HÁ ALGUMAS DIFERENÇAS , MAS MUITAS MAIS SEMELHANÇAS
Mesmo sem os ouvir, treslendo-os de longe, percebe-se o que PS e PSD pretendem depois de conhecido o “programa do FMI/BCE/EU”, imposto a Portugal para pagamento aos credores, nas condições e nos termos por estes estabelecidos.
O PS tendo dito repetidas vezes, pela voz de Sócrates, que não estava disponível para governar com o FMI, tinha de criar um cenário que lhe permitisse voltar com a palavra atrás sem grande dano, dando simultaneamente a entender que, sem a sua “participação activa” nas negociações, tudo seria incomparavelmente pior. Para isso nada melhor do que deixar livremente circular notícias (outros dirão, posto a circular notícias) que apontavam para sacrifícios verdadeiramente insuportáveis, nomeadamente traduzidos em diminuições directas dos salários e reformas.
É sabido que a psicologia popular reage muito mais emotivamente a sacrifícios directos do que a indirectos. Os directos sentem-se imediatamente e atingem por igual aqueles sobre que incidem; os indirectos sentem-se a posteriori e, embora possam até ser mais graves, não atingem por igual nem ao mesmo tempo aqueles sobre que recaiem.
Tendo-se criado por acção dos media a antecipação de uma situação que acabou por não acontecer, é obvio que o partido que mais directamente participou nas negociações vai procurar tirar vantagem de não ter acontecido aquilo que nunca esteve para acontecer, mas que generalizadamente se supunha que iria acontecer.
O PSD, por seu turno, estando convencido de que vai ganhar as eleições, fez todo o possível para que no “programa dos credores” figurassem todas as medidas com as quais concorda para não ter que suportar a impopularidade de as defender (o que certamente não faria, pelo menos, às claras) e, principalmente, de as executar como obra sua.
Embora tenha conseguido muito do que pretendia, não conseguiu tudo – os lobbies que a direcção do PSD representa gostariam de ter assegurado a privatização imediata da CGD, a reforma da segurança social no sentido da sua privatização, a hegemonia do ensino privado sobre o público, um outro conceito de SNS, etc. Como, porém, não poderia ter uma acção pública totalmente orientada para a defesa dos “grandes interesses”, acabou também por cantar vitória relativamente às pequenas diferenças entre o actual “programa” e o PEC IV, no que respeita a sacrifícios directos incidentes sobre os mais baixos rendimentos.
As semelhanças que existem entre ambos, PS e PSD, são contudo muito mais importantes do que as diferenças.
Em primeiro lugar, tanto um como outro aceitam sem pestanejar um programa de recessão para a economia portuguesa, sem sequer questionarem os verdadeiros fundamentos dessa opção. Ou seja, ambos continuam a defender uma política europeia anti-patriótica, contrária aos interesses nacionais, na mais estrita obediência a interesses estrangeiros, na vã esperança de que tal comportamento acabará por trazer vantagens futuras.
Depois, tanto um como outro, aceitam passar para as mãos do capital privado, a preços de saldo, empresas públicas, prestadoras de serviços públicos essenciais, com o mesmo colaboracionismo de que, um e outro, já deram provas no passado.
Finalmente, nem um nem outro, ousam pôr em causa a grande “roubalheira” representada pelas parcerias público-privadas. Pudera, se foram eles que as criaram! Realmente, ninguém é tão reiteradamente incompetente. A reincidência só pode ter outras causas…
Mesmo sem os ouvir, treslendo-os de longe, percebe-se o que PS e PSD pretendem depois de conhecido o “programa do FMI/BCE/EU”, imposto a Portugal para pagamento aos credores, nas condições e nos termos por estes estabelecidos.
O PS tendo dito repetidas vezes, pela voz de Sócrates, que não estava disponível para governar com o FMI, tinha de criar um cenário que lhe permitisse voltar com a palavra atrás sem grande dano, dando simultaneamente a entender que, sem a sua “participação activa” nas negociações, tudo seria incomparavelmente pior. Para isso nada melhor do que deixar livremente circular notícias (outros dirão, posto a circular notícias) que apontavam para sacrifícios verdadeiramente insuportáveis, nomeadamente traduzidos em diminuições directas dos salários e reformas.
É sabido que a psicologia popular reage muito mais emotivamente a sacrifícios directos do que a indirectos. Os directos sentem-se imediatamente e atingem por igual aqueles sobre que incidem; os indirectos sentem-se a posteriori e, embora possam até ser mais graves, não atingem por igual nem ao mesmo tempo aqueles sobre que recaiem.
Tendo-se criado por acção dos media a antecipação de uma situação que acabou por não acontecer, é obvio que o partido que mais directamente participou nas negociações vai procurar tirar vantagem de não ter acontecido aquilo que nunca esteve para acontecer, mas que generalizadamente se supunha que iria acontecer.
O PSD, por seu turno, estando convencido de que vai ganhar as eleições, fez todo o possível para que no “programa dos credores” figurassem todas as medidas com as quais concorda para não ter que suportar a impopularidade de as defender (o que certamente não faria, pelo menos, às claras) e, principalmente, de as executar como obra sua.
Embora tenha conseguido muito do que pretendia, não conseguiu tudo – os lobbies que a direcção do PSD representa gostariam de ter assegurado a privatização imediata da CGD, a reforma da segurança social no sentido da sua privatização, a hegemonia do ensino privado sobre o público, um outro conceito de SNS, etc. Como, porém, não poderia ter uma acção pública totalmente orientada para a defesa dos “grandes interesses”, acabou também por cantar vitória relativamente às pequenas diferenças entre o actual “programa” e o PEC IV, no que respeita a sacrifícios directos incidentes sobre os mais baixos rendimentos.
As semelhanças que existem entre ambos, PS e PSD, são contudo muito mais importantes do que as diferenças.
Em primeiro lugar, tanto um como outro aceitam sem pestanejar um programa de recessão para a economia portuguesa, sem sequer questionarem os verdadeiros fundamentos dessa opção. Ou seja, ambos continuam a defender uma política europeia anti-patriótica, contrária aos interesses nacionais, na mais estrita obediência a interesses estrangeiros, na vã esperança de que tal comportamento acabará por trazer vantagens futuras.
Depois, tanto um como outro, aceitam passar para as mãos do capital privado, a preços de saldo, empresas públicas, prestadoras de serviços públicos essenciais, com o mesmo colaboracionismo de que, um e outro, já deram provas no passado.
Finalmente, nem um nem outro, ousam pôr em causa a grande “roubalheira” representada pelas parcerias público-privadas. Pudera, se foram eles que as criaram! Realmente, ninguém é tão reiteradamente incompetente. A reincidência só pode ter outras causas…
3 comentários:
Mais uma vez, óptima síntese.
Mas ainda há pouco recusava, mais ou menos, nos seus artigos perder tempo com a escalpelização das causas internas (governação, comportamento de particulares e empresas, nomeadamente dos bancos) da catástrofe e vexame associado, pondo toda a ênfase nas propostas de saída que, parece-me, assentavam no pressuposto de que os problemas tinham basicamente origem na exploração das economias fracas pelo centro. Finalmente fala na "roubalheira" interna. E a gestão, pública e privada, grosseiramente negligente e danosa presente em muitas áreas que vão das PPP aos investimentos ruinosos à gestão do FSE às reestruturações na A.P. e empresas públicas só com o fito de criar pasto para a boyada, ao esbanjamento em toda o Estado e adjacências (carros e mordomias para todos lembrar aqui a pouca vergonha dos cartões de crédito como sinal de modernismo) etc. etc.? Não me prece que se possam considerar culpados os credores porque, em casa deles, seguem outras regras.
Apenas duas notas, que até nem são de discordãncia:
Primeira - a "mão leve", para o semestre que resta de 2011, também terá a ver com a procura de "adesões" (ou neutralização de vozes discordantes) num contexto muito questionável do ponto de vista da sua própria democraticidade.
Segundo - A questão (parcerias PP) dificilmente poderá ser entendida (ou explicada) do ponto de vista das competencias, mas sim (no meu entender) da promiscuidade consentida por parte do poder e da forma em como este é usado para beneficio de determinados grupos económicos.
Excelente post, de resto.
Como tantas vezes, verificamos depois que quase nos repetimos a escrever. É bom, dá a ideia aos nossos leitores de que "les bons esprits se rencontrent". Deixei nota disto no meu último post no Moleskine.
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