TUDO A PIORAR
Depois da “cimeira decisiva” do fim do mês de Junho, em que
se tomaram “decisões históricas para salvar o euro”, continua tudo na mesma com
tendência para piorar.
Enquanto a Grécia se mantém em entreacto, com uns dinheiritos
que devem dar até ao fim do mês de Julho, até parece que a crise deixou de
existir. Mas não deixou. Dentro de muito pouco tempo agravar-se-á dramaticamente
e mesmo que a Troika lhe conceda um alargamento do prazo para alcançar as metas
fixadas no Memorandum nada disso alterará num milímetro que seja a gravidade da
situação grega.
Quanto a Espanha as coisas também são muito claras. Tal como
já se sabia, enquanto não houver um supervisor bancário único, o FEEF, e mais
tarde o MEDE – e esse mais tarde não se sabe quando será uma vez que o assunto
está pendente de decisão do tribunal constitucional alemão -, não emprestará
directamente dinheiro aos bancos, devendo o Estado espanhol endividar-se
se quer recapitalizar o sector financeiro falido. De facto, esse supervisor
bancário não existe, nem existirá tão cedo, como Schäuble já teve oportunidade
de “explicar” aos espanhóis. Mas mesmo que essa possibilidade existisse, a
situação da Espanha não melhoraria já que não há nenhuma razão para supor que
os juros da dívida pública se atenuariam por esse motivo assim como não se
atenuarão com as drásticas medidas que acabam de ser tomadas para “amansar” os
mercados. Pura ilusão, tal como aconteceu na Grécia e em Portugal essas medidas
agravarão a crise e arrastarão a economia espanhola para uma situação cada vez
mais difícil.
Bem vistas as coisas, o que há de mais racional no capitalismo
financeiro do nosso tempo é o papel dos especuladores. São os únicos que actuam
com inteligência e racionalmente, com total desprezo pelas múltiplas balelas a
que os economistas e os políticos frequentemente atendem para tomar as
decisões e fazer as previsões.
Eles sabem que mais importante do que a percentagem da dívida
pública espanhola relativamente ao PIB (neste momento ainda inferior à da
dívida alemã) é a capacidade da economia para pagar os compromissos assumidos.
E é exactamente por a Espanha não ter essa capacidade tão cedo que os juros
continuam a subir tornando inviável o refinanciamento da dívida e empurrando a
Espanha para um resgate do próprio Estado. De resto já existe do ponto de vista
prático um programa económico imposto pela Troika (ver aqui as 32 medidas "recomendadas" por Bruxelas)
como contrapartida do empréstimo concedido para o resgate dos bancos. E como o resgate dos bancos vai acelerar o resgate do próprio Estado, a situação
espanhola só poderá piorar nos próximos tempo. Aliás, a situação espanhola é
mais grave do que a portuguesa. Desde que bem entendido pode até dizer-se que
Portugal teve a “sorte” de praticamente não ter tido (com este modelo económico)
crescimento durante os anos de moeda única. E mesmo assim é o que se vê… Em
Espanha, onde as coisas se passaram de modo relativamente diferente, e em
grande, está a pagar-se e vai ter de se continuar a pagar a falsa prosperidade vivida durante aqueles anos.
E é esta situação por que os Estados periféricos já
intervencionados ou em vias de o serem estão a passar que arrasta a zona euro para
um beco sem saída, ou melhor, para o fim do euro.
O euro como tem sido dito à saciedade foi mal concebido e isso
vê-se muito melhor nos tempos de crise. Prescindindo das causas da situação a que
se chegou, que também têm sido analisadas de múltiplas perspectivas, o ponto em
que se está é mais ou menos este: a Europa (ou seja, o BCE) empresta dinheiro
aos bancos (Passos Coelho diz que não empresta, mas embora o acto possa
tecnicamente qualificar-se de outro modo é na realidade de um empréstimo que se
trata) para que estes salvem os Estados comprando dívida pública (que aumenta,
às vezes até exponencialmente, em consequência da crise) e os Estados endividam-se
junto dos fundos de resgate europeus para salvar os bancos. Como a União
Europeia constitui um mercado livre composto por economias desiguais –
desigualdade que a crise vem acentuando gravemente – ninguém poderá impedir que
os capitais, inclusive (ou principalmente) os dos países em crise, afluam para
os países economicamente mais fortes. E quanto mais afluem (como aconteceu e
está a acontecer com a Grécia, a Espanha e também com Portugal, embora em menor
grau) mais debilitadas ficam as economias de onde saem e mais fortes as
economias para onde migram.
E como com o agravamento da situação não há nenhuma
possibilidade de restabelecer o status
quo ante, que era de crise encoberta, também não vai haver nenhuma hipótese
de os juros baixarem para níveis sustentáveis. E sem dinheiro não se sairá da
crise…
E não vai ser com as políticas de austeridade cujos
resultados estão à vista - recessão, desemprego em massa, quebra
substancial dos salários nominais, juros proibitivos, mais endividamento – que se
sairá da crise. Tão pouco terão algum efeito positivo as medidas que têm vindo
ou vão ser a ser adoptadas com o nome de “pacote para o crescimento” ou as que
estão sendo propostas como as de unificação e controlo das políticas fiscais
(orçamentais) já que nenhuma delas ataca verdadeiramente os problemas que estão
na origem da crise estrutural do euro.
Nesta Europa muito desigual, sujeita a regras iguais para
todos, as desigualdades tenderão a aumentar e não a esbater-se. E quanto mais
aumentam mais a crise se agrava. Não é por acaso que múltiplas personalidade da
vida económica que até há pouco tempo tinham mantido uma posição
reservada quanto ao futuro do euro dão hoje a entender claramente que não
acreditam na sua sobrevivência.
5 comentários:
Para muita gente, a "derrota dolorosa de Merkel perante Monti e Rajoy"... é uma derrota perante diversos estratagemas para injectar dinheiro em bancos falidos...
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Pessoal que andou a promover endividamento... agora anda por aí a argumentar que - por forma a evitar que a Europa caia num caos financeiro/económico - é absolutamente necessário um salto quântico federal (eurobonds... e... «implosão das soberanias»): uma unificação financeira e fiscal da Europa.
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O regabofe acabará por afundar todos...
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P.S.
-> A superclasse (alta finança internacional - capital global, e suas corporações) não só pretende conduzir os países à IMPLOSÃO da sua Identidade (dividir/dissolver identidades para reinar)... como também... pretende conduzir os países à IMPLOSÃO económica/financeira.
-> Só não vê quem não quer: está na forja um caos organizado por alguns - a superclasse: uma nova ordem a seguir ao caos... a superclasse ambiciona um neo-feudalismo.
Há dias, num debate sobre o "estado da Nação" na SIC, que vai sempre dar ao memso,-estado da "U"E/Euro- um psiquiatra comparava os gastos com a saúde vs desfalque BPN/BPP, vai o João Salgueiro e num "à parte" corrige: "para tapar o buraco não, para garantir os depósitos dos clientes"!!!, Isto dá vontade de rir, mesmo vindo de um moderado com o J. salgueiro. No entanto este, J.S., disse uma coisa, para esfriar os entusiasmos federalistas do V. Soromenho Marques, que todos sabemos mas muita gente faz de conta que não: disse ele mais ou menos textualmente: Os dinamarqueses, finlandeses etc etc (e tb alemães) não querem, a única coisa que os levaria a avançar nesses caminho era o medo da URSS e isso já não existe!!
(E aqui que ningúem nos ouve, eu no lugar deles não pensaria de forma muito diferente. Apesar de tudo e de não serem nem anjos nem super-homens, não é frequente entre eles casos tipo Relvas,D. Lima, elegerem corruptos julgados e condenados, condomínio da Coelha etc etc etc, pelo menos aparentam alguma decência e "sentido de Estado". Por muito menos do que o negócio da venda "especial" de acções do BPN, o Presidente da Alemanha foi obrigado a demitir-se.
LG
De facto, há uma grande diferença entre o comportamento dos políticos nos países do Norte e nos países do Sul. Aqui, os que são apanhados, são mantidos até ao limites dos limiites - como foi o caso do Dias Loureiro por Cavaco e está a ser o do Relvas por Passos Coelho e outros exemplos semelhantes no tempo de Sócrates - enquanto que no Norte há uma espécie de regra não escrita que diz: "Se fores apanhado, demites-te imediatamente para não contagiares os outros". Talvez porque a o "patrimonialismo" no Sul esteja intrinsecamente ligado à política..talvez por outras razões...A verdade é que isto causa um descrédito total nas instituições e todos acham que têm o direito de se comportar de acordo com os exemplos que diariamente vêm de cima
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