terça-feira, 8 de novembro de 2011

AS ELEIÇÕES EM ESPANHA



O DEBATE DESTA NOITE



Durante cerca de duas horas, Pérez Rubalcaba e Mariano Rajoy debateram os respectivos programas eleitorais em perspectivas completamente diferentes.

Enquanto Rajoy enfatizou o estado em que país se encontra, desemprego, dívida e défice, deixando explícito que esse é péssimo resultado da governação socialista e subliminarmente implícito que da execução do seu programa resultará a superação da situação herdada, Rubalcaba, sem deixar de defender, em tese, aquilo que hoje constitui a matriz do PSOE, procurou acima de tudo desmontar a propositada ambiguidade do programa da direita em questões fundamentais como o subsídio de desemprego, a saúde pública, o regime das pensões e o financiamento dos bancos.

É verdade que Rajoy se apresenta publicamente com uma linguagem bastante mais moderada do que muitos dos fascistas, falangistas e franquistas que mantêm um papel de relevo no seu partido, tornando assim mais difícil o posicionamento do candidato socialista.

Dificuldade que Rubalcaba tentou contornar com inteligência através de uma forma de fazer política pouco comum nos políticos espanhóis, em regra muito envolvidos emocionalmente nas propostas que defendem. De facto, o candidato socialista, embora falando com convicção, deu sempre a sensação de que estava a raciocinar e não a debitar um programa, mantendo permanentemente uma distância entre o objecto da discussão, sobre o qual muitas vezes ironizava, e o repúdio ou a adesão ética que o mesmo poderia suscitar, como quem deixa ao espectador a liberdade de tirar as suas próprias conclusões.

Esta quase ausência de adjectivos em Rubalcaba e o aparente distanciamento da avaliação moral das proposições contestadas ou propostas contrasta flagrantemente com o comportamento dos dois anteriores Presidentes do Conselho do PSOE, Gonzalez e Zapatero, ambos portadores de uma “verdade” que tendiam a querer impor pela convicção apaixonada com que a defendiam.

Ponto é saber se o eleitorado espanhol com um desemprego superior a 20% e sob a ameaça de uma crise que a todo o momento pode atingir patamares incontroláveis pelos simples recursos internos não estará mais predisposto a ouvir os apelos emotivos de quem lhe promete um futuro diferente do que a escutar os frios raciocínios de quem tenta demonstra-lhe de que, se errar na escolha, vai ficar ainda pior.  


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