APERTA-SE O CERCO
Se Judite de Sousa supunha que com a entrevista de quinta-feira prestava um favor a Duarte Lima, permitindo-lhe reverter a seu favor o clima de desconfiança que a pouco e pouco se foi instalando na opinião pública sobre o caso “Rosalina Ribeiro” enganou-se redondamente.
As explicações pouco ou nada convincentes de Duarte Lima sobre o seu papel na noite do crime deram lugar a uma nova investida da comunicação social, nomeadamente das televisões, SIC, TVI e RTP, mas também dos jornais, que não se poupou a esforços para através de vários testemunhos, principalmente colhidos no Brasil, deixar claro a natureza inusitada de alguns dos comportamentos daquela noite.
Para quem não queira alimentar o clima de suspeição, nem tão-pouco aduzir argumentos absolutórios do comportamento de Duarte Lima, o mínimo que se poderá dizer é que, para uma advocacia de milhões, se usaram processos típicos de uma advocacia de “vão de escada”.
Em primeiro lugar, é de “vão de escada” a advocacia de um advogado que ganha milhões e que numa causa de muitos milhões se propõe viajar de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro num carro alugado, para um encontro nocturno, sem que alguns meses depois se recorde do nome da empresa a que alugou o carro. Se não é exigível que se desloque em jacto privado - apesar da urgência da reunião…já que, se não fosse urgente, poderia ser realizada em Portugal três dias depois, data em que Rosalina tinha viagem marcada para Portugal - poderia e deveria, no mínimo, ter-se deslocado no avião de carreira que em poucas dezenas de minutos liga as duas cidades muitas vezes por dia, como se de uma verdadeira “ponte aérea” se tratasse.
Advocacia de “vão de escada”, em segundo lugar, já que só a natureza do aluguer pode justificar o esquecimento do nome da empresa locadora. Esquecimento, ou mais do que isso, desconhecimento perfeitamente normal, se o aluguer tiver sido feito a uma daquelas empresas “sem nome” que proliferam nas grandes cidades brasileiras, que recebem à cabeça o preço do aluguer e do qual não fica qualquer rasto…se tudo correr bem (isto é, se não houver acidentes). Obviamente, que se o aluguer tivesse sido feito numa multinacional ou numa grande empresa brasileira, presente em todos os estados, como a Localiza ou a Unidas, já seria muito mais difícil, para não dizer impossível, esquecer o nome da empresa com a qual contratou o aluguer.
Mas também é de “vão de escada” uma advocacia que trata de assuntos tão importantes depois das oito da noite numa “lanchonete” do Flamengo. E mais ainda o será se se propõe levar de noite a sua cliente para um encontro nos arredores do Rio de Janeiro, deixando-a só com um desconhecido…tão desconhecido que, mais de oito meses volvidos, ainda ninguém conhece! Aqui, a advocacia sem deixar de ser de “vão de escada” como que se transforma também numa espécie de “advocacia clandestina”… em que o advogado deixa o seu cliente, de noite, entregue à sua sorte nos arredores de uma cidade como o Rio de Janeiro. Então, há algum advogado que, não querendo esconder o seu patrocínio, se refugie na “clandestinidade” no exacto momento em que o seu cliente se prepara para fazer um dos mais importantes negócios relacionado com os bens da “herança em litígio”?
Como advogado, o comportamento de Duarte Lima deixou muito a desejar neste triste episódio. E a dúvida que resta é saber se actua sempre assim ou se só actuou assim com Rosalina Ribeiro. E é igualmente de estranhar que a Ordem dos Advogados, com base nas notícias vindas a público, ainda não tenha aberto um inquérito para, no puro plano deontológico, avaliar o comportamento de Duarte Lima. Marinho e Pinto, sempre tão presente nos casos que envolvem membros do governo ou tão rigoroso e exigente com as magistraturas, ainda não viu certamente no presente caso nada que justifique a intervenção da Ordem…