VALE A PENA LER
Para se perceber o que se passa na zona euro, diria até na União Europeia, não é preciso ser economista. É apenas necessário fazer um esforço de compreensão do que se está a passar. E a experiência diz que ser economista só poderá prejudicar a compreensão do que está acontecendo…
Qualquer pessoa habituada a lidar com a interpretação de factos, logo percebe que o facto de os critérios de Maastricht terem sido tão frequente e flagrantemente violados apenas significa que a “arquitectura” do euro, tal como foi concebida, tem de ser radicalmente substituída. Perseverar estupidamente no status quo, além das graves consequências que quase seguramente recairão sobre os “perseverantes”, só poderá ter como desfecho o abandono do euro e da própria União Europeia por alguns países mais afectados pela “crise”. E quando alguém tiver que sair por força das circunstâncias, acabará por vir tudo abaixo, mais dia, menos dia.
Em termos muito simples – e é em termos muito simples que temos de falar para combater a falsa complexidade do que está a acontecer – as coisas passam-se assim: em consequência do desenvolvimento acelerado dos grandes países emergentes e da perda de competitividade da Europa em relação a eles, agravada pela liberalização do comércio internacional sempre que ela vai ao encontro dos interesses do grande capital, a balança comercial dos países da Europa mais desenvolvidos passou a registar alterações muito preocupantes fundamentalmente traduzidas na diminuição das exportações e no aumento das importações. Para manter os anteriores equilíbrios, estes países “empurraram” estes desequilíbrios para os países menos competitivos – os países periféricos, principalmente do sul da Europa, mas não só -, compensando aquele decréscimo de exportações com um aumento correspondente das importações destes países, muito facilitadas pela “fartura” de “dinheiro barato”. Como esta situação não é por definição sustentável, tanto mais que ninguém pode permanentemente viver acima das suas posses por mais barato que o crédito seja, haveria de chegar o dia em que aqueles desequilíbrios se tornassem insustentáveis A crise do sistema financeiro acelerou a chegada desse dia. E o problema que agora se põe é como resolver a questão dentro dos países endividados. Ora, a via que está sendo seguida pela generalidade dos governos, seja por convicção ideológica, seja também por imposição do grande capital financeiro, é “empurrar” esses desequilíbrios para as classes trabalhadoras mais numerosas (logo de menores rendimentos) a fim de que sejam por elas pagos. Só que isto, como se verá, tem um limite temporal e espacial que não pode ser ultrapassado nem transposto…
O artigo de George Soros, no New Yorker Revue of Books, obviamente noutra linguagem, ajuda a compreender isto.
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