quinta-feira, 10 de junho de 2010

AINDA BEM QUE O MUNDIAL VAI COMEÇAR



É QUE JÁ NÃO HÁ PACIÊNCIA PARA OS OUVIR!

Ainda bem que o Mundial vai começar. Não que se espere algo de especial da selecção portuguesa, a avaliar pelo que se ouve nas rádios e nas televisões, mas pelo prazer de ver de ver futebol, durante um mês, ao mais alto nível, com emoção, mas sem paixão.
É que já não há paciência para ouvir Cavaco ao sábado e ao domingo, Passos Coelho durante a semana e Portas sempre que tem uma aberta.
Cavaco fez um discurso em Faro politicamente inaceitável. Antes de mais fala como se não tivesse nada a ver com isto. Como se tivesse sido, desde há mais de 30 anos, um espectador passivo do que se passou em Portugal. Depois fala da crise como se estivesse a falar de uma epidemia inevitável e não houvesse responsáveis pelo que aconteceu. Como se houvesse uma espécie de culpa colectiva pela qual todos têm de assumir a sua quota de responsabilidade. Tudo isto para, no fim, vir pedir coesão e unidade à custa dos que sofrem as consequências da crise.
Não, o tempo não é de coesão nem de unidade com os responsáveis. O tempo é de luta e de separação das águas.
Passos Coelho com uma demagogia que raia a mais vulgar banha-de-cobra disse, num discurso aos senhores empresários, que é tempo dos portugueses poderem escolher: escolher o sistema de ensino que querem para os filhos; escolher onde querem ser tratados quando estão doentes; escolher as reformas que querem ter. Mas será possível que o povo seja tão atrasado? Provavelmente é.
O último a quem ouvi dizer tão explicitamente coisas idênticas foi Jardim Gonçalves, numa entrevista à RTP, já depois de ter sido brindado com uma reforma que ultrapassa tudo o que o euromilhões numa jogada de sorte poderia conceder em dia de jackpot!
Vasco Lourenço na longa entrevista conduzida por Manuela Cruzeiro publicada em livro, o ano passado, dava conta da sua ingenuidade (e da maior parte dos oficiais do MFA) quando recorda o modo como as eleições eram por eles encaradas. Dizia ele, nós não receávamos as eleições, elas só poderiam favorecer a esquerda, porque o povo, em liberdade, nunca iria votar contra os seus próprios interesses.
Pois é, as eleições fazem parte da democracia, mas tudo deveria ter acontecido pela ordem inversa para se não se correr o risco, como se está vendo, de reduzir a democracia a uma caricatura. Não são as eleições que legitimam a democracia, é a democracia que legitima as eleições!
E para culminar a investida da direita ainda vem Portas falar contra o Estado naquela demagogia de feira que ele tende a usar tanto mais intensamente quanto mais acossado está…pelos que lhe estão a roubar espaço. Diz ele, o Estado em vez de andar a arrecadar mais dinheiro com impostos, o que deveria fazer era reduzir as suas despesas. Tudo bem e, hipoteticamente, até de acordo. Mas para que não restem dúvidas seria conveniente que Portas clarificasse a que Estado se refere: se aquele que tem a seu cargo o Serviço Nacional de Saúde e outras prestações sociais ou aquele a que o conhecido militante do CDS, Abel Pinheiro, não se cansava de apelar, nos gabinetes ministeriais, para tratar de negócios pelos quais, de resto, está a ser julgado!

1 comentário:

António Marquês disse...

Livre e esclarecedor como sempre, meu caro. Mas eu também estou receoso do comportamento dos portugueses quando forem depositar o papelinho. Com tanto futebol para os homens e tanta telenovela para as mulheres, que nos pode trazer o futuro? Mas nunca desistir, claro.
Que nunca lhe doa a mão nem lhe falte a razão. Obrigado.