segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

A “WELTHAUPSTADT GERMANIA” E A REFUNDAÇÃO DA EUROPA




HÁ ALGUM PARALELISMO NISTO?

Naqueles amores e desamores que pontuaram a relação de Hitler com Albert Speer nos últimos meses do nazismo, há uma cena fantástica que não pode deixar de ser lembrada nos dias que correm.

Hitler, arquitecto frustrado, e Speer, jovem arquitecto vedeta do Partido nazi, travaram conhecimento logo nos primeiros meses da ascensão ao poder do NSDAP por causa da arquitectura.

A Speer começaram por ser atribuídos alguns trabalhos menores, mas depois do êxito alcançado com a coreografia do Congresso de Nuremberga, o jovem arquitecto caiu definitivamente nas boas graças de Hitler, vindo a desempenhar, primeiro em áreas afins à sua profissão e depois como gestor omnipotente do esforço de guerra, um dos mais relevantes papéis de toda a nomenclatura nazi.

Sem entrar em descrições sobre a carreira de Speer no partido nazi, que agora não vem ao caso, importa dizer que depois da edificação da nova chancelaria, gizada por Speer, em estreita colaboração com Hitler, ambos projectaram ainda em tempo de paz uma faraónica reconstrução de Berlim de modo a torná-la na mais imponente e grandiosa capital que alguma vez o mundo havia visto.

Os planos foram feitos - há cerca de três anos até houve uma exposição sobre o tema em Berlim, “Welthauptstadt Germania”) – mas a sua execução nunca se iniciou, primeiro, porque, não obstante a natureza do regime, havia dificuldades de monta a superar em virtude do elevadíssimo número de edifícios que teriam de ser demolidos e depois porque sobreveio a guerra e com ela a impossibilidade prática de os trabalhos se realizarem.

Mas a ideia de uma Berlim arquitectonicamente gigantesca nunca foi abandonada por Hitler até ao fim dos seus dias.

Quando o ditador nazi já estava completamente cercado no bunker de Berlim com a cidade destruída pelos bombardeamentos aliados e com o Exército Vermelho a poucos quilómetros da chancelaria, Hitler, numa das últimas visitas que Speer lhe fez, depois de resolvidos ou atenuados alguns problemas graves entretanto surgidos entre ambos, não se conteve e voltou a falar de arquitectura com o seu interlocutor predilecto.

Segundo Hitler, estavam agora criadas as condições, depois de vencida a guerra, para pôr finalmente em execução os planos que transformariam Berlim na mais grandiosa capital alguma vez existente.

Será que existe algum paralelismo entre esta cena surrealista e os encontros de Merkel com Sarkozy para a refundação da Europa e do euro?

Há, pelo menos, duas diferenças: Merkel não terá por Sarkozy a admiração (ou talvez mais do que isso…) que Hitler nutria por Speer e Sarkozy nem de perto nem de longe está tocado pelo génio que aureolava Speer.

3 comentários:

MT disse...

Gosto do seu blog e tenho-o aconselhado vivamente a alguns colegas do ciberespaço. Devo dizer no entanto, que este post é particularmente infeliz. Comparar a Alemanha de hoje com a do período nazi, é um exercício de profundo desrespeito pelas milhões de pessoas que morreram ao abrigo dessa ideologia. Sejamos honestos e sérios na abordagem que fazemos aos assuntos.....

JM Correia Pinto disse...

Meu Caro Marco MT
Confusão sua, como pode constatar relendo melhor o que está escrito. A comparação não é entre a Alemanha de Hitler e a Alemanha de hoje. Reconhecerá que o A do blogue não será assim tão ignorante nem tão pérfido. A comparação é entre duas situações em que o tema (a realidade) objecto da conversa está fase de quase completa destruição e numa das ocasiões sonha-se com a possibilidade de a partir dessa destruição fazer uma coisa nova, como se aqueles que estão a assistir à destruição ainda viessem a ter no futuro qualquer papel; e na outra, uma proposta não menos surrealista, de tentar refundar com sanções uma situação que, por um lado, deveria ser acudida de imediato com medidas de emergência, e que, por outro, é, na mesma medida, da responsabilidade de todos - dos deficitários e dos excedentários - não havendo, portanto, nenhuma razão, e muito menos agora, para falar em sanções, principalmente sem terem previamente sido criadas as condições destinadas a evitar que a situação se repita.
Mas mesmo para quem não concorde com a análise que aqui se tem feito sobre a dívida - a nosso ver a única correcta - a actual "démarche" de Merkel Sarkozy sempre seria comparável à de dois bombeiros que em vez de apagarem o fogo que está a consumir vários edifícios exigem, antes de actuarem, se faça o apuramento das responsabilidades sobre as causas do incêndio em vez de pura e simplesmente o extinguirem.
Compreendido, agora?
Talvez não tenha sido suficientemente claro no post que escrevi, talvez tenha sido exageradamente elíptico.Uma questão de estilo...
Peço desculpa.
CP

MT disse...

Obviamente, tenho por si a maior empatia intelectual, daí ser seu assíduo leitor. A análise que faz à actual situação social, política e económica é absolutamente lúcida e acertada, no meu ponto de vista. Parece-me no entanto inadequado ressuscitar os ideais imperialistas da Alemanha Nazi e ancorá-los na actual situação. Muitos comentadores políticos o têm feito, nomeadamente a Clara Ferreira Alves, por exemplo. Reli novamente o seu artigo e de facto há um sentido hiperbólico que porventura não assimilei e daí o meu primeiro comentário ter sido exagerado. Não há realmente um paralelismo linear e claro. Findando o assunto, mais uma vez devo parabenizá-lo pelo seu blog, agradecendo a sua resposta. Espero que aqueles que procuram a leitura de informação e crítica política séria e de qualidade possam continuar a usufruir do seu inestimável contributo.