O QUE FICA DO FIM-DE-SEMANA
Em primeiro lugar, o apelo de Cavaco para o ressurgimento do Portugal agrário do interior – o tal Portugal que a adesão à Comunidade Europeia ajudou a desertificar – e o regresso à agricultura que os dez anos de governação cavaquista quase conseguiram aniquilar.
Não se regressa ao interior para respirar um ar mais puro ou para desfrutar das belezas da natureza, quando existem. Fora os caos de saturação do ambiente urbano, regressa-se para o desempenho de uma actividade económica bem mais lucrativa do que aquela que se tem no litoral.
Fazer agricultura seria uma boa ideia. Só que fazer agricultura fica caro, muito caro e há hoje tanto na Europa como fora dela quem a faça bem mais barato do que nós. A ideia poderia aproveitar-se se houvesse o engenho suficiente para frustrar as facilidades de que gozam cá dentro os produtores comunitários, concedendo a quem cá está e é de cá o indispensável para tornar a sua actividade agrícola mais competitiva que a alheia, contanto que as vantagens concedidas mais que compensassem as desvantagens da importação em larga escala de produtos estrangeiros.
Mas que tem coragem de fazer isto? Quando falam em competitividade cá dentro ou lá fora somente têm na ideia a redução dos custos laborais, os directos e os indirectos…e assim não se vai lá.
A segunda nota tem a ver com as negociações para a definição da orgânica do governo e a respectiva distribuição das pastas. Como se tem visto e de imediato se percebe essas negociações têm assentado, por um lado, na provinciana ideia de impressionar o povo com uma drástica redução de ministérios, e, por outro, de conciliar tudo isto com a bilateral voraz vontade de "ir pote” que as equipas negociadoras não conseguem disfarçar.
Entre as extinções e fusões anunciadas sobressai pelo seu simbolismo ideológico a anunciada extinção do Ministério das Obras Públicas, um dos mais velhos ministérios deste país. A ideia é por demais evidente: a pretexto da contenção da despesa pública, mesmo da despesa de investimento como é o caso, o que se pretende é marcar impressivamente a natureza neoliberal da nova equipa governamental. Nem os neoconservadores na América foram tão longe. Mas é normal a diferença, porque a ignorância também é aqui incomparavelmente maior.
Depois vem as fusões. Pois, deixá-los fundir. Que se fundam. Nem eles suspeitam na que se vão meter…
Em terceiro lugar, uma nota que não tem nada a ver com as anteriores ou, de outro modo, que teria evitado as anteriores se as coisas se tivessem passado de modo diferente. Ou seja, hoje tem de reconhecer-se que o grande erro de Sócrates foi o de não se ter candidatado à Presidência da República contra Cavaco e de, simultaneamente, ter passado a direcção do partido a António Costa. Actuando como actuou, perdeu São Bento e Belém.
Tem que se dizer, em homenagem à verdade, que somente Medeiros Ferreira sugeriu aos socialistas este caminho…que eles não seguiram, sempre por aquela conhecida razão de que mais vale ter um pássaro na mão do que dois a voar ou, como agora se diz, mais vale um pote certo do que dois incertos. De facto, não há nada mais estúpido do que o senso comum. Mas de que vale um “Bom Conselho”?
7 comentários:
".. que a adesão à Comunidade Europeia "ajudou" a desertificar..." . O autor não vai ao ponto do que se ouve muito por aí, de que essa tal desertificação, do interior, foi consequência da adesão à CEE. No meu limitado entender essa desertificação (humana é evidente)começou muito antes. Começou quando a Europa, sobretudo a França, deu trabalho e aceitou num processo clandestino, mas mais ou menos disfarçadamente aceite pelo governo português, vagas sucessivas de camponeses que ainda nos anos sessenta deixaram vastas áreas do interior, sobretudo norte e centro, com 30% ou menos da anterior população. Essa população, a que ficou, está agora a acabar, a morrer, portanto que coisa diferente poderia ter acontecido com ou sem adesão? O que a adesão trouxe foi o abandono de terras, que já pouca mão de obra ocupavam e aqui sim por efeito dos excedentes da zonas mais férteis e toda a panóplia de políticas de subsídios e "estímulos". Quando os "citadinos" analistas carpem mágoas pela desertificação rural esquecem (normalmente não sabem) como era a existência da anterior população dessas terras, da qualidade produtiva das mesmas.Não, não era por aí que os portugueses poderiam arranjar um lugar melhor na "economia global". Quem conhece a produtividade dos cereais em Portugal sabe que não podemos comer pão produzido internamente, a não ser nas condições dos anos 50! e à custa do quê!. Isto não obsta a que não pudessem ter-se desenvolvido políticas que aumentassem o grau da nossa independência alimentar, mas os subsídios para os "set asides", os abates as "reconversões", os "projectos de reflorestação" etc etc., etc., falaram mais alto, ou, realmente, soaram a moeda forte. E quem desencadeou este processo? -S.Exª apesar de, já em garoto, gostar tanto do temporão e rosado fruto, o tal que aparecia depois de Deus mandar pôr a mesa aos passarinhos!
Mas o Sr. Xico esquece-se que nos finais dos anos cinquenta e dos anos seguintes esses mesmos que abandonaram o Pais para nao morre de fome...foram os mesmos que logo a seguir nao deixaram que Portugal passasse, por uma situacao igual aquela que hoje esta a passar. Um ano depois vieram para traz...fizeram casas novas, compraram autos, carros de bois,encheram os cofres dos bancos compraram tratores,poseram os fillhos a estudar, consumiram e produziram...com o dinheiro a 30% uma forma habili do governo lhes apanharem as poupancas!(O 25 de Abril foi feito com os filhos dos emigrantes!) A desgraca veio com o cavaquismo..A desretificacao veio com a destruicao da lavoura e ate pesca..E mais....Foi uma maneira forcada de nos entegrar nessa maldita Europa que so nos tem trazido desgracas e vai continuar a trazer!!!Eu fui criado numa aldeia do norte eu assisti a sair e a entrar na miseria! E como se saia e entrava.Tudo para pagar o que os "fortes" iam fazendo! Ha de facto Sr. Xico, da sua parte uma saudade que a mim nao me deixa pena..Ao Dr.Correia Pinto conhece-o de infancia e sei bem que tambem pagou bem caro o caminho que percoreu. Ao Dr.Correia Pinto um abraco.
O seu comentario vale um A+
Toda essa desertificacao do interior foi recompensada nos imediatos dez anos seguintes em beneficio do entao sistema. O salazarismo so necessitava alimentar Lisboa e Porto o reste era por nossa conta...O cavaquismo foi uma pagina escrita mas com diferente tinta..tinta laranja que depressa demaiou e que so podem ler as regras aplicadas todos aqueles que foram beneficiados "a rodos" agora" o rei vai nu"vamos ter coragem, e aqui ha que louvar o Dr. Correia Pinto
Faço link. Obrigada.
"Que se fundam!"
Estou de acordo.
V
Vou por em agenda, muito do que escreveu, escrevendo eu que agora mesmo o subscrevo.
O Xico Burro faz jus ao nome.... com um pedido de desculpas aos burros...
Abraço
Ana
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