quinta-feira, 13 de agosto de 2009

A IBÉRIA E NACIONALISMO


PROVA DE MATURIDADE OU CONSEQUÊNCIA DA CRISE?

Tem causado grande perplexidade nos círculos nacionalistas portugueses o resultado das sondagens levadas a cabo em Portugal e em Espanha sobre a construção de uma Federação Ibérica.
Apesar das muitas páginas já lidas sobre nacionalismo não me sinto minimamente capacitado a falar sobre o tema. Posso apenas falar sobre as minhas inclinações pessoais, que se situam nos antípodas do sentimento nacionalista. Desde sempre, porventura muito influenciado pela rejeição do culto nacionalista com que a pequenez da ditadura salazarista cobria tudo o que era português.
A simpatia pelas correntes socialistas está certamente ligada às concepções igualitárias, mas negaria se não dissesse que um dos principais factores de sedução foi o seu internacionalismo.
Entre a nação e a democracia eu escolho, sem hesitação, a democracia. E como continuo a acreditar que a nação é em grande medida uma inimiga da paz e também de uma verdadeira democracia, sou naturalmente favorável a tudo o que leve ao aprofundamento da democracia e da federação em detrimento da nação.
Infelizmente não é este o sentimento partilhado pela grande maioria das pessoas e dos Estados. Apesar do sentimento que animou e anima as mais importantes federações que a história conheceu se filiasse num sentimento igualitário, logo a nação em que elas próprias se transformaram desmentiu o propósito que fundou o seu nascimento.
São também os egoísmos nacionais que em última análise inviabilizam o projecto europeu e o afastam cada vez mais dos objectivos dos seus fundadores.
Quando a Europa despertar desta deriva nacionalista e intergovernamental que a tem (irreversivelmente?) marcado desde o alargamento a leste, talvez já seja demasiado tarde para corrigir o rumo.
Sempre me fascinaram mais as grandes conquistas da humanidade, qualquer que fosse a nacionalidade do seu autor, do que as grandes glórias pátrias, quando de glorioso apenas tinham a acentuação ou a defesa do sentimento nacional.
É esse mesmo sentimento anti-nacionalista que me leva a rejeitar a arrogância castelhana e a sua intolerância em relação a tudo o quer ser diferente. Há quem apoie a constituição de uma federação ibérica por razões muito defensáveis de bem-estar económico e social e há quem veja nela uma excelente oportunidade para acabar de vez com a Espanha castelhana. Infelizmente, as condições concretas em que o seu surgimento poderia ter lugar só serviriam para acentuar ainda mais o domínio de “Castela” sobre toda a península. Por isso, mais vale aguardar por outro contexto...

2 comentários:

JVC disse...

Um texto lúcido, saudavelmente provocador, contra-corrente (e com uma conclusão sensata).

Lembro que um dos meus santos padroeiros predilectos, Antero, não distinguiu, na análise da decadência comum, os povos peninsulares.

Anónimo disse...

Subscrevo a adjectivação de JVC.
Porém, tendo em conta que estamos num contexto provocatório, o ZM que me desculpe, mas desta vez não vou resistir à tentação: “Duma Terra sem amos, a Internacional.”

JR