sexta-feira, 9 de setembro de 2011

A CONFIRMAÇÃO DE UM FALHANÇO



OS DADOS DO INE



Os elementos ontem dados a público pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) confirmam aquilo que já se sabia, mas que o Governo, ideologicamente dominado pelo neoliberalismo, teimava e teima em não ver: que a sua política económica não resolve, antes agrava, os males estruturais de que sofre a economia portuguesa.

O segundo trimestre do ano apresenta uma quebra do consumo privado como não há registo nas estatísticas nacionais, o mesmo se passando com o consumo público. Tendo, por outro lado, em conta que o investimento caiu igualmente (como não poderia deixar de ser), o destino da economia, no “bom estilo” da ortodoxia neoliberal, ficará exclusivamente entregue à sorte das exportações.

Como, porém, as exportações dependem mais da conjuntura económica internacional do que das “virtudes” de quem exporta, é de prever, face ao afrouxamento da economia dos Estados Unidos e da União Europeia, inclusive de uma provável recessão, o pior para os portugueses.

A brutal carga de impostos infligida aos contribuintes corre o risco de nem sequer, no plano puramente formal, cumprir o objectivo a que em teoria se destinava: reduzir o défice em 2011 para 5,9%, já a quebra das receitas será de tal ordem, por força da diminuição da procura interna (de certeza ainda mais acentuadas nos dois últimos trimestres), que inviabilizará aquele objectivo.

Aliás, os sinais de alarme estão por todo o lado. O BCE que ficará na história por ter subido a taxa de juros quando se desencadeou a maior crise económica depois de 1929, voltou, há pouco tempo, a incorrer no mesmo erro por temer uma pretensa subida dos preços numa conjuntura em que a situação dos países em crise da zona euro exigia uma política exactamente oposta. Ontem, Trichet já veio dizer que os juros não subiriam, decisão que mais não é do que a constatação de um falhanço: a incapacidade de as políticas de austeridade impostas na zona euro conduzirem ao crescimento. Claro que a decisão de BCE não foi tomada para não prejudicar ainda mais os países em crise, mas por nas grandes economias (a começar pela Alemanha) já haver também sinais muito evidentes de desaceleração económica.

Entretanto, a Grécia parece recusar-se a cumprir o estúpido programa de austeridade que a Troika lhe impôs…por já ter chegado à conclusão que ele apenas acrescenta recessão à recessão. As ameaças logo se fizeram sentir, por parte a Alemanha e da Holanda, a ponto de pela primeira vez se ter falado, oficialmente, na saída da Grécia do euro.

Espera-se que a Grécia resista, que não ceda, deixando levar as coisas à beira do precipício, por haver a antecipada certeza de que o “tombo” não será igual para todos: os mais fortes cairão de mais alto…

De facto, ninguém na UE pode impor a expulsão do euro. O que poderia acontecer, se à Grécia não for emprestado dinheiro, é que ela entre em bancarrota. Só que se tal acontecesse, o euro teria também os seus dias contados.

Oxalá a Grécia resista e dê uma lição aos lacaios da alta finança e aos servis “bons alunos” que já tudo perderam. Até o respeito por eles próprios…


4 comentários:

Anónimo disse...

No segundo trimestre o Governo ainda era o anterior.

JM Correia Pinto disse...

Não interesa o governo. O que importa é a política. Se agora a política ainda é mais radical que a do anterior governo, fácil será concluir o resultado.
CP

Manuel Veiga disse...

uma boa descoberta - este blog!

excelente texto.

S. Bagonha disse...

O anónimo das 3,25 estará a esquecer-se que o segundo trimestre decorreu praticamente entre o chumbo do PEC IV e as eleições legistativas de 5 de Junho? Ou isso não é importante?