terça-feira, 13 de setembro de 2011

O EURO À BEIRA DO COLAPSO



QUANTO MAIS TEMPO VAI DURAR ISTO?

 As chamadas construções “voluntaristas” estão sempre, mais tarde ou mais cedo, votadas ao fracasso. A História tem-no demonstrado com um número exuberante de exemplos a que ninguém costuma dar atenção, salvo quando a situação já se tornou irremediável.
A criação da moeda única europeia é um desses “voluntarismos” construídos à revelia de toda a lógica política e até económica. Percebeu-se - melhor, a França percebeu - que o fim do comunismo na Europa tornava inevitável a reunificação alemã e que esta, mais cedo ou mais tarde, faria da Alemanha um Estado verdadeiramente independente.
Mais: desta vez, por força de todas as circunstâncias que rodearam o fim da II Segunda Guerra Mundial, o tal Estado do “meio da Europa”, que por várias vezes tinha emergido e outras tantas sucumbido, seria um Estado fortíssimo economicamente. Um Estado como antes nunca tinha havido.
E percebeu-se também que a guerra como modo tradicional de resolver os conflitos políticos estava definitivamente afastada entre Estados muito poderosos pela devastação que os novos meios bélicos, à disposição desses Estados, necessariamente causariam aos respectivos contendores.
Essa a razão porque, perante várias inevitabilidades, a França entendeu que a moeda única seria o meio mais adequado para “acantonar” a Alemanha no novo quadro político criado pela desagregação da União Soviética. Pensou-se que da criação de uma moeda única, a culminar a construção de um grande mercado interno, resultaria uma tal teia de ligações entre os membros da Comunidade Europeia, doravante também chamada União, posto que sem natureza federativa, que tornaria indissolúvel a “construção” assim criada e seria, por via dela, possível manter politicamente as coisas na Europa de modo sensivelmente idêntico ao que existira desde fim da II Guerra Mundial, ou mas precisamente, desde 1958 até então.
A construção assim criada veio a revelar-se, ao fim de pouco mais de dez anos, não só artificial, porque não assentava em qualquer base política séria capaz de lhe assegurar consistência, como economicamente calamitosa pelas desigualdades que acentuava e os desequilíbrios que consolidava, embora os dois aspectos estejam indissociavelmente ligados.
Quando as consequências desta construção artificial começaram a aflorar à luz do dia e pouco depois a manifestar-se com a crueza que os factos hoje revelam, começou por se dizer que cada um deveria cuidar de si e que as situações verificadas mais não eram do que o resultado de mentalidades culturalmente impreparadas, financeiramente indisciplinadas e economicamente incapazes de se integrarem num grandioso projecto de conjunto. Pouco depois começou a haver a percepção, sem que contudo as censuras morais tivessem terminado, de que as tais situações indiciadoras de profundos desequilíbrios se não fossem de algum modo ”atalhadas” nas suas consequências mais graves poderiam afectar a própria estabilidade do conjunto que corria o risco de ruir como um castelo de cartas.
Optou-se então por medidas de natureza paliativa, mesmo assim acompanhadas de severas restrições que, mais do que “disciplinar e educar” os "prevaricadores", apenas serviam para acentuar e agravar ainda mais os tais desequilíbrios.
E como tais desequilíbrios, inicialmente circunscritos aos países mais pequenos e economicamente pouco representativos, passaram a manifestar-se nas grandes economias, com o risco de alastrar a quase todas, com excepção de apenas quatro, estas – ou melhor, a mais forte destas - a Alemanha -, começou a dar sinais cada vez mais evidentes de já ter um plano B susceptível, embora com algum prejuízo, de rapidamente ser posto em prática para evitar o que a sua opinião pública considera ser um prejuízo muito maior: o pagamento das dívidas de todos os endividados ou a maior parte delas.
Tal plano B poderá não começar a executar-se amanhã, mas acabará por se tornar inevitável a curto prazo quando a crise, além dos Estados, começar também a atingir dramaticamente a solvabilidade dos grandes bancos.
A ideia que alguns perfilham de que será a crise económico-financeira a potenciar a união política da Europa é ainda mais tonta do que a presidiu à criação do euro nas concretas condições em que foi criado.
O que virá a seguir ninguém sabe, embora o acontecimento mais próximo que se pode ter como referência seja o desmoronamento do padrão-ouro.

1 comentário:

Anónimo disse...

Pois, tudo muito bem escrito e mais ou menos consensual sobre o passado do "processo". E,agora, que alternativas ao "eixo" franco-alemão, cujo apagamento ou desaparecimento algumas personalidades alemãs já vêm defendendo ainda que de mansinho e matizadamente?

LG