terça-feira, 20 de abril de 2010

A VULCANOLOGIA, MÁRIO LINO E SÓCRATES




TRÊS ATITUDES PERANTE O SABER

A vulcanologia, apesar de se dedicar ao estudo da origem e da ascensão da lava, das erupções presentes e passadas, ainda não adquiriu o saber suficiente para prever o futuro. Sabe tudo sobre o passado e procura ser rigorosa sobre o presente. A natureza interdisciplinar do seu saber favorece o conhecimento científico do que se está a passar, mas é ainda insuficiente para prever o que se vai passar. É, porém, este conhecimento rigoroso do fenómeno vulcânico, quando ocorre, e das suas consequências, que verdadeiramente a distingue da História, disciplina a que naturalmente estaria confinada se apenas conhecesse o passado (sempre com a vantagem, relativamente à História, de aplicar um método objectivamente científico na investigação do passado…).
Mário Lino não conhece o passado, tem notícia do presente quando já deixou de ser, não se preocupa com o futuro e o que sabe aprendeu nos jornais, apesar de saber, ele próprio o diz, que não se pode confiar em tudo o que vem nos jornais. Como cientista estaria condenado. Como homem comum, que aprende com os próprios erros ou com os erros alheios, tenderia sempre a errar uma segunda vez pela forma tardia como os conhecimentos lhe chegam. Mas para Ministro deve chegar!
SÓCRATES, conhecido por saber que nada sabe, porém, muitíssimo mais complexo, tirou vantagem de ter tido um pai escultor e uma mãe parteira. Do primeiro herdou a arte das formas (imateriais não das materiais, como se sabe), que o leva a cultivar o combate dialéctico, com toda a capacidade persuasiva e dissuasiva de que é capaz, para fazer passar melhor as suas ideias preconcebidas e semear o desconcerto entre os seus opositores. Nesta medida se aproxima dos sofistas para aparentemente logo deles se distanciar ao não reclamar para si um certa sabedoria, salvo a que paradoxalmente assenta no reconhecimento da sua própria ignorância. Todavia, ao momento irónico ou destrutivo que o aproxima dos sofistas e (de Sócrates), junta a herança da mãe que o empurra para um processo maiêutico, verdadeiro parteiro de ideias, de permanente questionamento através do diálogo com vista à descoberta da verdade em si mesma inseparável da busca de um ideal de vida, da arete moral que o leva, em última instância, a um aperfeiçoamento constante do próprio ser e a recusar esquivar-se às leis, aceitando uma condenação que tinha por injusta e inadequada. Nisto se distancia radicalmente de Sócrates, que só pensa em “safar-se de mais uma”, e dos sofistas que nunca aceitariam perder um processo e sofrer uma condenação sem simultaneamente ver ruir todo o edifício em que assentavam os seus ensinamentos.

1 comentário:

Anónimo disse...

Oh! JM : obrigado pelo deleite que usufrui ao ler tão sábias e perspicazes análises.

Até que enfim que descobri, por acaso, o Politeia.

Grande abraço.
Álvaro