quarta-feira, 8 de junho de 2011

DEPOIS DAS ELEIÇÕES


PEQUENAS NOTAS




A primeira nota de relevo pós-eleitoral ocorreu no Altis quando a repórter da Renascença perguntou a Sócrates se, depois da derrota e do seu afastamento da vida política, não temia a abertura de novos processos judiciais como o do Freeport e da Face Oculta, terá dito, embora a reacção que a sua pergunta provocou na sala não tivesse tornado perceptível tudo o que disse.

A resposta de Sócrates, embora situada no politicamente correcto, não foi certamente a melhor, já que perante uma pergunta tão mal formulada ele teria tido oportunidade de se despedir com uma verdadeira estocada, daquelas que nem deixam o bicho respirar. Aquele “novos processos” foi fatal. No contexto da frase só pode depreender-se que tenha havido outros. Quais? Sim, contra ele, quais? E para finalizar poderia ter rematado que a insinuação da instauração de processos só tinha interesse enquanto ele fosse primeiro-ministro…

Esta covardia jornalística que só tem “coragem” para atacar quem já está por terra, ainda por cima com base em insinuações, é uma das manifestações mais nojentas do jornalismo português.

Nesta mesma linha, seguiu-se Belmiro de Azevedo, que sempre que intervém politicamente o faz no estilo que outros, antes dele, já tinham tornado famoso em Marco de Canavezes. É grosseiro no seu linguajar e ontem não fugiu à regra. Atacou Sócrates com a linguagem típica do homem vulgar. Entre as suas declarações e as de um iletrado apanhado na rua por uma câmara de TV para comentar o acontecimento do dia não há qualquer diferença. A não ser a que resulta de Belmiro ser um dos homens que mais tem prejudicado Portugal nos últimos trinta anos - um dos que mais tem feito crescer as importações, a dívida externa privada e que mais tem contribuído para a escassez da poupança interna.

Segue-se, para terminar, Boaventura Sousa Santos, que ontem ou hoje, tanto faz, apareceu na TV a criticar o acordo feito com a Troika, a natureza anti-democrática do seu conteúdo e dos seus prazos e ainda a tecer considerações sobre a actual situação política interna e o seu próximo futuro. Por este lado tudo bem, pelo menos aparentemente. Só que há um pequeno problema que torna a sua intervenção incompreensível. Pois não foi ele que, juntamente com Soares, Balsemão, o dono do Pingo Doce e muitos outros parecidos com estes, assinou um manifesto a apelar a um entendimento entre os partidos (claro entre os partidos “responsáveis”, entre os do “arco do poder”, como eles gostam de dizer) do grande “Bloco Central”? Enfim, pode dizer-se que nem sempre a assinatura de um documento colectivo é bem ponderada e acaba às vezes por depender mais da pessoa que pede a assinatura do que propriamente do conteúdo do documento. É provável, mas já não é nada provável que isso aconteça com BSS, sempre muito criterioso relativamente ao conteúdo dos documentos que assina. Que o digam os promotores de um documento assinado por assistentes da Universidade de Coimbra, em 1969, de apoio aos estudantes em greve …

É por estas e por outras que o Bloco oscila tanto, mesmo em distritos como Coimbra, onde a tal influência da gente da UDP e o alegado processo de mimetização do PCP não fazem qualquer sentido.


1 comentário:

Ana Cristina Leonardo disse...

queria manifestar-lhe o meu total apoio à primeira parte do seu post (sobre os outros 2 pontos a minha opinião não passaria disso mesmo - de uma opinião). pareceu-me absolutamente deslocada a pergunta da jornalista e detesto ver bater nos ceguinhos. tivesse-lhe feito a pergunta antes do homem ter perdido as eleições (e, aliás, a pergunta, dirigida a sócrates, é completamente tonta, seja em que circunstâncias for - o que é que ele iria responder se não qq coisa de mais ou menos politicamente correcto?). jornalismo da treta.