sábado, 29 de agosto de 2009

O ACESSO DE TROPAS AMERICANAS A BASES MILITARES COLOMBIANAS




O SIGNIFICADO DO ACORDO

Nos últimos 15 anos os Estados Unidos descuraram relativamente as relações com a América Latina. Não se poderá dizer, como alguns afirmam, que a América se esqueceu do que se passava no pátio traseiro da sua casa e quando quis retomar as antigas relações já encontrou uma realidade muito diferente daquela com que estava a habituada a lidar.
A questão se não pode pôr bem assim. Durante a guerra fria, a América estava particularmente atenta a tudo o que se passava na América Latina, um continente vizinho do seu, e, com excepção de Cuba, cortou cerce qualquer veleidade de políticas não alinhadas ou hostis, qualquer que fosse o país que as tentasse. E não olhava a meios para o conseguir. A ditadura militar ou civil e o golpe de Estado foram as armas mais frequentemente usadas para subjugar os povos latino-americanos.
Com a vitória na guerra-fria e consequente exaltação da democracia representativa como forma legítima de governo, os Estados Unidos deixaram, por um lado, de poder apoiar por qualquer meio, com a mesma naturalidade com que antes o faziam, o acesso ao poder das corruptas oligarquias locais suas aliadas, e, por outro, como estavam extraordinariamente empenhados na exploração do sucesso no leste europeu e na própria área antes compreendida pela URSS, acabaram por dar prioridade a esta nova “conquista” de modo a torná-la tanto quanto possível irreversível.
Mais tarde, em consequência da “guerra contra o terrorismo”, a América teve de canalizar as suas energias para outras partes do mundo e empenhar-se em combates que desgastaram e continuam a desgastar uma parte considerável das suas energias.
E viu-se, mesmo para um grande país como a América, que não era fácil manter-se activo, com a mesma intensidade, em várias partes do mundo.
Estas as razões por que a América não pôde concentrar-se na América Latina com a mesma “atenção” com que antes o fazia. Depois, a relativa aleatoriedade dos processos eleitorais encarregou-se do resto. E, assim, vários países com objectivos e também com processos diferentes, foram saindo da órbita estritamente controlada pelos americanos.
O Brasil, como grande potência regional emergente, cioso de desempenhar um papel de relevo na América Latina, à revelia e sem a tutela de Washington, liderou a criação da União das Nações Sul-americanas, com propósitos integradores e de diálogo exclusivamente sul-americanos. Disso é prova o Conselho Sul-americano de Defesa, que tem por objectivo dar respostas conjuntas aos problemas de segurança regional.
Por outro lado, a Venezuela e os seus aliados, com a Revolução Bolivariana, deram uma forte machadada nas ambições político-económicas americanas de criação de uma grande zona de comércio livre, dominada pelo norte.
Por outras palavras, este profundo movimento latino-americano pretende pôr um ponto final na famosa doutrina Monroe, que regeu a política americana relativamente ao sul do continente no último século e meio e substituí-la por uma política que reforce a autonomia dos países do sul do continente e os torne verdadeiros sujeitos do acontecer histórico.
É neste contexto que tem de ser interpretados os acordos que permitem o acesso de tropas americanas a várias bases colombianas. Bem podem os americanos dizer que as bases só serão utilizadas para a luta contra o terrorismo e o narcotráfico, que na América Latina já ninguém tem dúvidas de que a Colômbia está actuando como cavalo de Tróia dos americanos. No fundo, as alianças extra-regionais que a ONASUL queria evitar, estão de volta pela mão de Álvaro Uribe.
Chávez é o protagonista ideal para justificar esta política. No fundo, a aliança entre os Estados-Unidos e a Colômbia não é verdadeiramente para combater Chávez, como inimigo principal, mas para socavar a independência da América-Latina, tal como ela se vinha manifestando e construindo nestes últimos anos.
Não será difícil prever que, perante este quadro, o Brasil tente a todo o custo impedir o confronto entre a Colômbia e a Venezuela, para evitar a constatação de fracasso da sua política regional e a Venezuela defenda posições mais radicais, certa de que a verdadeira independência não poderá ter lugar sem o afrontamento da América e seus aliados do sul.

1 comentário:

FJCoutinhoAlmeida disse...

Para certa gente, a democracia só é boa se for para ir gerindo o capitalismo 'puro e duro'...