quarta-feira, 23 de março de 2011

CAVACO FALOU ...E CAPITALIZOU


CAVACO ACABARÁ POR ACTUAR NO TEMPO POR ELE ESCOLHIDO

Enquanto Sócrates, outrora tão arrogante, implora clemência, pedindo a outros que, por ele, façam apelos dramáticos, e Amado se distancia do partido por desprendimento (da actual situação, ele esqueceu-se de dizer), Cavaco capitaliza os apelos lancinantes de Mário Soares, ao qual já hoje respondeu.
Primeiro responsabilizou o Governo pela crise e depois, bem interpretado, quis dizer: “Agora, o mais importante é vermo-nos livres de Sócrates; depois de alcançado esse objectivo voltaremos a conversar. E eu estou a reunir informação e apoios para poder actuar como convém”.
Mais avisado, Sampaio não apelou ao Presidente, deixando no seu apelo a ideia de que por mais complicadas que as coisas sejam há limites que se não devem ultrapassar.
A situação que hoje se vive é a um tempo surrealista e simultaneamente muito racional. Depois do PEC apresentado em Bruxelas por Sócrates, a ideia com que a direita imediatamente ficou foi a de que é muito difícil algum futuro governo enunciar, no curto prazo, um conjunto de medidas mais à direita do que aquelas que o PS vai amanhã levar ao Parlamento. Isto aliado à perda completa de confiança no actual Primeiro-Ministro, por aqueles que até gostariam que ele continuasse mais um pouquito, animou o PSD a ir para eleições, já que muito dificilmente o seu PEC será mais impopular do que este.
Aliás, o PEC de Sócrates até deu uma nova alma a Portas, que aproveita a ocasião para, eleitoralmente, se distanciar do PSD e do PS, a tal ponto que, com um pouquinho mais de esforço, até teríamos no CDS o reservatório nacional de neo-keynesianismo indispensável à superação da crise.
Ou seja, tudo isto não passa de uma grande farsa. Porque, ao contrário do que hoje disseram alguns “ilustres comentadores” na SIC N, o PEC não tem apenas uma dimensão quantitativa, ele tem também uma importante dimensão qualitativa. Para Bruxelas não é nada indiferente o modo como se atingem as metas com que Sócrates e Ministro das Finanças se comprometeram. O PEC tem uma inegável dimensão ideológica e somente dentro desse mesmo enquadramento serão possíveis pequenas variações. Ou não foi isso o que já disseram os Presidentes do BCE e do Eurogrupo? Para eles o PEC já está apresentado, é aquele e não outro. Aliás, quem ditou as “guide lines” para a sua elaboração foi a Comissão. Portanto, a conversa a que estamos a assistir é da parte destes três partidos uma conversa que não têm nada a ver com o PEC.
“Ambos os três”, como diria em português de lei, um conhecido presidente de um clube desportivo, o que querem é estar perto do “pote”, na certeza de que o PS já preparou o caminho para quem vier a seguir. De facto, na ideia das pessoas o que vai ficando da conversa que vão ouvindo é de que pior do que Sócrates não é fácil. E o CDS, que quer ser governo, até se dá ao luxo de defender crescimento económico, ou seja, uma política contrária à imposta pela Alemanha de Merkel. Portanto, já vale tudo!
No meio desta confusão, Cavaco pensa estarem reunidas as condições para desempenhar um papel que antes não teve oportunidade de pôr em prática, embora tudo dependa, em primeiro lugar, de haver ou não eleições e, caso haja, dos resultados eleitorais.
Se, rejeitado o PEC e demitido Sócrates, no PS se criar uma corrente de opinião na esteira das declarações de Luís Amado, pode acontecer que Cavaco não dissolva o Parlamento e se forme um governo bem diferente do actual. Tudo vai depender da força da gente de Sócrates, já que os outros partidos, se não houver oposição do PS, não terão grande margem para contrariar Cavaco. E então teríamos o que muitos andam a pedir, um Presidente muito intervencionista.
A segunda hipótese de intervencionismo de Cavaco poderia resultar de um acto eleitoral do qual não saísse uma maioria absoluta viável.

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