OS PERIGOS DO IMPASSE
A situação na Líbia não é igual à da Tunísia, nem do Egipto, disse Saif El Islam, filho de Kadhafi, numa arrogante intervenção televisiva.
A intervenção foi arrogante, feita por quem não estava minimamente habituado a lidar com o contraditório qualquer que seja a forma que ele revista. Mas revelou-se, tem-se revelado, verdadeira.
A Líbia está em guerra civil. A Europa e mais ainda a América habituadas a lidar monocromaticamente com os efeitos internacionais decorrentes da acção dos “povos inferiores”, embora no passado tivessem apoiado Kadhafi, como grande aliado nessa visão unilateral do mundo, e até gostassem de poder continuar a contar com ele, tanto pelo excelente petróleo que lhes proporcionava, como pelo papel de “Kapo” que lhes prestava no “escorraçamento” de imigrantes, além de, por interesses do próprio, ser um valioso bastião contra a Al Quaeda, viram-se por hipocrisia obrigadas a alinhar contra Kadhafi, supondo que a revolta da Líbia tomaria, mais dia, menos dia, o mesmo curso da dos seus vizinhos de leste.
Aparentemente enganaram-se. E como sempre acontece nestas coisas, quando a aposta é forte e o jogo corre mal, a tentação do jogador é reforçar a aposta.
Nada, porém, pior para o Ocidente do que continuar nesta espiral de ameaças. A guerra civil é, deve ser, em qualquer parte do mundo, um assunto que tem de ser resolvido pelos contendores. Nenhuma norma ou princípio do direito internacional permite a terceiros interferir no conflito, salvo as acções de natureza humanitária que são, na sua genuinidade, acções pacíficas, não militares.
Não intervenção não significa necessariamente cruzar os braços. Não intervenção significa não envolvimento no conflito com forças militares. E é isso que o Ocidente deve fazer, independentemente dos auxílios que possa prestar fora do teatro de operações.
As intervenções militares para fins humanitários que a história regista, com excepção das que nos tempos modernos possam ser autorizadas e apoiadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, foram manifestações imperialistas. Que começaram com o Império Britânico, foram imitadas por Hitler e Mussolini e desenvolvidas depois da Guerra Fria pelos Estados Unidos quer sob a capa da NATO, quer acolitadas pelos britânicos e mais um ou outro títere de ocasião.
Mas não é apenas por razões jurídicas que o Ocidente deve actuar com prudência relativamente à Líbia. É também por razões políticas. Se o Ocidente não quer que a saudável revolta do mundo árabe se vire a prazo relativamente curto contra si deve deixar que sejam os árabes a resolver os seus problemas, por mais dramáticos que eles sejam.
Além de que é de uma profunda hipocrisia que não escapa a qualquer árabe instruído dos nossos dias esse permanente brandir de ameaças de toda a ordem, como as do Tribunal Penal Internacional, quando continuam impunes crimes bem recentes cometidos por Bush, Blair e outros, ou se exacerba o perigo resultante da destabilização da margem sul do Mediterrâneo quando ainda há bem poucos anos americanos e ingleses destabilizaram vastas regiões do Médio Oriente, com total desprezo pelas consequências dessa destabilização para os povos atingidos.
É esta arrogante supremacia do “homem ocidental” que a prazo vai cavar a sua derrota…Não aceitar os outros como iguais numa época em que eles são cada vez mais iguais …e mais numerosos não é certamente uma política inteligente.
A intervenção foi arrogante, feita por quem não estava minimamente habituado a lidar com o contraditório qualquer que seja a forma que ele revista. Mas revelou-se, tem-se revelado, verdadeira.
A Líbia está em guerra civil. A Europa e mais ainda a América habituadas a lidar monocromaticamente com os efeitos internacionais decorrentes da acção dos “povos inferiores”, embora no passado tivessem apoiado Kadhafi, como grande aliado nessa visão unilateral do mundo, e até gostassem de poder continuar a contar com ele, tanto pelo excelente petróleo que lhes proporcionava, como pelo papel de “Kapo” que lhes prestava no “escorraçamento” de imigrantes, além de, por interesses do próprio, ser um valioso bastião contra a Al Quaeda, viram-se por hipocrisia obrigadas a alinhar contra Kadhafi, supondo que a revolta da Líbia tomaria, mais dia, menos dia, o mesmo curso da dos seus vizinhos de leste.
Aparentemente enganaram-se. E como sempre acontece nestas coisas, quando a aposta é forte e o jogo corre mal, a tentação do jogador é reforçar a aposta.
Nada, porém, pior para o Ocidente do que continuar nesta espiral de ameaças. A guerra civil é, deve ser, em qualquer parte do mundo, um assunto que tem de ser resolvido pelos contendores. Nenhuma norma ou princípio do direito internacional permite a terceiros interferir no conflito, salvo as acções de natureza humanitária que são, na sua genuinidade, acções pacíficas, não militares.
Não intervenção não significa necessariamente cruzar os braços. Não intervenção significa não envolvimento no conflito com forças militares. E é isso que o Ocidente deve fazer, independentemente dos auxílios que possa prestar fora do teatro de operações.
As intervenções militares para fins humanitários que a história regista, com excepção das que nos tempos modernos possam ser autorizadas e apoiadas pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas, foram manifestações imperialistas. Que começaram com o Império Britânico, foram imitadas por Hitler e Mussolini e desenvolvidas depois da Guerra Fria pelos Estados Unidos quer sob a capa da NATO, quer acolitadas pelos britânicos e mais um ou outro títere de ocasião.
Mas não é apenas por razões jurídicas que o Ocidente deve actuar com prudência relativamente à Líbia. É também por razões políticas. Se o Ocidente não quer que a saudável revolta do mundo árabe se vire a prazo relativamente curto contra si deve deixar que sejam os árabes a resolver os seus problemas, por mais dramáticos que eles sejam.
Além de que é de uma profunda hipocrisia que não escapa a qualquer árabe instruído dos nossos dias esse permanente brandir de ameaças de toda a ordem, como as do Tribunal Penal Internacional, quando continuam impunes crimes bem recentes cometidos por Bush, Blair e outros, ou se exacerba o perigo resultante da destabilização da margem sul do Mediterrâneo quando ainda há bem poucos anos americanos e ingleses destabilizaram vastas regiões do Médio Oriente, com total desprezo pelas consequências dessa destabilização para os povos atingidos.
É esta arrogante supremacia do “homem ocidental” que a prazo vai cavar a sua derrota…Não aceitar os outros como iguais numa época em que eles são cada vez mais iguais …e mais numerosos não é certamente uma política inteligente.
2 comentários:
Excelente!... O discernimento é a única arma que pode conter a grande ilusão etnocêntrica. Obrigado!
Um abraço.
Assino por baixo e deixemo-nos de hipocrisias sobre os chamados "ditadores" que são, repentinamente, "descobertos" pelo imperialismo. Seja ele de que tipo for.
A campanha mediática contra Kadhafi até esconde os mais que evidentes crimes das chamadas "forças de libertação".
Agora até pretenderam esconder que em vários lugares da Líbia os pseudo-libertadores meteram foroi os estrangeiros na prisão...ingleses dos Serviços Secretos incluídos...
Vão ver, ainda descobrem armas de destruição maciça...
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