segunda-feira, 14 de setembro de 2009

VERDADES QUE AS PALAVRAS NÃO DESMENTEM


A VERDADEIRA DIREITA PORTUGUESA

A direita portuguesa, a que foi derrotada no 25 de Abril, tem andado escondida desde essa data, disfarçada e até o nunca posto de parte desejo de desforra alguma vez se evidenciou com clareza. Nestas eleições, apesar das mudanças de linguagem a que a crise obrigou os principais dirigentes da direita, a mentalidade da primeira dirigente do PSD, tão fortemente marcada pela herança salazarista no que ela tem de mais conservador, vai finalmente fazer com que haja uma completa identificação entre essa direita e o partido que ela dirige.
Tudo o que é típico da mentalidade salazarista está nela presente com muita força. Talvez seja excessivo falar em mentalidade salazarista quando Salazar é, também ele, um lídimo representante desse Portugal velho e atrasado que sempre conviveu, a maior parte do tempo em supremacia, com o outro Portugal, letrado, aberto ao mundo, tolerante e universalista. Ainda há bem poucos meses, ao folhear o livro da IV classe do meu tempo, verifiquei que, para além da ideologia subjacente nos textos, essa sim da responsabilidade do Estado Novo, todo o livro estava polvilhado de máximas altamente conservadoras, retrógradas, de António Feliciano de Castilho, um digno representante desse Portugal arcaico de que atrás falámos.
Pois bem, Ferreira Leite, enfim como tanta gente da sua idade e até um pouco mais nova, educada no salazarismo e nas suas máximas, sem que no seu passado se conheça qualquer manifestação contrária ao regime, é, apesar de três décadas de democracia, uma depositária desses “valores” salazaristas.
É o anti-espanholismo complexado, é o receio de se endividar, com uma mentalidade próxima da do jornaleiro agrícola que vê na dívida, que nunca terá oportunidade de pagar, o caminho mais curto para a perda da casinha, é a independência económica no mundo global interdependente, é a “verdade”, feita de reticência e de alguma manha rural, é o casamento destinado à procriação, é o isolacionismo, é a desconfiança do relacionamento. Enfim, é o atraso na sua versão actual.
A sua relação com as finanças públicas é exageradamente semelhante à de Salazar. Ela está contra os investimentos públicos na economia, mesmo em tempo de crise, não porque seja monetarista e acredite no mercado eficiente, bem como na possibilidade de superar a crise por via das políticas monetárias. Ela é contra porque é poupadinha, porque não se deve gastar mais do aquilo que se tem, porque supõe que a economia de um país se governa com as regras da economia doméstica, enfim, porque a sua mentalidade é sob muitos aspectos anterior ao surgimento da própria economia política.
E assim Portugal não vai lá!

2 comentários:

anamar disse...

Ai não vai não....
Belo texto sobre o "bolor"da nossa portugalidade.
Abraço Zé Manel

Migdar disse...

As verdades que as palavras não desmentem.

Palavras escritas ou faladas?

Para quem nasceu depois do 25 de Abril resta apenas fazer duas coisas. Ler e ouvir.

Curiosamente aquilo que é dito tem pouca correspondência com muitos dos factos históricos.

A maior curiosidade de todas é que a maior parte dos livros que li foram escritos por gente de centro esquerda.

Mais de 30 anos depois do 25 de Abril ainda é necessário arranjar bodes expiatórios.

Foi assim com o nosso pseudo Liberalismo, Republica, Estado Novo e agora com este regime.

As verdades que as palavras não desmentem são as da nossa realidade histórica.

O resto é discurso para fazer tempo à espera da próxima alteração de regime.