domingo, 10 de julho de 2011

NOTAS SOLTAS DE FIM-DE-SEMANA

DO REPÚDIO AOS SILÊNCIOS

1 - Depois das múltiplas manifestações de repúdio pelos “conselhos” da Moody’s, quase a lembrar as do antigamente se tivesse havido manifestação convocada para o Terreiro do Paço, toda a gente calou a subida da taxa de juro pelo BCE, decidida em homenagem a interesses hegemónicos, com total desprezo pela situação das economias em crise, a pretexto de que é preciso combater a inflação, que nenhum estudo sério admite possa constituir uma ameaça ou sequer uma preocupação.

Sobre isto ninguém do Governo ou lá próximo disse uma palavra. Tão-pouco Cavaco se pronunciou, apesar de esta decisão indiciar uma das causas da crise da zona euro: um banco central ao serviço da economia dominante, com uma política ortodoxamente monetarista, para o qual o emprego não conta, que não atende à situação das economias periféricas, salvo quando está em jogo o interesse dos grandes.

2 - A EDP é uma das empresas desgraduadas pela Moody’s, certamente por estar muito endividada. Na semana que findou os jornais noticiaram a venda de 12,4% da EDP Brasil, na qual a EDP detinha 64,8% do capital, tendo realizado um encaixe de cerca de 329 milhões de euros.

O que os jornais não dizem é o que vai a EDP fazer com o dinheiro. Vai distribuí-lo pelos accionistas, como fez a PT quando vendeu a participação na Vivo, ou amortizar parte do seu gigantesco passivo? Se optar pela primeira via os prémios do Mexia vão subir em flecha (o tal cumprimento dos objectivos) …

Este é mais um daqueles assuntos sobre os quais ninguém fala. Com coisas graúdas ninguém se mete. O que é importante é “apanhar” a malta que anda a receber subsídio de desemprego sem ter direito a ele…

3 - Cavaco assume cada vez mais o papel de guru do Governo. A tal cooperação activa até já passa por antecipar as medidas que o governo quer tomar para descaracterizar e depois extinguir o Serviço Nacional de Saúde tal como hoje existe. E não há nada mais apelativo do que dizer que quem tem dinheiro deve pagar o serviço prestado. É um princípio que soa bem, nem parece demagógico. Todavia, se o puserem em prática ele será mau para toda a gente menos para aqueles que vão fazer dinheiro, muito dinheiro, com a saúde dos outros.

4 – Para amanhã foi marcada uma reunião de emergência do "núcleo duro" da zona euro. A situação na zona euro está a ficar explosiva. De nada adianta inventar teorias conspirativas (esta é agora a nova estratégia da direita portuguesa) para tentar explicar o que se está a passar.

É mais seguro raciocinar com base nos factos. E os factos mais evidentes são os seguintes: a zona euro foi mal concebida (os pressupostos da sua criação falharam); hoje há interesses muito divergentes dentro da zona euro; quem com ela mais ganhou não está disposto a sacrificar o que quer que seja para assegurar um certo equilíbrio, mesmo que, a prazo, tal sacrifício viesse a ser vantajoso; quem com ela mais perdeu não tem qualquer hipótese de recuperar o que perdeu, nem sequer de se reequilibrar para não continuar a perder; a Europa no seu conjunto está muito endividada em consequência da emergência de países que produzem mais, e mais barato, bens essenciais de que o mundo (Europa incluída) necessita; a América também está muitíssima endividada mas tem, ou pode ter, uma política monetária destinada a servir o conjunto sem discriminações territoriais.

Supor que o capital financeiro tem uma estratégia de médio ou longo prazo, para além daquela que em teoria lhe garanta a existência do sistema, é um erro; o capital financeiro e especulativo visa o lucro rápido, fácil e vultoso. E as últimas experiências até demonstraram que sai reforçado das crises que ele próprio provoca.


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