quarta-feira, 14 de setembro de 2011

O BECO SEM SAÍDA DA AUSTERIDADE

A POSIÇÃO DO PS


 

O caminho que Portugal iniciou desde que ficou subordinado aos ditames da Troika é o mesmo que levou a Grécia à situação em quer se encontra. A história de todas as ortodoxias está recheada de episódios que eloquentemente negam a verdade que os ortodoxos defendem.

Com a crise do euro passa-se o mesmo. Qualquer pessoa descomprometida com a ortodoxia dominante sabe que os programas de austeridade impostos aos países devedores da zona euro agravam a sua situação económica e tornam inevitável a bancarrota. Pois se não há crescimento, se há recessão e se o rendimento das pessoas diminui e o desemprego aumenta como se poderá pagar o que se deve? Não pode. Só mesmo a cegueira ideológica pode dizer o contrário.

Infelizmente, em Portugal, o PS não se demarcou desta lógica e continua agarrado a compromissos que, a manterem-se, arrastarão o país para a catástrofe. E, bem vistas as coisas, não há hoje qualquer razão para se manter fiel àquilo com que ontem entendeu concordar.

De facto, não faltam argumentos ao PS para se distanciar do Memorandum. O PS não precisa de inventar nada, precisa apenas de reiterar aquelas que sempre foram, pelo menos no plano retórico, as suas posições sobre a forma de combater a crise: compatibilizar as políticas restritivas com as políticas de crescimento por via do investimento público.

Independentemente das muitas razões de crítica que possa haver quanto à incidência daquelas políticas restritivas e também das muitas reservas quanto às opções de investimento adoptadas bem como à sua execução, o que interessaria agora sublinhar era o princípio então defendido. Depois, o PS pode também afirmar que no Governo sempre manifestou a vontade de recusar a entrada do FMI no país contra o que então já era a vontade declarada do PSD e outras instâncias dirigentes. E retomar ainda o argumento de que somente num contexto de emergência financeira, originado pela recusa do PEC IV, se viu obrigado a assinar o Memorandum de Entendimento.

Volvidos alguns meses de execução daquele Memorandum pelo Governo PSD/CDS, o PS já dispõe de elementos suficientes para saber que a política económica nele imposta, independentemente de quem a execute, levará o país à ruína pela via da chamada profecia auto-cumprida.

De nada adianta continuar a insistir no estúpido argumento de que Portugal não é a Grécia, porque o que está em jogo nesta crise não se decide, nem depende de julgamentos morais sobre comportamentos passados, mas antes tem a ver com uma verdade bem mais prosaica que simplesmente nos diz que é impossível pagar a dívida sem crescimento económico e até sem alguma inflação. Só dando concretização prática a esta verdade, isto é, só invertendo o grau de probabilidade de reembolso dos credores relativamente ao que hoje existe, será possível “acalmar” os mercados.

Continuando a defender as políticas económicas decorrentes do Memorandum, o PS não se demarca um milímetro da acção governativa, nem tão-pouco se compreende em que consiste a nova atitude do Partido quanto à condução política nacional tão insistentemente anunciada no Congresso de Braga por António José Seguro. De facto, para além da insistente demarcação subliminar relativa à direcção política do PS no passado recente, pouco mais fica de verdadeiramente inovador quanto ao que realmente interessa. Poderá haver diferenças de imagem, mas essas só interessam ao novo Secretário Geral do Partido, nomeadamente na sua relação com a imprensa, mas pouco ou mesmo nada aos portugueses.

Assim sendo, o grande desafio que se coloca ao PS nos tempos mais próximos é sua posição relativamente às políticas do Memorandum: ou rompe com elas ou continua a apoiá-las qualquer que seja a fraseologia com que tenta disfarçar esse apoio.

Aliás, o PS parece ter memória curta. Se o PS rompesse com o apoio ao Governo na execução da política ditada pela Troika não faria nada de radicalmente muito diferente do que fez Cavaco Silva quando ganhou o congresso do PSD na Figueira da Foz. Também ele acabou com o governo do Bloco Central que era, por assim dizer, o fiel executante do acordo alcançado com o FMI.

É verdade que as situações são diferentes e que Cavaco quando rompeu já sabia dos milhões que vinham a caminho e que lhe permitiriam marcar uma diferença assinalável relativamente à situação anterior, pelo menos enquanto a “festa” durasse: passar da pelintrice à falsa prosperidade. Hoje exige-se mais. Exige-se a coragem de romper com uma política que não dá o menor sinal de poder vir a alterar-se. De facto, tudo indica que das várias hipóteses que teoricamente se perfilam quanto ao futuro da UE as preferidas por Berlim são claramente aquelas que lhe permitam separar-se do contágio das más companhias - afastando-as ou afastando-se.

4 comentários:

Francisco Clamote disse...

Estou quase inteiramente de acordo com o meu amigo, quer quanto ao resultado da actual política imposta pelo memorando, mas que tem sido levada a cabo de forma a ir além do decorrente do memorando, quer quanto à sua afirmação de que o PS não tem que ter um comportamento seguidista quanto a essa política. E, em certo sentido, até vou mais longe: o PS, em boa verdade não está vinculado ao memorando que, segundo suponho, nem sequer assinou. Quem apôs a sua assinatura no documento foi o Governo, então liderado pelo secretário-geral do PS, sim senhor, mas não consta que o que tenha feito nessa qualidade. Antes sim o fez como primeiro-ministro de um governo de gestão (num acto de duvidosa legalidade e constitucionalidade, questão que sendo embora relevante, está, todavia, ultrapassada pelo facto de o PR e os partidos actualmente no poder o aceitarem) e pressionado pelas circunstâncias criadas pela demissão do Governo, por pressão de todas as forças políticas então na oposição, incluindo o Bloco e o PCP, forças estas que em certo sentido, são mais responsáveis pela chegada da troika do que o PS. Este pormenor não deve a meu ver ser escamoteado. Cumprimentos.

Anónimo disse...

Cada vez mais me sinto cercado pelo"Salazarismo"
HL

Anónimo disse...

Com franqueza: então, rigorosamente, o PS não se deve considerar comprometido com o acordo com a Troika, porque... foi o governo do primeiro ministro José Sócrates e esse era uma espécie de sétima essência, etc.

Com estas "subtilezas", é claro que não foi o PS que desatou a gastar à tripa forra fazendo saltar a dívida para níveis incomportáveis, ele foi scuts, ele foi institutos, secretárias, vituras de topo de gama, ordenados principescos, ele foi viagens, parcerias público privadas a dar com um pau, ele foi do bom e do melhor, até a assembleia da república ficou a mais bem apetrechada do MUNDO, ele foi o presidente dessa assembleia (era do PS por acaso mas não conta para o caso!)que foi à Madeira e ELOGIOU A OBRA do sr Jardim..., o tal que fez uma obra fantástica a crédito e agora não há dinheiro para a pagar...!
Tudo uma cambada de bacocos a gastar e a fazer obra para ser paga por quem viesse e fechasse a porta...
Gastaram o dinheiro que não tinham como o fizeram outros países que agora estão aflitos e não têm com que pagar e agora? Abrem falência? Comportam-se como uns badamecos safados sem honra, nem responsabilidade. Circulam em autoestradas, têm serviços de cinco estrelas quando não trabalharam para os merecerem?
Agora a culpa é do capitalismo? E só do sistema? E andaram dentro do sistema a servir-se dele e agora não querem pagar a conta?
Ai, a culpa não é de excesso de gastos. Os portugueses tinham direito a usufruir dos mesmos direitos e proventos dos países que não podem endividar-se para além de certos limites e que são disciplinados.

E agora ninguém responde por esses desvarios? O sr. Sócrates vai para Paris estudar filosofia para fazer condizer a vestimenta com o nome? Já se aperceberam do ridículo e da saloice?
Ainda não vi uma sensata via que tenha sido avançada para a saída desta crise.
Esses senhoritos do PS que se calem porque chamaram nomes há vários anos a quem advertiu para a irresponsabilidade da continuação do aumento e descontrolo da dívida.
Quando ficarem no desemprego sem subsídio ou quando deixarem de receber as suas pensões , quero o ver a que se agarram.
Honório Campos da Silva

Anónimo disse...

Caro Honório C. Silva, o Sr. tem carradas de razão; repare, no entanto, que é essa gente que o Sr. Dr. Correia Pinto defende e apoia, ora veladamente, ora à descarada, continuando, contudo, a viver à custa do sistema que tanto critica.