UMA TENTATIVA DE EXPLICAÇÃO
Num volte face inesperado relativamente ao que vinha sendo o recente discurso do Bloco sobre a censura parlamentar ao Governo, Louçã terminou a sua intervenção inicial no debate de hoje à tarde, desafiando Sócrates a apresentar uma moção de confiança.
O desafio, se fosse atendido, seria para o Governo de desfecho muito mais certo do que o de uma moção de censura, já que nenhum partido da oposição daria pela positiva ou pela abstenção o seu apoio ao Governo. Daí que Sócrates, claramente surpreendido por uma intervenção cuja conclusão era dificilmente antecipável, tenha reagido negativamente a tal desafio, acusando o Bloco de querer destabilizar politicamente o país. Louçã não perdeu tempo. Se o Governo não apresenta uma moção de confiança, apresentará o Bloco no dia 10 de Março uma moção de censura.
Perante este facto absolutamente inesperado poderá tentar compreender-se as motivações do Bloco e antecipar algumas consequências que seguramente terão sido ponderadas.
Em primeiro lugar, o Bloco sabe que a direita tem hoje pouco espaço para rejeitar uma moção de censura, seja quem for que a apresente e quaisquer que sejam os considerandos em que se fundamenta. Logo, o mais provável é que o Governo seja derrubado.
Em segundo lugar, o Bloco também não pode deixar de saber que Sócrates tinha mais a “lucrar” com uma moção de censura vinda da direita, do que da esquerda. E que a direita, indo à boleia do Bloco, alija o ónus, ou uma grande parte dele, que teria de suportar se tomasse a iniciativa de fazer cair o Governo.
Uma terceira questão, esta mais difícil de antecipar, é saber qual será a reacção de certo eleitorado do Bloco a este tipo de iniciativas.
Embora, como já se disse, nada fizesse prever este desfecho antes da conclusão da intervenção inicial de Louçã, pode dizer-se que as motivações do Bloco, de muito duvidosa eficácia eleitoral, parecem prender-se mais com a necessidade de descolagem do PS, em virtude da aparência criada por uma campanha presidencial a muitos títulos ambígua, do que propriamente pela necessidade de se antecipar ao PCP, embora as duas questões estejam intimamente relacionadas.
É um jogo arriscado…E o Bloco joga muito nesta cartada…
O desafio, se fosse atendido, seria para o Governo de desfecho muito mais certo do que o de uma moção de censura, já que nenhum partido da oposição daria pela positiva ou pela abstenção o seu apoio ao Governo. Daí que Sócrates, claramente surpreendido por uma intervenção cuja conclusão era dificilmente antecipável, tenha reagido negativamente a tal desafio, acusando o Bloco de querer destabilizar politicamente o país. Louçã não perdeu tempo. Se o Governo não apresenta uma moção de confiança, apresentará o Bloco no dia 10 de Março uma moção de censura.
Perante este facto absolutamente inesperado poderá tentar compreender-se as motivações do Bloco e antecipar algumas consequências que seguramente terão sido ponderadas.
Em primeiro lugar, o Bloco sabe que a direita tem hoje pouco espaço para rejeitar uma moção de censura, seja quem for que a apresente e quaisquer que sejam os considerandos em que se fundamenta. Logo, o mais provável é que o Governo seja derrubado.
Em segundo lugar, o Bloco também não pode deixar de saber que Sócrates tinha mais a “lucrar” com uma moção de censura vinda da direita, do que da esquerda. E que a direita, indo à boleia do Bloco, alija o ónus, ou uma grande parte dele, que teria de suportar se tomasse a iniciativa de fazer cair o Governo.
Uma terceira questão, esta mais difícil de antecipar, é saber qual será a reacção de certo eleitorado do Bloco a este tipo de iniciativas.
Embora, como já se disse, nada fizesse prever este desfecho antes da conclusão da intervenção inicial de Louçã, pode dizer-se que as motivações do Bloco, de muito duvidosa eficácia eleitoral, parecem prender-se mais com a necessidade de descolagem do PS, em virtude da aparência criada por uma campanha presidencial a muitos títulos ambígua, do que propriamente pela necessidade de se antecipar ao PCP, embora as duas questões estejam intimamente relacionadas.
É um jogo arriscado…E o Bloco joga muito nesta cartada…
Não está em causa nada do que Louçã afirmou nem o que todos sabemos sobre a política do Governo. Há no discurso de Sócrates contra a direita uma linguagem de esquerda que depois é permanentemente desmentida na sua prática política. E é igualmente verdade que nesta mistificação desempenha um papel “insubstituível” a chamada esquerda do PS, sempre pronta com a sua inacção a ratificar todas as políticas …a propósito das quais só manifesta o seu desacordo, depois de decididas e executadas.
Tudo isto é verdade. Porém, também é verdade que o PS perante uma direita como a que hoje domina o PSD, totalmente neoliberal, sabe tirar mais proveito eleitoral disso do que a esquerda.
4 comentários:
O BE não pode atacar directamente o neoliberalismo da direita porque tem o PS de permeio. Se ataca com obuses, passando por cima do PS para atingir o outro lado, expõe-se à acusação de incoerência, isto é, de ser condescendente, no que respeita o PS, com as posições políticas que condena no PSD e no PP. Se usa projécteis de trajectória plana, o PSD e o PP servem-se do PS como uma espécie de escudo humano; e o BE ficará exposto à acusação de causar a mais danos ao centro do que à direita.
Eu, no lugar do BE, optaria pela segunda hipótese: se a maior parte dos meus projécteis atingissem o PS, não teriam atingido uma vítima inocente. E pelo menos alguns deles iriam causar danos mais à direita.
Acresce que, se o PSD e o PP quisessem ripostar, lá estria mais uma vez o PS a servir de escudo humano. É certo que muitas das políticas do PS que a direita condena como "socialistas" só têm de socialista a circunstância de provirem dum partido com esse nome. Mas só têm que se culpar a si próprios: quando abusamos das palavras, as palavras vingam-se mais tarde ou mais cedo.
Se o Governo caísse, ou cair, na sequência de uma moção de censura do BE, voltaremos a ter um novo partido do taxi na AR.
JR
A moção de censura é um instrumento de derrube do governo, e assim está a ser valorizada, mas também é uma forma de afirmação ou imagem política, legítima. Que abre crise, como diz Assis (ó coimbrões, lembram-se do livro do professor Assis?), é parvoíce. Para posição política sem crise, basta apresentar uma moção com um texto que impeça o outro lado de a subscrever e de, assim, ter efeitos de derrube.
Parece-me claro que é o que se vai passar. O BE apresenta uma moção que lhe dá grande protagonismo mas, como não está interessado na substituição de Dupont por Dupond, faz isso com um texto vincadamente ideológico, não consensual, que dá pretexto ao PSD para não a votar, ao mesmo tempo que acaba sempre por comprometer o PSD com a manutenção do governo.
Era o que o PCP ia fazer, mas o BE antecipou-se.
Mas ficam sem possibilidade de apresentar outra moção, mais tarde. O que interessa? o BE vai esperar é pelo momento em que seja o PSD a assumir o ónus da "crise", com a sua própria moção.
PS - Achei muita piada ao comentário de JLS. Quase apostava que é oficial de artilharia. Conheço a linguagem.
A iniciativa do BE primeiro com a ameaça da moção de censura, depois com a mc explicada ao povo pelo deputado José Manuel Pureza, que ela seria uma moçãozinha de censura contra o PS e contra o PSD, o que dava uma feliz oportunidade ao PSD de a recusar e por fim a moção de censura completada com o desafio de Louçã ao PS para que apresente uma moção de confiança se quer evitar a moção de censura a prazo do BE... a iniciativa do BE, dizia, com todos estes episódios, é um tão "sofisticado" número de política circense que ninguém entende. Nem analistas políticos tão credenciados como o JMCM ou o JVC. De modo que o número de prestigiditação do BE só vai prejudicar o... BE. E assim será porque o PSD não quer eleições de imediato e o BE fica com o ónus de se oferecer de graça ao PSD para substituir o PS no Governo. Ora isto não serve para ganhar votos mas para perder votos. Mesmo no caso de poder servir para segurar alguns votos do esquerdismo mais radical das suas fileiras.
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