alemanha, a Holanda e a Áustria, o que os Estados em risco – e os Estados em risco são em maior número do que se pensa – deveriam ter feito (e devem ainda fazer) era um combate frontal dentro da UE contra aqueles que, estando do lado dos predadores, também se preparam para ganhar dinheiro à custa das vítimas.
Na verdade, a solução encontrada para a Grécia no seio da UE é uma falsa solução. Ela não desencoraja os ataques predatórios nem representa uma alternativa viável caso pudesse ser posta em prática. E não representa, antes de mais porque o preço que se está a exigir à Grécia para a pôr em prática é igualmente excessivo e a praticamente a deixa na mesma situação em que a deixariam os ataques predatórios. Depois, nem é sequer seguro que ela alguma vez possa ser posta em prática, já que a unanimidade exigida para a implementar e o prévio recurso às autorizações parlamentares que alguns já anunciaram dificultarão ou até inviabilizarão a sua exequibilidade em tempo útil.
O caminho terá de ser outro, portanto. Hoje é a Grécia, amanhã é Portugal ou a Espanha ou ambos a sofrer a fúria especulativa. Para atalhar estes efeitos, é preciso compreender sem ambiguidades a estratégia alemã e empurrá-la até às últimas consequências. O que quer a Alemanha? Primeiro que tudo Merkel não quer perder as eleições de 9 de Maio na Renânia Vestefália. Mas essa é apenas uma questão conjuntural. O objectivo fundamental da estratégia alemã é impor uma política que lhe assegure o controlo absoluto da política monetária e de crédito dentro da zona euro. Fazer do Banco Central Europeu um verdadeiro Bundesbank.
Para pôr em prática esta política a Alemanha pode não hesitar em deixar ficar pelo caminho aqueles que não acompanhem a sua passada. Mas esta estratégia tem limites. Os limites impostos por uma lógica que levada às últimas consequências se viraria contra quem a segue. Embora a saída do euro pelos países em crise não seja uma perspectiva que não tenha de ser encarada pelos próprios como uma possibilidade concretizável, ela nunca deverá ser equacionada sem que simultaneamente se questione a conveniência desta solução para os demais (ou uma parte considerável deles) que nele se mantêm. Será do interesse da Espanha, da Itália, da Finlândia, da Irlanda que alguns dos Estados da zona euro se vejam forçados a abandonar a moeda única? E aceitará a França passivamente estas consequências? Uma coisa é certa: tal como as coisas estão já não é com “paninhos quentes”, nem com os habituais falsos consensos que elas se resolvem no seio da União Monetária. É preciso um sobressalto. É preciso algo de muito mais profundo que ameace a unidade do conjunto para se ficar a perceber até onde cada um está disposto a ir.
Fugir à realidade, ignorá-la, ou, pior ainda, tentar seduzir os predadores, será sempre uma política votada ao fracasso e de funestas consequências.
Sem comentários:
Enviar um comentário