UM MILITAR DE ABRIL
No dia 25 de Abril de 1974 Rosa Coutinho era completamente desconhecido da generalidade dos portugueses. “Quem é aquele capitão-de-fragata que integra a Junta de Salvação Nacional?”. Mesmo na Marinha, fora do quadro permanente, poucos o conheciam.
Não foram, porém, necessários muitos dias para que a generalidade dos portugueses tivesse percebido que aquele capitão-de-fragata, entretanto promovido a Almirante, era um dos mais genuínos representantes dos ideais de Abril e um nome com que o MFA poderia contar em qualquer circunstância.
Logo se percebeu também, pelas suas intervenções televisivas, sempre bem humoradas, que ele pertencia àquela estirpe de marinheiros que desde sempre se opôs a Spínola. Só que agora tal oposição ultrapassava em muito as querelas inter-armas para se situar num campo abertamente político.
Em Angola, Rosa Coutinho teve oportunidade de mostrar todo o seu talento num contexto politicamente muito difícil, apoiando inequivocamente o processo e descolonização que Spínola queria a todo o custo evitar (aliando-se a Mobutu, a Nixon e a toda a casta de reaccionários que à época pugnavam por uma solução neocolonial) e contribuindo de forma decisiva para a entrega do poder a quem efectivamente lutava pela libertação de Angola e mais se identificava com os valores e os ideais da Revolução de Abril.
Nesta luta, travada, a sul, contra as forças do racismo e do apartheid, e, a norte, contra os agentes de Mobutu e do imperialismo americano, Rosa Coutinho teve a grande coragem, mas também a inteligência, de actuar primeiro...e perguntar depois.
Pouquísimos, ou quase nenhuns, à época se podem orgulhar de tamanha façanha. Aliás, apenas possível por ter encontrado um interlocutor à sua altura.
Angola é ponto alto da carreira de Rosa Coutinho. Angola e o MPLA muito lhe devem, mas Portugal também (como se tem visto...).
No dia 25 de Abril de 1974 Rosa Coutinho era completamente desconhecido da generalidade dos portugueses. “Quem é aquele capitão-de-fragata que integra a Junta de Salvação Nacional?”. Mesmo na Marinha, fora do quadro permanente, poucos o conheciam.
Não foram, porém, necessários muitos dias para que a generalidade dos portugueses tivesse percebido que aquele capitão-de-fragata, entretanto promovido a Almirante, era um dos mais genuínos representantes dos ideais de Abril e um nome com que o MFA poderia contar em qualquer circunstância.
Logo se percebeu também, pelas suas intervenções televisivas, sempre bem humoradas, que ele pertencia àquela estirpe de marinheiros que desde sempre se opôs a Spínola. Só que agora tal oposição ultrapassava em muito as querelas inter-armas para se situar num campo abertamente político.
Em Angola, Rosa Coutinho teve oportunidade de mostrar todo o seu talento num contexto politicamente muito difícil, apoiando inequivocamente o processo e descolonização que Spínola queria a todo o custo evitar (aliando-se a Mobutu, a Nixon e a toda a casta de reaccionários que à época pugnavam por uma solução neocolonial) e contribuindo de forma decisiva para a entrega do poder a quem efectivamente lutava pela libertação de Angola e mais se identificava com os valores e os ideais da Revolução de Abril.
Nesta luta, travada, a sul, contra as forças do racismo e do apartheid, e, a norte, contra os agentes de Mobutu e do imperialismo americano, Rosa Coutinho teve a grande coragem, mas também a inteligência, de actuar primeiro...e perguntar depois.
Pouquísimos, ou quase nenhuns, à época se podem orgulhar de tamanha façanha. Aliás, apenas possível por ter encontrado um interlocutor à sua altura.
Angola é ponto alto da carreira de Rosa Coutinho. Angola e o MPLA muito lhe devem, mas Portugal também (como se tem visto...).
9 comentários:
Além de lhe dever outras coisas, à sua acção no Alfeite, na noite 25/26 de Novembro de 1975, Portugal deve a não eclosão da guerra civil que outros, com Carlucci à cabeça, meticulosamente tinham preparado.
Conta isso, por favor.
V
Sim, claro, confirmo.
Mas, meu Caro, relativamente a essa questão vai ser mais fácil repor a verdade. Aliás, já começa gradualmente a ser reposta.
Abraço
CP
É importante que escrevas que Angola e o MPLA lhe devem. É uma das acusações que mais se lhe fazem, que RC foi parcial. É verdade que foi "parcial", ouvi-o da sua própria boca. Bem bom que foi parcial. O que é importante é lembrar que essa parcialidade era a maior defesa dos interesses da comunidade portuguesa de Angola. O MPLA, independentemente do que foi depois e é hoje, suporte de um regime muito distante das expectativas da nossa geração, era o único movimento não tribalista, não racista, integrando nos seus quadros muita gente não negra e com grande vivência da cultura portuguesa. No princípio dos 70s, quando fiz tropa em Angola, era o único movimento combatente. Ou melhor, a Unita também era combatente mas não contra o exército português, só contra o MPLA.
Simplesmente, quando chega o 25 de Abril, não tinha armas, não tinha munições, os soviéticos eram reticentes, apenas os jugoslavos lhe estavam a dar algum apoio em 1974.
Se RC não os tivesse apoiado, os brancos de Angola não teriam sido só vítimas indirectas (indirectas porque, nos combates de Luanda, só morreram pretos e os brancos fogem, muito compreensivelmente, mas por medo, não por violência contra eles). Teriam sido vítimas directas da brutalidade da FLNA e da Unita.
Gostava de salientar as declarações de Vasco Lourenço, ontem. Ele e Rosa Coutinho foram adversários duros, no verão quente. Apesar do papel apaziguador de Rosa Coutinho no 25 de Novembro, o grupo vencedor saneou Rosa Coutinho e, durante muito tempo, nunca valorizou o (não)papel da Armada no 25 de Novembro - não esquecer que, militarmente, fuzileiros e paraquedistas, se se tivessem juntado, davam cabo dos comandos. Para bom entendedor, o reconhecimento ficou pela manutenção de Martins Guerreiro no CR.
Com isto, as declarações de ontem de Vasco Lourenço são justas, dignas e exemplificativas de que, tantos anos depois do 25 de Abril, é agora claro que é muito mais o que une os homens do 25 de Abril do que o que os separou.
Quanto ao papel de Rosa Coutinho em Angola podem inventar o que quiserem, até podem fazer o que fez A. Barreto, mas a única coisa que interessa é dizer que RC foi clarividente na hora própria. Clarividência que mais tarde Eanes, Cavaco e Durão Barroso também tiveram (daí que eu tivesse dito entre parênteses "como se tem visto", de modo a querer significar tudo o que de positivo daí adveio).
Por outras palavras, o que é que nos interessa a opinião de Mário Soares? MS tem sido o protagonista de quase tudo o que de mau aconteceu em Portugal depois do 25 de Abril!
Quanto ao 25 de Novembro, estou de acordo quanto aos factos. Penso porém que o contexto é mais complexo. Fica para outra altura.
CP
"Penso porém que o contexto é mais complexo"
Com certeza, mas eu não o poderia ter discutido no espaço limitado de um comentário num blogue. Deixo algumas provocações: só houve o 25 de Novembro de Lisboa? Pires Veloso e os refugiados na Cortegaça também não são derrotados, no outro lado, do 25 de Novembro? Com que 25 de Novembro estavam a CIA/Carlucci, os serviços secretos alemães e os franceses? todos juntos ou cada um com quem? A solução de compromisso do 25 de Novembro foi só militar ou tem de se ter em conta as conversas entre Cunhal e Melo Antunes, em casa do Nuno Brederode? E completadas, a nível inferior, por conversas frenéticas de fim de Novembro entre quadros comunistas e militares seus amigos?
À margem: não li as declarações de Soares de que falas. Onde foram publicadas?
Caro JMCorreia-Pinto,
Obrigado... eu era uma criança de 10 anos mas o sorriso do Almirante Rosa Coutinho foi sempre, para mim, uma espécie de garantia de bondade, de certeza de causas íntegras e justas... gravei a sua imagem na minha memória desde a primeira hora em que as imagens da Junta de Salvação Nacional e do CR vieram à televisão e, por estranho que pareça, dei uma imensa atenção às notícias que iam saindo sobre os Acordos do Alvor e sobre Angola, cuja independência foi, à data, para uma miúda de 11 anos, a certeza de que o 25 de Abril era maior que o nosso próprio país e dava direito a outros povos de conduzirem o seu destino. Do Almirante Rosa Coutinho guardo a sua última imagem, ao vivo, em Évora, numa sessão de homenagem ao 25 de Abril, com o Zeca Afonso já muito doente (e sem cantar!), o mesmo sorriso, a mesma firmeza na justeza das causas... Será talvez infantil mas, na postura de rectidão humana que lhe assomava ao modo de ser e de estar, vi muito do espírito de Abril. Escrevi sobre ele uma nota de homenagem a que não acrescentei este sentir... mas partilho-o aqui por saber que o deixo bem entregue.
Um grande abraço.
Obrigado, Ana Paula pelo belo comentário.
Grande Abraço
CP
Meu Caro JVC
A "entrevista" que tu supões que eu li é a que ele tem dado durante toda a vida.
Abraço
CP
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