A CRISE VISTA DE LONGE
AGENTES PROVOCADORES - A suspeita de que os desacatos de 24 de Novembro, nas escadarias da Assembleia da República, foram desencadeados por agentes provocadores da polícia, bem como o momento em que os mesmos tiveram lugar – depois das intervenções das organizações sindicais – apenas serve para confirmar aquilo de que se suspeitava: o establishment tem muito mais medo dos “indignados” do que dos sindicatos.
O PARADIGMA BUROCRÁTICO E A CRISE EUROPEIA – É com algum constrangimento que nas discussões oficiais ou oficiosas sobre a Europa, mesmo as realizadas em meios teoricamente pensantes, se assiste da parte dos principais intervenientes à repetição acrítica do acervo argumentativo da burocracia europeia, que já tinha entre nós dominado o debate europeu nos distantes tempos das “vacas gordas”.
As vantagens, as famosas vantagens da adesão, estão hoje cada vez mais distantes para a generalidade das pessoas que suportam a crise. Hoje o que conta, o que está à vista de todos, são as desvantagens.
A invocação muito abstracta do interesse nacional também não traz qualquer contributo positivo à discussão. Mais valeria definir o interessse de que se fala, analisá-lo, explicitá-lo para se perceber melhor o raio social da sua incidência. De facto, a actual situação interessa indiscutivelmente às classes médias abastadas - pouco atingidas pela crise -, às grandes empresas de distribuição - que todos os dias agravam a crise aumentando o défice nacional de conta corrente -, e às grandes prestadoras de serviço actuando em monopólio ou opligopólio, em qualquer caso em grande medida à margem da concorrência – grandes responsáveis, juntamente com os bancos, pela dívida privada portuguesa.
É difícil na actual conjuntura e nos seus desenvolvimentos previsíveis encontrar outros interesses que possam aguentar por tempo indeterminado a presente situação.
Portugal precisa de um rasgo político que não se vislumbra da parte dos principais agentes político-económicos, todos à espera que a Alemanha resolva a situação.
Além de que a crise do euro ou da dívida, ou do que queiram chamar-lhe, é muito mais profunda do que parece. E essa pode ser uma vantagem para Portugal...
AS ENTREVISTAS DE MÁRIO SOARES E DE PASSOS COELHO NA SIC – Mário Soares esteve melhor do que noutras ocasiões. Está igual a si próprio sempre que os fantasmas que povoaram a sua luta política e os seus ódios de estimação não são esquecidos. Não mudar ao sabor da conjuntura é uma qualidade rara nos tempos que correm. E mesmo quando quer ser politicamente correcto ao referir-se ao presente socialista lá está o “acto falhado” a repor a verdade das coisas. De facto, confundir Seguro com Passos Coelho não é realmente uma confusão.
Passos Coelho do muito que falou só fica uma certeza: da actual política apenas se pode esperar "pior do mesmo".
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