terça-feira, 12 de julho de 2011

A ENTREVISTA DE BARROSO À RTP

DUAS NOTAS



É uma entrevista em que o entrevistado tem a preocupação de ser politicamente correcto, tanto do ponto de vista dos assuntos europeus, como dos especificamente portugueses. E Barroso até costuma fazer bem isso, usando a muita experiência que tem e a inteligência política que se lhe reconhece.

Mas há um pormenor: as respostas politicamente correctas não podem assentar em erros de análise. Quando Barroso diz: “Portugal tem de fazer o que lhe compete; não pode desculpar-se com terceiros; nem esperar que de fora lhe resolvam ou ajudem a resolver problemas que são seus”, simplifica o que é muito mais complexo. E as simplificações não ajudam a resolver nenhum problema.

Aparentemente não há afirmação politicamente mais correcta do que aquela. Só que, pelo menos desde Galileu, devemos desconfiar do que é evidente ou, como dizia Gedeão, homenageando Galileu, “da inteligência que Deus nos deu”. E de facto, esta afirmação não tem hoje o mesmo valor que tinha há cem anos ou sequer há cinquenta. Então, embora não fosse completamente verdadeira, ainda tinha um grande fundo de verdade. Hoje ela é tendencialmente falsa. Portugal age dentro de um contexto constituído pela acção de múltiplos actores, cujas decisões não domina, e que determinam consequências que inelutavelmente se reflectem na sua situação económico-financeira. Que sentido tem para Portugal empreender uma acção com vista a certos objectivos, se as consequências dessa acção são permanentemente alteradas pelas sucessivas mutações do contexto em que está inserido?

Portanto, hoje a verdade é exactamente a oposta: primeiro altere-se o contexto de acordo com os interesses concordantes de todos os que dele fazem parte e depois exija-se a cada um o que lhe compete.

Enquanto estas duas questões tiverem a ordem invertida, como actualmente tem, a crise só poderá agravar-se. E vai agravar-se relativamente a todos e não apenas em relação àqueles que agora já estão em grandes dificuldades.

6 comentários:

Anónimo disse...

Claro os paises da zona euro abandonaram as suas moedas para aceitar o euro pensando que dai viria a riqueza! Agora comecaram a descutir os problemas que o euro nos esta a dar. E as consequencias da saida! A Alemanha que ja pensa em sair (nao aguenta mais esta corrida ao "da-me") vais-lhes estagenar a economia com a desvalorazicao do seu marco, isso tambem sera um custo elevado a pagar. Vamos aguentar que o fim estara muito mais perto que qualquer avanco em prol de todos.

Jorge Almeida disse...

Para quem queira (re)ver, aqui vai o link da entrevista:

http://www.rtp.pt/play/?tvprog=1871&idpod=59500

JM Correia Pinto disse...

Obrigado, Jorge Almeida.

Nuno Sotto Mayor Ferrao disse...

Caríssimo José Correia Pinto,

Na verdade, os líderes Europeus não parecem com muita vontade política para acudir à crise do Euro e vão protelando as decisões. Mas, como o José Correia Pinto nos diz, só faz sentido um esforço nacional se a conjuntura mudar. É, aliás, isso que Mário Soares no seu mais recente livro ("Portugal tem saída") nos afirma considerando ser necessário que a Europa adopte outro paradigma de desenvolvimento e que caminhe para uma unidade federal para que se possa garantir a coesão social. Sem isto, o Euro está sob risco dos jogos especulativos e a Europa permanecerá com lideranças nacionalistas sem entendimento de fundo sobre verdadeiras estratégias. Subscrevo a opinião do José.

Saudações cordiais, Nuno Sotto Mayor Ferrão
www.cronicasdoprofessorferrao.blogs.sapo.pt

Luis Eme disse...

o problema são os problemas que não são nossos e que a Europa tarda em resolver...

e que o Durão não é homem para resolver.

Anónimo disse...

Dr. Correia Pinto isto e como o "Ze do Telhado" mas agora e ao contrario e roubar aos pobres para dar aos ricos!