TERÁ COMETIDO A RÚSSIA UM GRAVE ERRO ESTRATÉGICO?
Estando a comunidade internacional no estado em que Bush a colocou com a ajuda objectiva dos fundamentalistas islâmicos, ou seja, sem respeito pelo direito internacional e sujeita à lei do mais forte, com uma arrogância que se não conhecia desde o tempo da ascensão do nazismo, é caso para perguntar se a Rússia não terá cometido um grave erro estratégico ao deixar Saakashvili no poder.
Com o presidente georgiano no poder as provocações vão seguramente continuar, sendo cada vez mais difícil e perigoso responder-lhes. De facto, não é crível que os americanos o deixem cair agora. E se a intenção do Washington é fomentar um clima de alta tensão internacional para alimentar o complexo militar industrial que o Pentágono representa, o mais natural é que o exército georgiano seja reorganizado pelos americanos, que estes assumam um papel cada vez mais relevante e visível na Geórgia e que o país dentro de pouco tempo acabe por pertencer à NATO. As eventuais objecções europeias acabarão por sucumbir, como é hábito, face às pressões americanas.
Por tudo isto, é legítima a questão de saber se a Rússia não deveria ter tomado Tblissi e instalado um governo “amigo” que pusesse por largo tempo cobro às aspirações americanas na região.
Creio que a Rússia quis agir tomando por paradigma a Sérvia e o Kosovo. Proteger da limpeza étnica georgiana as regiões autonomistas da Ossétia do Sul e da Abekázia, rechaçar o agressor dos direitos humanos para dentro das suas fronteiras e preparar a independência daquelas duas regiões.
Esqueceu-se, porventura, de que, com a máquina de propaganda e contra-informação que os americanos e o ocidente em geral têm ao seu dispor, os custos políticos da intervenção acabam por ser os mesmos. O que se ouve nas televisões e se lê nos jornais são as declarações grandiloquentes de Bush e da sua camarilha erigidos em grandes defensores da democracia, dos direitos humanos, da integridade territorial dos Estados e da sua soberania, como se estes últimos vinte anos, e particularmente os últimos oito, tivessem sido um modelo de virtudes que todos devemos seguir e respeitar.
O Ocidente, ao contrário da Rússia, tem meios ideológicos suficientes para fazer passar aqueles motivos como sendo os que realmente determinam a sua acção. Só quando a situação é particularmente escandalosa, como aconteceu no caso do Iraque, é que se poderá assistir a uma reacção da opinião pública, embora, mesmo neste caso, a situação tenda, com o tempo, a ser desvalorizada, primeiro, e esquecida, depois, com o argumento muito em voga em situações semelhantes: “O que está feito, está feito, e o que agora temos de fazer é agir em conjunto para evitar um mal maior”. E os que institucionalmente tiveram a ousadia de reagir mais fortemente são ostracizados pelo agressor, com a complacência dos demais, como aconteceu com Zapatero.
Por isso, é que faz todo o sentido perguntar se a Rússia não deveria ter tomado por paralelo o Iraque. Sem o dramatismo que antecedeu a invasão americana do Iraque e sem os problemas que se seguiram à invasão, os russos teriam desalojado do poder Saakashvili em poucos dias, instalariam um governo provisório baseado na forte oposição interna ao presidente e selariam a paz com um “pacto de não agressão e amizade” entre os dois países. A comunidade internacional e os americanos, em particular, não teriam outra alternativa, que não fosse a de protestar e aceitar. A Rússia ficaria sujeita à reprovação temporária de largos sectores da comunidade internacional, tal como os americanos nestes últimos anos, mas ganhava o respeito dos seus aliados e o temor dos seus inimigos. Assim, tendo ficado a meio caminho, vão ter de suportar todos os incomoda, sem verdadeiramente beneficiar dos comoda.
Quando, no tempo da guerra fria, se lutava por ideias, principalmente os mais fracos, uma acção como a dos americanos no Iraque – supondo que ela era possível – ou como seria a da Rússia na Geórgia estigmatizaria por lado tempo o bloco que a tivesse levado a cabo. Hoje, esse problema não se põe. Entre os oligarcas de Moscovo e os capitalistas que apoiam e beneficiam com a política agressiva de Washington não há diferenças assinaláveis. O que conta é saber se queremos um mundo unipolar ou multipolar.
Se este último, como tudo indica, for mais vantajoso para a humanidade no seu conjunto, pelos equilíbrios que cria e pelos constrangimentos que impõe a quem está habituado a usar a força para impor a sua vontade, deveremos apoiar as acções que vão nesse sentido e rechaçar as demais. Apoiar criticamente, pois é lamentável que se tenha de recorrer a processos pouco ortodoxos para o conseguir. Mas – e a questão é essa - que fazer quando uma potência que não aceita perder a sua hegemonia monta um cerco a uma antiga potência rival, disfarçando a sua profunda agressividade com palavras de boa vizinhança e cooperação, mas na realidade inclui numa aliança militar todos os países que antes estavam sob a influencia daquela e, além disso, instala em dois desses países um sistema militar anti-mísseis que potencia aquele cerco?
Estando a comunidade internacional no estado em que Bush a colocou com a ajuda objectiva dos fundamentalistas islâmicos, ou seja, sem respeito pelo direito internacional e sujeita à lei do mais forte, com uma arrogância que se não conhecia desde o tempo da ascensão do nazismo, é caso para perguntar se a Rússia não terá cometido um grave erro estratégico ao deixar Saakashvili no poder.
Com o presidente georgiano no poder as provocações vão seguramente continuar, sendo cada vez mais difícil e perigoso responder-lhes. De facto, não é crível que os americanos o deixem cair agora. E se a intenção do Washington é fomentar um clima de alta tensão internacional para alimentar o complexo militar industrial que o Pentágono representa, o mais natural é que o exército georgiano seja reorganizado pelos americanos, que estes assumam um papel cada vez mais relevante e visível na Geórgia e que o país dentro de pouco tempo acabe por pertencer à NATO. As eventuais objecções europeias acabarão por sucumbir, como é hábito, face às pressões americanas.
Por tudo isto, é legítima a questão de saber se a Rússia não deveria ter tomado Tblissi e instalado um governo “amigo” que pusesse por largo tempo cobro às aspirações americanas na região.
Creio que a Rússia quis agir tomando por paradigma a Sérvia e o Kosovo. Proteger da limpeza étnica georgiana as regiões autonomistas da Ossétia do Sul e da Abekázia, rechaçar o agressor dos direitos humanos para dentro das suas fronteiras e preparar a independência daquelas duas regiões.
Esqueceu-se, porventura, de que, com a máquina de propaganda e contra-informação que os americanos e o ocidente em geral têm ao seu dispor, os custos políticos da intervenção acabam por ser os mesmos. O que se ouve nas televisões e se lê nos jornais são as declarações grandiloquentes de Bush e da sua camarilha erigidos em grandes defensores da democracia, dos direitos humanos, da integridade territorial dos Estados e da sua soberania, como se estes últimos vinte anos, e particularmente os últimos oito, tivessem sido um modelo de virtudes que todos devemos seguir e respeitar.
O Ocidente, ao contrário da Rússia, tem meios ideológicos suficientes para fazer passar aqueles motivos como sendo os que realmente determinam a sua acção. Só quando a situação é particularmente escandalosa, como aconteceu no caso do Iraque, é que se poderá assistir a uma reacção da opinião pública, embora, mesmo neste caso, a situação tenda, com o tempo, a ser desvalorizada, primeiro, e esquecida, depois, com o argumento muito em voga em situações semelhantes: “O que está feito, está feito, e o que agora temos de fazer é agir em conjunto para evitar um mal maior”. E os que institucionalmente tiveram a ousadia de reagir mais fortemente são ostracizados pelo agressor, com a complacência dos demais, como aconteceu com Zapatero.
Por isso, é que faz todo o sentido perguntar se a Rússia não deveria ter tomado por paralelo o Iraque. Sem o dramatismo que antecedeu a invasão americana do Iraque e sem os problemas que se seguiram à invasão, os russos teriam desalojado do poder Saakashvili em poucos dias, instalariam um governo provisório baseado na forte oposição interna ao presidente e selariam a paz com um “pacto de não agressão e amizade” entre os dois países. A comunidade internacional e os americanos, em particular, não teriam outra alternativa, que não fosse a de protestar e aceitar. A Rússia ficaria sujeita à reprovação temporária de largos sectores da comunidade internacional, tal como os americanos nestes últimos anos, mas ganhava o respeito dos seus aliados e o temor dos seus inimigos. Assim, tendo ficado a meio caminho, vão ter de suportar todos os incomoda, sem verdadeiramente beneficiar dos comoda.
Quando, no tempo da guerra fria, se lutava por ideias, principalmente os mais fracos, uma acção como a dos americanos no Iraque – supondo que ela era possível – ou como seria a da Rússia na Geórgia estigmatizaria por lado tempo o bloco que a tivesse levado a cabo. Hoje, esse problema não se põe. Entre os oligarcas de Moscovo e os capitalistas que apoiam e beneficiam com a política agressiva de Washington não há diferenças assinaláveis. O que conta é saber se queremos um mundo unipolar ou multipolar.
Se este último, como tudo indica, for mais vantajoso para a humanidade no seu conjunto, pelos equilíbrios que cria e pelos constrangimentos que impõe a quem está habituado a usar a força para impor a sua vontade, deveremos apoiar as acções que vão nesse sentido e rechaçar as demais. Apoiar criticamente, pois é lamentável que se tenha de recorrer a processos pouco ortodoxos para o conseguir. Mas – e a questão é essa - que fazer quando uma potência que não aceita perder a sua hegemonia monta um cerco a uma antiga potência rival, disfarçando a sua profunda agressividade com palavras de boa vizinhança e cooperação, mas na realidade inclui numa aliança militar todos os países que antes estavam sob a influencia daquela e, além disso, instala em dois desses países um sistema militar anti-mísseis que potencia aquele cerco?
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