segunda-feira, 23 de março de 2009

A RETIRADA DAS TROPAS ESPANHOLAS DO KOSOVO



AMERICANOS E NATO REAGIRAM MUITO MAL


Tem passado relativamente despercebida, mesmo entre os nossos “atlantistas”, a retirada unilateral das tropas espanholas do Kosovo.
No passado dia 18 de Março, Zapatero e Chacón, Ministra da Defesa, decidiram retirar as tropas espanholas, ficando a Ministra encarregada de comunicar publicamente o facto, no dia seguinte, aquando da sua visita às tropas naquele território.
A presença militar da Espanha no Kosovo, depois da declaração de independência e seu reconhecimento pela maior parte dos países da UE e da NATO, constituía um factor de incomodidade para as forças políticas espanholas. Tendo a Espanha recusado o reconhecimento do Kosovo e tendo ainda recentemente Zapatero assegurado ao Primeiro-ministro sérvio que a Espanha não o faria, a presença militar de Espanha nas forças da NATO (KFOR) era muito difícil de gerir politicamente pela permanente contradição em que o país era colocado de, por um lado, não ter reconhecido a independência do Kosovo, e, por outro, pertencer a uma força que, diga-se o que se disser, tem também por finalidade proteger essa mesma independência (contra a Resolução 1244 do Conselho de Segurança das NU).
Durante vários meses multiplicaram-se os artifícios para demonstrar que não havia qualquer contradição, mas acabou por chegar o momento, sempre ditado pelas vicissitudes da política interna espanhola, relativamente aos nacionalismos basco e catalão, em que não havia mais margem de manobra para continuar.
Digamos que sobre o fundo da questão haveria uma relativa unanimidade entre as principais forças políticas espanholas (PP e PSOE), embora Moratinos, diplomata e Ministro dos Negócios Estrangeiros, fosse de opinião que a Espanha deveria manter-se, apesar das dificuldades.
Obviamente que a presença da NATO no Kosovo assenta num pecado original que as forças políticas espanholas, antes da declaração de independência do Kosovo, nunca puseram em causa. Referimo-nos à intervenção da NATO na Jugoslávia, Kosovo incluído, à margem das Nações Unidas e contra o direito internacional, ao abrigo do famigerado direito de ingerência, historicamente usado por todos os impérios em ascensão ou consolidados, para defesa dos seus próprios interesses. É certo que, depois de vencida a Sérvia, a Resolução 1244 do Conselho de Segurança, adoptada em 1999, permite a presença da NATO no Kosovo, como certo é que essa mesma Resolução considera o Kosovo parte integrante da Sérvia.
A NATO e os americanos reagiram muito mal à decisão espanhola de pôr termo à sua presença militar naquele território. Tanto o Secretário-geral da Nato, como os meios ligados ao Pentágono, usaram palavras duras para qualificar a atitude espanhola. E a Espanha, sujeita a um coro de críticas, começou a meter os pés pelas mãos, deixando uma imagem de inconsistência que em nada a favorece.
De facto, tudo parece ter corrido mal. Primeiro, a comunicação da decisão: dada em cima da hora e veiculada com atraso aos próprios diplomatas espanhóis, que de nada sabiam quando foram chamados às chancelarias estrangeiras para explicar o que se passou; depois, da retirada quase imediata, o mais tardar até ao fim do verão, passou-se a uma retirada gradual que poderá demorar o tempo que for necessário. Esta tentativa de “remendar” a decisão unilateral (isto é, não negociada ou sequer conversada previamente com os aliados da Espanha) ainda caiu pior que a própria decisão. Deu a ideia de que a Espanha, além de não ser um parceiro fiável, é também um parceiro que não sabe o que quer.
O PP e mesmo a imprensa ligada ao governo têm criticado asperamente Zapatero e a Ministra da Defesa. Temem que a aproximação a Obama, depois da rotura com Bush, por causa da retirada do Iraque, fique seriamente prejudicada. Tudo teria sido diferente, se a Espanha, aquando da decisão da UE e da NATO de apoiarem a independência do Kosovo, tivesse feito depender a sua presença na KFOR da manutenção do status quo. Tendo deixado passar mais de um ano, a decisão de retirar acabaria sempre por ser mal aceite, qualquer que tivesse sido a forma de a tomar e comunicar.
Conclusão: a vida não está correndo bem a Zapatero, cada vez com mais dificuldade em encontrar apoios para fazer passar as leis no parlamento. E o PP, apesar de “afogado” em corrupção, que até passa pelo pagamento de roupa a um dos mais importantes líderes regionais, continua a subir nas sondagens e preparar-se para regressar ao poder.

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