A DIREITA E
SEUS COMPAGNONS DE ROUTE RESPIRARAM
DE ALÍVIO
Se a Grécia não tem peso que se veja, se a sua depauperada
economia não representa mais que 2% da economia europeia, se até o sempre
fleumático Chancellor of the Exchequer, que formalmente nem é desta “guerra”,
aconselhou a Grécia a deixar o euro, porquê tanta preocupação na Europa com as
eleições gregas?
Porque de facto a Grécia tinha na mão a chave que permitia abrir
novos caminhos para os povos da Europa que já estão sofrendo e vão continuar a
sofrer na pele as consequências das políticas que fazem da manutenção do euro
um caminho seguro para o empobrecimento do maior número em proveito de alguns,
poucos, Estados e de camadas privilegiadas dos países mais endividados.
Não vale a pena andar
com muitos rodeios acerca desta crise. Ou a moeda e as políticas económicas da
União Europeia, bem como a superestrutura política que a dirige são
completamente reformuladas na base de um aprofundamento democrático em todos os
planos, com vantagens mútuas e recíprocas, que afastem pelos seus princípios e
pela sua prática a ideia de que os que estão pior apenas querem ficar melhor à
custa dos que estão bem - e, francamente, não se vê nem se vislumbra como tal
possa ser possível no contexto do capitalismo neoliberal dominado pelo capital financeiro
e especulativo, todo ele empenhado em garantir a taxa máxima de exploração no
mais curto espaço de tempo possível; ou este “arranjo” em que a Europa foi
vivendo nestes últimos cinquenta anos tem de acabar. E nada melhor para o
futuro de que o fim de um status quo arrogante,
prepotente e iníquo se operar por via de convulsões sociais capazes de pôr em
causa tudo o que até então era tido por mais certo e mais seguro.
Ora os gregos poderiam ter dado ontem um passo muito
importante nesse sentido. No sentido de acabar com este beco sem saída em que a
União Europeia se está transformando ou já se transformou mesmo. À parca
democracia que existia no plano dos Estados, muito degenerada pela própria
evolução da democracia representativa que nos últimos tempos tem caminhado a
passos largos no sentido inverso ao do conceito democrático, juntou-se a ausência
completa de autodeterminação popular no plano da União. Aqui, contrariamente ao
que sempre começou por acontecer em qualquer federação ou para-federação, que
para se erguer e institucionalizar sempre teve de fazer apelo aos mais lídimos
princípios democráticos (independentemente de com o tempo os vir a respeitar
completamente), fez-se exactamente o contrário: o que foi feito fazia-se nas
costas do povo, que ficava totalmente à margem das decisões, tendo o processo
de decisão sido sempre rodeado da maior opacidade.
O meio perverso que foi servindo de base à consolidação deste
caminho foi o dinheiro. Tudo foi sendo comprado: sectores inteiros do aparelho
produtivo; autonomia de decisão em questões económicas fundamentais com base
nas famigeradas regras da concorrência sempre entendidas no sentido da
concentração capitalista; enfim, a própria soberania. E tudo a direita vendeu
sempre bem acompanhada pelos conhecidos companheiros de percurso. Uma venda
iníqua que deixava, como deixou, o vendedor sem meios de alguma vez poder
economicamente aproximar-se do comprador.
Por isso, não adianta supor que isto se resolve com reformas
titubeantes e demoradas. Não será a mutualização da dívida, nem mesmo a reforma
do BCE que vão resolver os nossos problemas. Eles têm sem dúvida uma expressão
monetária mas a sua origem está no “sub-solo” e no “solo” da economia real. Enquanto
estas questões não forem democraticamente resolvidas, os problemas manter-se-ão.
Mesmo que episodicamente se atenuem ressurgirão com mais força e sempre mais
difíceis de resolver.
Muitos pensam que parte ou mesmo a totalidade dos nossos
problemas se resolveriam se o BCE desempenhasse um papel semelhante ao da
reserva federal americana. Provavelmente não teríamos os problemas que temos no
plano monetário ou não os teríamos com a mesma intensidade, mas teríamos
outros, semelhantes àqueles com que os americanos se debatem. Copiar a América no plano
económico – e é inequivocamente nesse sentido que a União Europeia se orienta desde
há mais de uma dezena de anos – não é solução, independentemente das conjunturais
divergências, mais aparentes do que reais, entre defensores da austeridade e do
“crescimento” neoliberal. É quase tudo igual. É bom não esquecer que o êxito do
New Deal e das doutrinas keynesianas não esteve apenas no relançamento da
procura por via de investimentos públicos, mas fundamentalmente na
redistribuição dos rendimentos. Basta atentar no caso português destes últimos
dez anos para logo se perceber que a utilização daquele meio sem o outro, ainda
por cima no contexto altamente desigual do espaço económico europeu, não
constitui solução.
Por tudo isto teria sido da máxima importância que um partido
completamente diferente de todos aqueles que têm governado a Europa tivesse
chegado ao poder pela via eleitoral. Não chegou. A Europa respirou de alívio,
diz-se. Diz-se, mas é falso. Quem respirou de alívio foi o capitalismo!
6 comentários:
Penso que os acontecimentos vão fazer a vontade ao autor, pelo menos no que respeita ao fim deste arranjo. Isto não tem ponta por onde se lhe pegue, nem se percebe o porquê das manifestações de regozijo de alguns (dos euro-burocratas entende-se - enquanto o pau vai e vem vai vencendo o belo ordenado e prebendas associadas). Ainda há escassas horas vi declarações do MNE Alemão, que, penso, são recentes, que não dão grande suporte a esse optimismo.
LG
RATOEIRAS...
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Marionetas ao serviço da superclasse:
-> PESSOAL QUE "VENDE TUDO E MAIS ALGUMA COISA":
- pessoal que andou a promover endividamento... agora anda por aí a argumentar que - por forma a evitar que a Europa caia num caos financeiro/económico - é absolutamente necessário um salto quântico federal («implosão das soberanias»): uma unificação financeira e fiscal da Europa.
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-> A existência duma estratégia demográfica... foi sempre considerada como fundamental para uma estratégia de luta pela SOBREVIVÊNCIA de longo prazo: ver este blog Origem Tabu-Sexo .
-> Ora, existindo não-nativos JÁ NATURALIZADOS com uma demografia imparável em relação aos nativos... como seria de esperar, abunda por aí muita conversa para 'parvinhos-à-Sérvia'.
---> FN, PNR, etc... quem só vê um palmo à frente do nariz... anda por aí, de década em década, A CURTIR UMA ALEGRE decadência 'kosovariana'.
--->>> Não vamos ser uns 'parvinhos-à-Sérvia'... antes que seja tarde demais, há que mobilizar aquela minoria de europeus que possui disponibilidade emocional para se envolver num projecto de luta pela sobrevivência... e SEPARATISMO-50-50!...
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ANEXO:
--> A superclasse (alta finança internacional - capital global, e suas corporações) não só pretende conduzir os países à IMPLOSÃO da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à IMPLOSÃO económica/financeira.
--> Só não vê quem não quer: está na forja um caos organizado por alguns - a superclasse: uma nova ordem a seguir ao caos... a superclasse ambiciona um neo-feudalismo.
Tudo isto pode ser verdade.
Com muito do que é dito eu concordo. Este arranjo/solução não é solução para nada. Quem ganha é o capitalismo, os especuladores, a Alemanha, blá, blá, blá.
Não vi ainda foi alguém analisar o sentido de voto dos gregos. Politicamente, sociologicamente, ou outro "mente" qualquer.
Porque será que, como o Zé Manuel diz, sendo “da máxima importância que um partido completamente diferente de todos aqueles que têm governado a Europa tivesse chegado ao poder pela via eleitoral.”, essa não foi a opção do povo grego quando, antes dos resultados, toda a gente afirmava que sim e até mesmo alguns políticos de outros países, da mesma área política do Syriza, já se dirigiam para a Grécia para ajudar na elaboração do programa de governo?
De mal esclarecidos sobre as consequências e a situação, os gregos não podem ser rotulados.
Será que a vontade do povo, democraticamente expressa, não serve mais? Será que o povo é burro? Será que não é mais soberano?
Ou será que é masoquista apostando na sua própria tortura?
Eu, que sou mero observador, estava esperando que os experts já tivessem apresentado uma interpretação para esta escolha do povo grego.
Vou continuar esperando.
JR
Meu Caro JR
Essa ideia de que em democracia o povo exprime livremente a sua vontade é uma falsidade. E mais ainda é supor que a vontade que exprime coincide com os seus interesses.
Nunca como nas eleições gregas de domingo houve uma tão forte pressão sobre os eleitores. Dentro e fora da Grécia tudo foi feito para que o voto fosse no sentido politicamente "correcto". Os eleitores estavam muitíssimo condicionados.
Já não me refiro aos adjectivos da imprensa internacional, refiro-me às ameaças. Quanto aos adjectivos V ouviu alguém dizer durante a campanha, por exemplo, que o partido dos batoteiros de direita estava a par do Seryza? Não ouviu, mas fartou-se de ouvir adjectivos qualificativos da acção política da esquerda... E todavia a Nova Democracia (e o PASOK) é composta pelo que de pior há na Grécia.
Alcançar um pouco menos de um terço do eleitorado nas condições em que se realizaram as eleições é um feito extraordinário.
Dentro de muito pouco tempo vai ter a resposta do eleitorado grego ao governo que elegeu. Não vai ser preciso esperar muito.
Esta democracia que se pratica na Europa é a democracia deles, a dos Portas, dos Seguro e dos Passos Coelho de cá e de lá. Tudo o que não fique por aqui já não é democracia. A grande questão é como instituir uma verdadeira democracia que seja "só nossa". Sem eles, mas democracia! É difícil, mas não é impossível, apesar de as tentativas conhecidas não terem resultado nada bem.
Meu caro Zé Manuel,
Deu-se conta do perigoso que é aquilo que acaba de afirmar?
Foi assim que começaram realidades históricas que hoje muito lamentamos.
Diga-me então quem escolheria quem seriam os “eles” e quem seriam os “nós”? E o que faríamos com os tais “eles”? Purga? Que, pelos vistos, seria grande também.
Pelo que diz sobre as eleições gregas, sou obrigado a concluir que se os eleitores gregos têm votado cerca de 2% mais no Syriza, eram eleitores esclarecidos, que votavam de acordo com os seus interesses e sem pressão. Como votaram 2% menos num determinado sentido, o seu voto foi condicionado. Ou seja: o que acabou de escrever reduz-se a 2%?
Desculpe meu amigo mas, vindo de si, jamais poderei aceitar.
Concordo que a democracia, tal como a vivemos hoje, não serve. Mas, infelizmente, não conheço alternativa válida.
JR
Meu Caro JR
Mas há alguém que, sem preocupações teóricas sobre a natureza do conceito democrático, seja capaz de negar que o eleitor grego foi altamente condicionado no seu voto? E não se trata de 2% do eleitorado. Trata-se de muito mais, muitíssimo mais. Isso é uma realidade que ninguém pode negar. Como ninguém pode negar que impediram os gregos de fazer um referendo sobre o Memorandum da Troika. Esta é a democracia deles. Claro que eu não quero esta. Quero outra. Outra onde eles não possam fazer isto. Abraço
CP
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