SOBRE O BPN/SLN
Com o ataque que ontem lançou à administração do BPN, Cavaco trouxe para a campanha um tema do qual provavelmente escaparia, se tivesse ficado calado, e com o qual vai ter de lidar com alguma dificuldade.
Certamente, que Cavaco ao fazê-lo conta com o apoio de uma parte muito representativa dos media, nada interessados no aprofundamento do assunto e muito prontos a espalhar, urbe et orbi, que, quanto mais se falar do assunto, mais o candidato se vitimiza para do facto tirar vantagem, tentando, assim, por antecipação, criar uma generalizada inibição que faça sentir-se incómodo aquele que o aborda.
A verdade é que há aspectos a esclarecer. Em Novembro de 2008, Cavaco, preocupado com aquilo a que chamou uma onda de boatos sobre as suas ligações ao BPN, publicou na página oficial da Presidência da República um comunicado no qual "punha a nu" o seu património e declarava formalmente que “nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas”.
Não se julgava Cavaco tão exímio em subtilezas jurídicas. De facto, ninguém até hoje logrou provar a falsidade de tal afirmação.
Todavia, o Expresso passado algum tempo descobriu que Cavaco, em 2001, comprou à Sociedade Lusa de Negócios (SLN), detentora a 100% do capital do banco, 105 387 acções do BPN, por um euro, tendo-as vendido, em 2003, por 2,4 euros.
Como se compreende que tendo pretendido Cavaco pôr cobro àquilo a que chamou uma campanha de boatos não tenha referido este negócio? Dir-se-á que não vinha a propósito por já ter (à época) ocorrido há 8 anos.
Mas se o comunicado era para “limpar a testada”, e isso depreende-se da enunciação de factos que não vinham ao caso – como o acima citado, mais dois do mesmo género, uma sobre o exercício de funções no banco, outra sobre a percepção de remunerações – como se explica que um facto tão relevante tenha sido omitido?
Só há uma explicação: Cavaco não queria tornar público o lucro da transacção. Ele, que é especialista nestas coisas de economia, sabia que um lucro tão significativo, num tão curto espaço de tempo, levantaria múltiplas objecções, não apenas por a SNL não estar cotada em bolsa, mas principalmente por ser dominada por quem era.
A tal subtileza jurídica de que Cavaco se socorreu não favorece muito quem tanto preza a verdade substancial...
Outra questão que não pode deixar de ser posta a Cavaco tem a ver o facto de, em virtude das suas últimas declarações, se ter justificadamente criado uma suspeita de parcialidade no tratamento do mesmo assunto. De facto, como se explica que Cavaco, quanto mais não fosse na defesa do erário público, nunca tenha verberado nem condenado a “gestão” dos seus amigos políticos no BPN, mas tenha sido tão lesto a criticar a administração em funções, que não passa de uma verdadeira administração da massa falida.
Finalmente, quando Cavaco diz que teve muitas dúvidas na promulgação da lei de nacionalização do BPN – que, aliás, promulgou em tempo recorde, como há época se vangloriou –, tais dúvidas advinham-lhe de já estar a antecipar o que iria acontecer ao erário público, por o BPN ser um banco sem salvação possível, ou, pelo contrário, porque supunha que deveria ter sido seguido outro caminho? E, nesse caso, qual? Deixar falir o banco? Emprestar-lhe dinheiro? Enfim, é um assunto que Cavaco também tem que esclarecer.
Aliás, compreende-se mal que, tendo Cavaco tantos amigos no Banco, não tenha junto deles obtido uma segunda opinião que pudesse, fundadamente, apresentar ao governo.
Se fez isso em tantas outras ocasiões, porque não o fez também desta?
Com o ataque que ontem lançou à administração do BPN, Cavaco trouxe para a campanha um tema do qual provavelmente escaparia, se tivesse ficado calado, e com o qual vai ter de lidar com alguma dificuldade.
Certamente, que Cavaco ao fazê-lo conta com o apoio de uma parte muito representativa dos media, nada interessados no aprofundamento do assunto e muito prontos a espalhar, urbe et orbi, que, quanto mais se falar do assunto, mais o candidato se vitimiza para do facto tirar vantagem, tentando, assim, por antecipação, criar uma generalizada inibição que faça sentir-se incómodo aquele que o aborda.
A verdade é que há aspectos a esclarecer. Em Novembro de 2008, Cavaco, preocupado com aquilo a que chamou uma onda de boatos sobre as suas ligações ao BPN, publicou na página oficial da Presidência da República um comunicado no qual "punha a nu" o seu património e declarava formalmente que “nunca comprou ou vendeu nada ao BPN ou a qualquer das suas empresas”.
Não se julgava Cavaco tão exímio em subtilezas jurídicas. De facto, ninguém até hoje logrou provar a falsidade de tal afirmação.
Todavia, o Expresso passado algum tempo descobriu que Cavaco, em 2001, comprou à Sociedade Lusa de Negócios (SLN), detentora a 100% do capital do banco, 105 387 acções do BPN, por um euro, tendo-as vendido, em 2003, por 2,4 euros.
Como se compreende que tendo pretendido Cavaco pôr cobro àquilo a que chamou uma campanha de boatos não tenha referido este negócio? Dir-se-á que não vinha a propósito por já ter (à época) ocorrido há 8 anos.
Mas se o comunicado era para “limpar a testada”, e isso depreende-se da enunciação de factos que não vinham ao caso – como o acima citado, mais dois do mesmo género, uma sobre o exercício de funções no banco, outra sobre a percepção de remunerações – como se explica que um facto tão relevante tenha sido omitido?
Só há uma explicação: Cavaco não queria tornar público o lucro da transacção. Ele, que é especialista nestas coisas de economia, sabia que um lucro tão significativo, num tão curto espaço de tempo, levantaria múltiplas objecções, não apenas por a SNL não estar cotada em bolsa, mas principalmente por ser dominada por quem era.
A tal subtileza jurídica de que Cavaco se socorreu não favorece muito quem tanto preza a verdade substancial...
Outra questão que não pode deixar de ser posta a Cavaco tem a ver o facto de, em virtude das suas últimas declarações, se ter justificadamente criado uma suspeita de parcialidade no tratamento do mesmo assunto. De facto, como se explica que Cavaco, quanto mais não fosse na defesa do erário público, nunca tenha verberado nem condenado a “gestão” dos seus amigos políticos no BPN, mas tenha sido tão lesto a criticar a administração em funções, que não passa de uma verdadeira administração da massa falida.
Finalmente, quando Cavaco diz que teve muitas dúvidas na promulgação da lei de nacionalização do BPN – que, aliás, promulgou em tempo recorde, como há época se vangloriou –, tais dúvidas advinham-lhe de já estar a antecipar o que iria acontecer ao erário público, por o BPN ser um banco sem salvação possível, ou, pelo contrário, porque supunha que deveria ter sido seguido outro caminho? E, nesse caso, qual? Deixar falir o banco? Emprestar-lhe dinheiro? Enfim, é um assunto que Cavaco também tem que esclarecer.
Aliás, compreende-se mal que, tendo Cavaco tantos amigos no Banco, não tenha junto deles obtido uma segunda opinião que pudesse, fundadamente, apresentar ao governo.
Se fez isso em tantas outras ocasiões, porque não o fez também desta?