A ENTREVISTA AO EXPRESSO E UMA QUESTÃO CONEXA
As palavras de António Mexia ao Expresso sobre a dívida da EDP são apenas o pretexto para abordar um dos temas que ultimamente mais tem sido tratado por alguns comentadores: a relação entre a dívida pública portuguesa e espanhola.
Diz Mexia que a dívida da EDP é consequência do agravamento da dívida soberana. É preciso de facto uma grande “lata” para fazer tal afirmação.
Os exemplos que por todo o lado conhecemos dizem exactamente o contrário. Não só a dívida pública é, por todo o lado, inferior à privada, como muita da dívida pública acumulada nos últimos anos é consequência directa ou indirecta da privada.
É consequência directa naqueles casos em que ela resulte de resgates bancários, como aconteceu na Irlanda, como aconteceu em Portugal, em muito menor escala, e como pode vir a acontecer em Espanha, sem esquecer os grandes Estados que tiveram de fazer resgates bancários gigantescos, como os EUA, o RU e a própria Alemanha.
É consequência indirecta em todos aqueles casos – e é o que acontece em todo lado – em que o aumento da despesa pública, nomeadamente a de natureza social e a de relançamento da economia, está relacionado cm a crise financeira e suas consequências.
Qualquer pessoa minimamente informada sabe isto. Não é preciso ganhar milhões de bónus em cada ano em empresas excessivamente endividadas para ter acesso a este tipo de conhecimentos.
Directamente relacionada com esta questão há uma outra que nos últimos tempos tem vindo a ser objecto de análises simplistas. Diz ela respeito aos juros pagos por Portugal e pela Espanha para se financiarem no mercado de capitais.
A maior parte dos nossos comentadores, para justificar a diferença de taxa de juro entre os dois países, diz, naquele tipo de linguagem que já começa a enjoar, que a Espanha soube fazer o seu “trabalho de casa”, reconheceu a crise muito primeiro que Portugal, sendo estas as razões que justificam a diferença nas taxas de juro pagas por um e outro país.
Tal justificação não tem o menor fundamento. Nem aqueles que a fazem tratam de a justificar com factos. Ou seja, estão a mentir.
De facto, a Espanha não reconheceu a existência da crise primeiramente que Portugal. Pelo contrário, já a crise ia alta e ainda Zapatero numa extensa entrevista a El País recusava aceitar a existência de qualquer crise. Foi e continua a ser muito criticado por esta sua posição.
Depois é também falso que a Espanha tenha tomado medidas de austeridade mais duras do que as portuguesas. Não são: nem no que respeita às receitas (impostos) nem no que toca às despesas (os cortes sociais em Portugal são incomparavelmente mais gravosos do que adoptados em Espanha).
Por outro lado, os índices macroeconómicos mais frequentemente citados são em Espanha mais negativos do que os portugueses: crescimento inferior ao de Portugal; défice superior ao de Portugal, tanto o apurado como o esperado; desemprego, muito mais alto lá do que cá.
Então, por que paga o tesouro espanhol juros inferiores aos de Portugal para se financiar?
Em primeiro lugar, porque a dívida espanhola é inferior à média europeia. O grande ónus que sobre ela impende é, como cá, a ausência de crescimento económico e de redução do desemprego. Pior ou tão grave, é ainda a suspeita de que parte da dívida privada (principalmente a bancária) pode tornar-se pública. Por isso, é que a Espanha está tão interessada no aumento do Fundo Europeu e na sua flexibilização.
Em segundo lugar, a relativa moderação da subida de taxa de juro da dívida pública espanhola é a consequência de uma espécie de prudência dos ditos “mercados” que sabem muito bem o que poderia acontecer se houvesse ameaça de bancarrota da Espanha…
As palavras de António Mexia ao Expresso sobre a dívida da EDP são apenas o pretexto para abordar um dos temas que ultimamente mais tem sido tratado por alguns comentadores: a relação entre a dívida pública portuguesa e espanhola.
Diz Mexia que a dívida da EDP é consequência do agravamento da dívida soberana. É preciso de facto uma grande “lata” para fazer tal afirmação.
Os exemplos que por todo o lado conhecemos dizem exactamente o contrário. Não só a dívida pública é, por todo o lado, inferior à privada, como muita da dívida pública acumulada nos últimos anos é consequência directa ou indirecta da privada.
É consequência directa naqueles casos em que ela resulte de resgates bancários, como aconteceu na Irlanda, como aconteceu em Portugal, em muito menor escala, e como pode vir a acontecer em Espanha, sem esquecer os grandes Estados que tiveram de fazer resgates bancários gigantescos, como os EUA, o RU e a própria Alemanha.
É consequência indirecta em todos aqueles casos – e é o que acontece em todo lado – em que o aumento da despesa pública, nomeadamente a de natureza social e a de relançamento da economia, está relacionado cm a crise financeira e suas consequências.
Qualquer pessoa minimamente informada sabe isto. Não é preciso ganhar milhões de bónus em cada ano em empresas excessivamente endividadas para ter acesso a este tipo de conhecimentos.
Directamente relacionada com esta questão há uma outra que nos últimos tempos tem vindo a ser objecto de análises simplistas. Diz ela respeito aos juros pagos por Portugal e pela Espanha para se financiarem no mercado de capitais.
A maior parte dos nossos comentadores, para justificar a diferença de taxa de juro entre os dois países, diz, naquele tipo de linguagem que já começa a enjoar, que a Espanha soube fazer o seu “trabalho de casa”, reconheceu a crise muito primeiro que Portugal, sendo estas as razões que justificam a diferença nas taxas de juro pagas por um e outro país.
Tal justificação não tem o menor fundamento. Nem aqueles que a fazem tratam de a justificar com factos. Ou seja, estão a mentir.
De facto, a Espanha não reconheceu a existência da crise primeiramente que Portugal. Pelo contrário, já a crise ia alta e ainda Zapatero numa extensa entrevista a El País recusava aceitar a existência de qualquer crise. Foi e continua a ser muito criticado por esta sua posição.
Depois é também falso que a Espanha tenha tomado medidas de austeridade mais duras do que as portuguesas. Não são: nem no que respeita às receitas (impostos) nem no que toca às despesas (os cortes sociais em Portugal são incomparavelmente mais gravosos do que adoptados em Espanha).
Por outro lado, os índices macroeconómicos mais frequentemente citados são em Espanha mais negativos do que os portugueses: crescimento inferior ao de Portugal; défice superior ao de Portugal, tanto o apurado como o esperado; desemprego, muito mais alto lá do que cá.
Então, por que paga o tesouro espanhol juros inferiores aos de Portugal para se financiar?
Em primeiro lugar, porque a dívida espanhola é inferior à média europeia. O grande ónus que sobre ela impende é, como cá, a ausência de crescimento económico e de redução do desemprego. Pior ou tão grave, é ainda a suspeita de que parte da dívida privada (principalmente a bancária) pode tornar-se pública. Por isso, é que a Espanha está tão interessada no aumento do Fundo Europeu e na sua flexibilização.
Em segundo lugar, a relativa moderação da subida de taxa de juro da dívida pública espanhola é a consequência de uma espécie de prudência dos ditos “mercados” que sabem muito bem o que poderia acontecer se houvesse ameaça de bancarrota da Espanha…
2 comentários:
Pelo que tenho ouvido da situação espanhola, as contas do Estado vinham sendo superavitárias nos últimos anos antes da borrasca -uma grande diferença em relação a nós-. Depois, outro dado saliente foi a vertigem que se apoderou do sector imobiliário em que o grosso das culpas parece dever ser imputado aos anos da virtuosa gestão do PP. (será sempre curioso reter um dado: a produção espanhola neste sector ultrapassava a da França, R.U. e Alemanha juntas!!!). Decorrente desta temeridade a crise mais ou menos latente como diz o autor do sector bancário que trás os banqueiro do mundo com o coração num punho. (Sobre esta questão, contrariamente ao que vem sendo propalado, a crise do imobiliário em Portugal ainda não foi completamente exposta, é o que me parece)
Mas o problema da Cajas resultará não só deste colapso mas também da sua gestão pelas boyadas lá dos sítios. Pelo que também tenho ouvido a contabilidade criativa é prática corrente com a agravante das prerrogativas de que gozam as chamadas autonomias. A propósito das Cajas, ainda estou para ver o que se irá passar nas chamadas C.C.Agricola, não me cheira a coisa boa!
Sobre a redução dos apoios sociais concordo com o autor além de que esses apoios eram mais consistentes, veja-se, por exemplo a elevadíssima qualidade dos serviços de saúde de acesso universal e que no essencial se estão a manter.
LG
Caro JM Correia Pinto,
Peço desculpa pela falta de conhecimento, mas quando refere a 1ª razão para a taxa de juro espanhola ser inferior à nossa, está a dizer que a dívida soberana espanhola é inferior à Portuguesa?
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