terça-feira, 6 de março de 2012

OS FUNDOS DO QREN



A AUSTERIDADE ACIMA DE TUDO!

 Tudo no Governo corria num mar de rosas. Depois de oito meses de exercício de funções ainda não se sabia quem geria os fundos do QREN. Nem fazia falta saber-se já que eles não eram para gastar. Mas eis que o Álvaro começa a ser pressionado para dar dinheiro às empresas depois de na Europa certas vozes de direita terem alertado para os perigos da austeridade e de a Espanha ter feito o que  fez. Os patrões sentiram-se com força para exigir do Governo algo mais do que a eliminação dos direitos de quem trabalha. Querem o dinheiro do QREN. Percebem que sem negócios de pouco ou nada nada vale a mão-de-obra sem direitos. E assim se começa a falar num tema que estava silenciado desde que este Governo para lá foi.
E então surgiu a grande divergência. O Álvaro levou o assunto a Conselho de Ministros, num dia em que o Coelho não estava por cá, e exigiu que as Finanças disponibilizassem as verbas nacionais indispensáveis para a utilização daquele dinheiro.

E foi então que o Vítor teve de pôr os pés à parede e dizer: “Nesse dinheiro ninguém toca sem minha autorização”. E logo todos perceberam que, afinal, aquele dinheiro não era mesmo para gastar.
O raciocínio do Vítor foi muito simples: as receitas esperadas não vão ser arrecadadas, a diferença entre as despesas e as receitas vai ser superior à prevista, mesmo que as despesas se mantenham dentro das previsões; assim, para manter os números acordados com a Troika vai ser necessário impor mais austeridade, seja cortando nas despesas seja aumentando os impostos, ou uma coisa e outra; portanto, não há dinheiro paras co-financiar os “projectos do QREN”.
Perante esta argumentação, o Paulo olhou para os seus e pensou: “Se a Cristas despejar uns cento e cinquenta mil velhos e o Mota Soares conjugado com o Macedo conseguir que a gripe se prolongue até Junho, talvez se obtenha uma considerável redução da despesa sem necessidade de mais medidas de austeridade e até sobre alguma coisa para o Álvaro dar aos patrões”.
Estava o pavoneante Paulo nestas congeminações e o ousado Álvaro a tentar, sem papel, balbuciar mais umas quantas frases sobre a necessidade de, pelo menos, o Governo dar a impressão de estar a fazer alguma coisa pelo crescimento, quando o Vítor arrumou a conversa com um argumento definitivo.
Não podemos de forma nenhuma dar a ideia à Merkel nem aos alemães de que a “farra recomeçou”. Eles não podem ter nenhuma espécie de dúvida sobre a interiorização da nossa culpa nem sobre a expiação que continuamos dispostos a fazer dos nossos pecados. Enquanto o programa da Troika se mantiver em execução quem ousar desafiar as metas nele previstas não tem lugar neste lado de cá da barricada”.
Interrompeu de seguida a reunião e telefonou ao Coelho, contando-lhe o que se passara. Perante argumentação tão concludente, nomeadamente a invocação de Merkel, o Coelho também não teve dúvidas. Chamou de imediato o Relvas, já algo impaciente com esta falta de negócios e, peremptoriamente, disse-lhe: “Diz ai no Conselho que quem manda nos fundos do QREN é o Vítor. Chama o Álvaro de parte e dá-lhe a entender, mas de maneira que ele perceba, que se continuar a fazer ondas com este assunto será de imediato devolvido a Vancouver e far-se-á por cá uma tal campanha sobre a sua incompetência que nem o Ruas o receberá quando ele voltar de férias a Viseu”.
E assim, com mais esta vitória, se encerra o glorioso período iniciado com a avaliação da execução do Memorando da Troika feita no fim do mês passado.
SPARPOLITIK ÜBER ALLES!

10 comentários:

Francisco Clamote disse...

Bom relato da reunião do CM. Se não foi exactamente assim, a narrativa deve andar lá por perto.

Ana Cristina Leonardo disse...

excelente resumo

Ana Paula Fitas disse...

Brilhante!... de facto, a previsibilidade das dinâmicas desta "equipa" não permite que lhe possamos atribuir outro grau de responsabilidade social (ou sequer económica), para além do que é aqui ilustrado.
Um abraço.

Graza disse...

Como este post me fez rir!... Brilhante na fala que atribuiu aqueles comparsas… :))) “Se a Cristas despejar… e se o Mota conseguir ….”, mais aquela do Relvas… de Vancouver… e do Ruas :))) Não fosse isto dramático, diria que tenho vergonha de me ter feito rir tanto.

Anónimo disse...

Brilhante o guião!!!
(das berças)

Anónimo disse...

Assim, explicadinho, até eu entendo.
A sério...

A.M.

Ana Cristina Leonardo disse...

uma sugestão: colocar no final dos posts aqueles bonequinhos que permitem linká-los directamente para o facebook e etc. poupava-me o trabalho do copy/paste.
:-)

Anónimo disse...

Se non è (exactamente) vero è ben trovato.

Luis Eme disse...

e nada do sabujo Relvas?

o castendo disse...

Será coincidência o facto de parte significativa dos assessores dos gabinetes do ministro da economia e respectivos secretários de estado ser oriunda da CIP?