ISTO VAI ACABAR MAL
O Primeiro Ministro de Israel, depois de ter recusado, na Casa Branca, o plano de paz proposto por Obama no fim da semana passada (negociação com base nas fronteiras de 1967), foi ontem recebido apoteoticamente no Congresso dos Estados Unidos, em reunião conjunta das duas câmaras.
Sentindo-se porventura até mais forte do que em Israel, Netanyahu começou por dizer que estava disposto a fazer “concessões dolorosas” para alcançar a paz, mas logo a seguir se percebeu que tal expressão não passava de uma figura de retórica que apenas o mais profundo cinismo poderia sustentar, já que tais concessões excluíam qualquer negociação sobre Jerusalém, não afectariam a presença militar israelita no Jordão (na parte oriental da Cisjordânia) nem os colonatos nos territórios ocupados e afastavam qualquer hipótese de regresso dos refugiados palestinianos aos seus lugares de origem. Ou seja, Benjamin Netanyahu limitou-se a repetir aquilo que Georges W. Bush já tinha dito numa conferência de imprensa na presença de Ariel Sharon – “que não era realista pensar numa retirada para as fronteiras de 67”.
Aplaudido 26 vezes, Netanyahu ridicularizou a proposta de paz de Obama – que aliás o próprio Obama no seu bem conhecido estilo pusilânime nem sequer por 24 horas tinha mantido – e demonstrou urbi et orbi que tem muito mais poder sobre o Congresso americano do que o pobre inquilino da Casa Branca.
Os palestinianos e a comunidade internacional ficaram assim a saber que a Palestina apenas poderá existir como uma espécie de bantustão de Israel ou então continuar como está.
Escusado será dizer que isto vai acabar mal. Não se sabe quando, mas vai. E também não será necessário dizer que, por mais bin ladens que os americanos matem, nunca conseguirão ser tão eficazes a matá-los como Israel a “fabricá-los”!
3 comentários:
Refere o autor ".afastavam qualquer hipótese de regresso dos refugiados palestinianos aos seus lugares de origem .." Pois,esta é que é a QUESTÃO que separa as águas. Quem fizer esta exigência a Israel está, de facto, a alinhar com os que põem a questão de forma mais linear negando a legitimidade do actual Estado. Os refugiados de há 40 ou 60 já estão quase todos mortos, os que agora reivindicam esse direito de regresso são várias vezes mais e esse é o problema. Já agora defenda-se também o direito de regresso a todos os refugiados, por exemplo os da Silésia, dos Sudetas e, já agora, da Krajina, Kosovo etc. etc. Porque não?
VD
Permita-me uma colherada: Não penso que seja Netanyahu, ou sequer o sempre agigantado lobby judaico, a "derrotar" Obama. Será talvez a percepção, certa ou errada, do stablishement americano de que a Israel continuará a ser a única garantia firme com que podem contar na região, e também de que as cedências parciais às reivindicações muçulmanas não resolverão duradouramente os problemas na região e, portanto , não poderão descartar o Estado de Israel tal como existe, isto independentemente de outros factores: o em parte imaginário poder financeiro dos judeus,influência nos meios académicos,na comunicação social, religiosa, mesmo afectiva etc. etc. etc.
LG
O direito internacional tem regras. A ocupação de território alheio tem regras. Da ocupação não pode no actual DI resultar a anexação de território. Discutir agora em que assentam as regras, se na força, se na moral, seria excessivo. O que parece não haver dúvida - pelo menos para muitos – é que não há validade da regra sem efectividade, ou seja, a validade da regra repousa em última instância na sua efectividade. E a regra efectiva na comunidade internacional é a acima enunciada e não aquela que Israel pretende impor para o seu caso particular.
Curiosamente, quem invoca o direito de regresso é Israel. Em Israel ninguém fala em Cisjordânia, mas em Judeia e Samaria, terras judaicas donde os judeus saíram há quase dois mil anos. É esta a justificação dos colonatos na Cisjordânia. Só que então não vigorava o actual direito internacional…
Enfim, ninguém duvida que o conflito israelo-palestiniano é dos mais complexos da história contemporânea, mas é também o que mais envenena as relações internacionais entre o Ocidente e os muçulmanos, porventura até mais do que com os árabes (isto é, com a nomenklatura árabe).
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