DEPOIS DO SAQUE DO PATRIMÓNIO HISTÓRIO E ARTÍSTICO
A Grécia, pátria fundadora da nossa civilização, depois das maravilhas artísticas, literárias e filosóficas com que dotou a cultura ocidental, foi-se tornando com o passar do tempo num lugar privilegiado para predadores de toda a espécie. Primeiro foram os romanos, porventura mais interessados em colonizar o saber do que em conquistar a terra, depois Bizâncio, e a seguir os otomanos que sem compreenderem bem a magnitude da ofensa que estavam praticando transformaram o Partenon num paiol de pólvora facilitando com a sua incúria e insensibilidade ao belo o desfecho perpetrado pelos canhões venezianos já então mais interessados, tal como hoje, em impor o domínio do dinheiro do que em preservar as grandes criações do espírito humano. A seguir vieram os “civilizados”, os netos e os bisnetos da cultura ali gerada, já muito mesclados de cristianismo, fazer a razia dos bens patrimoniais históricos, muitos dos quais hoje exibidos como coisa própria nas três grandes capitais europeias (Londres, Paris e Berlim), mas existentes um pouco por todo lado tal a magnitude do saque sofrido pela pátria helénica.
Entretanto, a Grécia penosamente voltou à história. No começo do século XIX (1822), depois de múltiplas vicissitudes, em que ao contrário do que hoje acontece não faltou na Europa de então, naquilo a que com propriedade se poderia chamar a Europa dos cidadãos, quem com ela se quisesse identificar e solidarizar (Lord Byron é, entre muitos outros, um exemplo conhecido) na reconquista da sua independência. É verdade que os gregos, alcançado o objectivo, como de costume, não se entenderam. Mas esse é um problema deles…embora, na altura, já com a Alemanha de permeio
Não interessa saber se os gregos de agora são os mesmos da era de Péricles ou se o ADN dos actuais tem alguma coisa a ver com os que na Ágora ateniense ou na academia de Platão dissertaram tão doutamente sobre a natureza humana a ponto de o interesse pelas suas palavras suscitar hoje o mesmo entusiasmo e interesse com que eram ouvidas há mais de dois mil anos ou mesmo se as virtudes guerreiras e o estilo de vida dos espartanos deixaram alguma influência nos que hoje habitam o Peloponeso. Isso não interessa – essa questão da filiação genética dos actuais nos ancestrais verdadeiramente só interessa aos judeus em Israel. O que interessa é que os gregos que hoje habitam a Macedónia, as ilhas jónicas, as do Mar Egeu ou as da Ásia Menor ou os que habitam a Ática e o Peloponeso, habitam os mesmos lugares sagrados onde outrora floresceu uma civilização e se gerou uma cultura ímpares na história da humanidade.
E é essa mesma Grécia que hoje é humilhada pelos donos do dinheiro com a arrogância e a brutalidade própria dos bárbaros. Não lhes basta não reconhecer a falência completa das políticas de austeridade que lhe impuseram para continuarem a alimentar com dinheiros públicos a ganância dos bancos. Querem mais: querem a Grécia vendida aos pedaços sob a supervisão de uma agência externa que ficaria encarregada de entregar aos credores os bens públicos gregos sob o disfarce de um processo de privatizações em larga escala.
As opções com que a Grécia se defronta – e com que outros a muito curto prazo igualmente se defrontarão - são difíceis. Mas entre dois males deve sempre escolher-se aquele que mais dano causa ao nosso inimigo. Entre continuar na União Europeia como um protectorado do directório, dominado pela Alemanha, fazendo sacrifícios sem conta nos próximos dez anos para no fim se ficar porventura pior do que se está hoje ou rejeitar-se completamente os diktats de Bruxelas com todas as consequências que isso acarreta, deixando os credores à mercê do devedor e encetando uma vida nova com sacrifícios, mas com futuro, é muito provável que esta segunda via venha a ser a escolhida pelos povos que entraram de boa fé no grande embuste europeu sem sequer se terem dado conta da gravidade da decisão que tomaram.
Agora é que o Dr. Mário Soares deveria publicar uma compilação dos slogans demagógicos com que enganou o povo quando lhe vendeu a “Europa connosco”, como paraíso escondido atrás da porta, fazendo tábua rasa ou ignorando os oito séculos de história que antecederam esta nefasta aventura!
Esta Europa, não! E outra não há…