segunda-feira, 4 de junho de 2012

A CONFERÊNCIA DE IMPRENSA DE VÍTOR GASPAR




O QUE IMPORTA SUBLINHAR
Government nationalize banks to save economy (Express)



Deixando de lado as parvoíces da generalidade dos comentadores encartados que após cada conferência do Ministro das Finanças nos flagelam com explicações e justificações estúpidas e cretinas sobre o que ele disse, que já não paciência para ouvir, e sem entrar em linha de conta com o óbvio que consiste em considerar um êxito aquilo que cada dia mais agrava a economia e a vida dos portugueses – êxito cuja justificação está no facto de estarem a ser dados passos seguros no sentido da construção de uma sociedade esclavagista de tipo novo – o que importa verdadeiramente sublinhar são duas coisas da maior gravidade que passaram relativamente despercebidas depois da conferência de imprensa.

A primeira, para a qual já aqui chamámos múltiplas vezes a atenção dos leitores, é a de Gaspar mais uma vez ter reafirmado com toda a convicção um dos grandes mandamentos da ortodoxia neoliberal extrema: o relançamento da economia faz-se pela “melhoria” da oferta e não pelo estímulo da procura.

E a segunda é a de que há que diminuir os custos unitários do trabalho para assegurar a competetividade da economia.

As duas questões estão intimamente ligadas e ambas visam a construção da tal sociedade esclavagista de tipo novo.

Pela primeira, o que Gaspar quer dizer é que o Estado não vai de modo algum animar a economia com investimentos em infra-estruturas físicas ou sociais. O que significa que mesmo os tais project bond que a Comissão anda a preparar em Bruxelas juntamente com o BEI não serão acolhidos em Portugal ou se o forem terão de ser adaptados àquele princípio. Tudo o que cá se fizer para "promover o crescimento" será exclusivamente pelo lado da oferta – é claro que esta oferta estará privilegiadamente virada para o estrangeiro (exportações) tanto mais que estando a procura nacional deprimida pelas razões conhecidas poucas possibilidades ela terá de aceder àquela oferta. E a oferta que visa o mercado interno por via da substituição de importações não passa de uma miragem relativamente à maior parte dos produtos pelo tempo que isso leva a consumar-se, se é que com estas políticas alguma vez se vai consumar. Portanto, para Gaspar, o caminho certo é seguro para o crescimento é a austeridade

Pela segunda, intimamente relacionada com a primeira, Gaspar o que em última instância diz que vai fazer é diminuir os salários e se necessário for “estoirar” com a segurança social, baixando a TSU ou outros encargos.

Gaspar e Borges, a mesma luta, portanto. Com uma relevante diferença: Borges fá-lo por ser um refinadíssimo (ver post anterior); Gaspar, por ideologia, logo muitíssimo mais perigoso.

Em Portugal está a fazer-se com eleições o que no Chile para ser levado à prática precisou de um Pinochet. De facto, o “extraordinário povo português” é mesmo uma raridade sociológica!

Em Espanha, Rajoy mantém um duríssimo braço de ferro com a Alemanha quanto à intervenção que ele está recusando e a Alemanha exigindo para para libertar o dinheiro para os bancos, ou seja, "dinheiro por soberania", não apenas por orgulho nacional, mas também porque ele sabe que se, depois do que já fez nas despesas sociais, tocasse nos salários e nas reformas, como a Troika iria exigir, não poderia governar. Enquanto cá esse é um problema que se não põe.

Digamos as coisas como elas são: Gaspar é um dos mais perigosos e nefastos ideólogos do neoliberalismo. Mesmo que Gaspar entenda que esse é o caminho para o BEM - e relativamente aos fanáticos devemos sempre acreditar que eles são sinceros – essa é mais uma razão para que todos os meios, sem excepção de nenhuma espécie, sejam congregados com vista ao derrube desta gente. A História demonstra que não há nada mais perigoso no Homem do querer fazer o BEM. Milhões e milhões de pessoas foram durante séculos sacrificadas a esse pretenso objectivo supremo!
Fora com eles!!!


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