WIKILEAKS
Depois de uma semana de “serviços mínimos” por ausência, é quase obrigatório abordar alguns dos temas que fizeram a actualidade dos dias que passaram ou que ainda se mantêm na ordem do dia. Um deles é a prisão na Inglaterra de Jullian Assange por alegado “crime sexual” praticado na Suécia no Verão passado.
Claro que ao ler a acusação do promotor sueco, embora na forma sincopada como foi transcrita na imprensa internacional, ninguém no seu perfeito juízo vai acreditar na ausência de coincidência entre a publicação dos documentos do Departamento de Estado e os pretensos atentados à honra das “jovens trintonas” que voluntariamente foram para cama com Assange.
Perante tais factos, a primeira palavra que se impõe é de solidariedade para com o fundador da Wikileaks e da própria Wikileaks, num altura em que o famoso Ocidente recorre a todas as suas habituais baixezas para impedir que o conheçam por dentro.
De facto, é espantoso que num sistema jurídico como o inglês, que nunca foi capaz de encontrar fundamento para executar uma ordem de prisão de Pinochet ou, num caso completamente diferente mas elucidativo, autorizar, depois de insistências múltiplas ao longo de vários anos, um pedido de extradição de alguém já condenado por sentença transitada em julgado para cumprimento de um cúmulo jurídico, consiga com uma prontidão nunca vista executar a ordem de prisão de Assange sem minimamente a questionar.
E o pior ainda está naturalmente para vir, se um forte movimento de solidariedade internacional não ganhar corpo muito rapidamente.
Além dos interrogatórios ilícitos a que não deixará de ser submetido com chantagens de toda a ordem, Assange corre o risco de ser extraditado, não para a Suécia, mas para os Estados Unidos, onde depois seria “internado” por tempo indeterminado como uma espécie de “terrorista informático” que convém afastar do convívio social, mesmo penitenciário, para salvaguarda da “segurança americana”.
Neste contexto é de louvar a posição frontal do Presidente Lula que, sem medo das palavras, exprimiu com clareza e cruamente o modo de actuação americano e dos seus “fiéis aliados”.
É por este e outros exemplos, milhares deles revelados pelos documentos que Wikileaks deu a conhecer, que a Esquerda nunca deve alinhar em campanhas promovidas pela hipocrisia ocidental em defesa de pretensos “valores universais” por mais “nuances” que introduza para diferenciar a sua posição. É que quando o establishment ocidental fala na “defesa desses valores”, como por exemplo os “direitos humanos” ou em desenvolvimentos destes direitos, como “liberdade de expressão” ou “liberdade de imprensa” ou até em “voto popular, ele está de facto a referir-se a uma realidade muito diferente daquela que a Esquerda entende com base nos mesmos conceitos.
Numa época de grande hegemonia ideológica das correntes reaccionárias, nomeadamente no campo político, económico e social, a ilusão da convergência baseada no falso consenso acaba sempre por favorecer a direita e “roubar” autonomia ideológica à Esquerda, que passará a actuar, na maior parte das vezes, a reboque da direita, embora involuntariamente.
A experiência, que não pode ser descrita em poucas palavras, mas apenas enunciada, da “imposição universal dos direitos do homem” e da “exportação da democracia” pelo movimento neoconservador americano, que no pós Guerra Fria alastrou a quase todo pensamento político ocidental, nomeadamente à social-democracia, é um acabado exemplo do que acaba de ser dito. De facto, foi por via desses falsos conceitos de “direitos do homem” e de “democracia” que o capitalismo neoliberal impôs o seu domínio a quase todo o planeta, eliminando ou subjugando quem ousasse desafiá-lo.
Os regimes políticos que ousassem defenderem a sua autonomia ou a sua diferença eram económica e financeiramente ostracizados quando precisavam de ajuda ou de créditos, outras vezes eram mesmo subjugados e invadidos pela força das armas, sempre em defesa dos tais grandes valores que, como agora se vê – para quem ainda tivesse dúvidas -, não passam da defesa ilícita dos mais sórdidos interesses de quem não olha a meios para atingir os seus fins. O erro da Esquerda nesta luta ideológica, que no actual contexto está perdida, não obstante as cruas revelações que Wikileaks tanto ajudou a mostrar, foi ter deixado enredar-se na aparente defesa de valores identificados pelo mesmo nome.
A esquerda defende ou deve defender outros valores, com outro conteúdo, a eles devendo corresponder conceitos diferentes.
Depois de uma semana de “serviços mínimos” por ausência, é quase obrigatório abordar alguns dos temas que fizeram a actualidade dos dias que passaram ou que ainda se mantêm na ordem do dia. Um deles é a prisão na Inglaterra de Jullian Assange por alegado “crime sexual” praticado na Suécia no Verão passado.
Claro que ao ler a acusação do promotor sueco, embora na forma sincopada como foi transcrita na imprensa internacional, ninguém no seu perfeito juízo vai acreditar na ausência de coincidência entre a publicação dos documentos do Departamento de Estado e os pretensos atentados à honra das “jovens trintonas” que voluntariamente foram para cama com Assange.
Perante tais factos, a primeira palavra que se impõe é de solidariedade para com o fundador da Wikileaks e da própria Wikileaks, num altura em que o famoso Ocidente recorre a todas as suas habituais baixezas para impedir que o conheçam por dentro.
De facto, é espantoso que num sistema jurídico como o inglês, que nunca foi capaz de encontrar fundamento para executar uma ordem de prisão de Pinochet ou, num caso completamente diferente mas elucidativo, autorizar, depois de insistências múltiplas ao longo de vários anos, um pedido de extradição de alguém já condenado por sentença transitada em julgado para cumprimento de um cúmulo jurídico, consiga com uma prontidão nunca vista executar a ordem de prisão de Assange sem minimamente a questionar.
E o pior ainda está naturalmente para vir, se um forte movimento de solidariedade internacional não ganhar corpo muito rapidamente.
Além dos interrogatórios ilícitos a que não deixará de ser submetido com chantagens de toda a ordem, Assange corre o risco de ser extraditado, não para a Suécia, mas para os Estados Unidos, onde depois seria “internado” por tempo indeterminado como uma espécie de “terrorista informático” que convém afastar do convívio social, mesmo penitenciário, para salvaguarda da “segurança americana”.
Neste contexto é de louvar a posição frontal do Presidente Lula que, sem medo das palavras, exprimiu com clareza e cruamente o modo de actuação americano e dos seus “fiéis aliados”.
É por este e outros exemplos, milhares deles revelados pelos documentos que Wikileaks deu a conhecer, que a Esquerda nunca deve alinhar em campanhas promovidas pela hipocrisia ocidental em defesa de pretensos “valores universais” por mais “nuances” que introduza para diferenciar a sua posição. É que quando o establishment ocidental fala na “defesa desses valores”, como por exemplo os “direitos humanos” ou em desenvolvimentos destes direitos, como “liberdade de expressão” ou “liberdade de imprensa” ou até em “voto popular, ele está de facto a referir-se a uma realidade muito diferente daquela que a Esquerda entende com base nos mesmos conceitos.
Numa época de grande hegemonia ideológica das correntes reaccionárias, nomeadamente no campo político, económico e social, a ilusão da convergência baseada no falso consenso acaba sempre por favorecer a direita e “roubar” autonomia ideológica à Esquerda, que passará a actuar, na maior parte das vezes, a reboque da direita, embora involuntariamente.
A experiência, que não pode ser descrita em poucas palavras, mas apenas enunciada, da “imposição universal dos direitos do homem” e da “exportação da democracia” pelo movimento neoconservador americano, que no pós Guerra Fria alastrou a quase todo pensamento político ocidental, nomeadamente à social-democracia, é um acabado exemplo do que acaba de ser dito. De facto, foi por via desses falsos conceitos de “direitos do homem” e de “democracia” que o capitalismo neoliberal impôs o seu domínio a quase todo o planeta, eliminando ou subjugando quem ousasse desafiá-lo.
Os regimes políticos que ousassem defenderem a sua autonomia ou a sua diferença eram económica e financeiramente ostracizados quando precisavam de ajuda ou de créditos, outras vezes eram mesmo subjugados e invadidos pela força das armas, sempre em defesa dos tais grandes valores que, como agora se vê – para quem ainda tivesse dúvidas -, não passam da defesa ilícita dos mais sórdidos interesses de quem não olha a meios para atingir os seus fins. O erro da Esquerda nesta luta ideológica, que no actual contexto está perdida, não obstante as cruas revelações que Wikileaks tanto ajudou a mostrar, foi ter deixado enredar-se na aparente defesa de valores identificados pelo mesmo nome.
A esquerda defende ou deve defender outros valores, com outro conteúdo, a eles devendo corresponder conceitos diferentes.
3 comentários:
Grande parte do que é revelado não me parece o mais importante, os documentos provam aquilo que já se sabia, embora a realidade também aqui ultrapassa a ficção. O mais importante outalvez chocante para muitos é a total submissão com que estados "Soberanos" se dobraram às orientações do Império. Veja-se o caso da Suécia, com as credenciais de que se ufanava, que aceita um papel patético. A Inglaterra "pátria" das liberdades e garantias cívicas etc etc., para já não falar da cooperação canina das empresas que não arriscam irritar o Imperador, mas arriscam o negócio e, que sabe, o meio da sua existência.
A clareza e' uma virtude democratica. Chamar Vale e Azevedo pelo seu nome seria um passo em frente...
Francisco Seixas da Costa
Meu Caro Amigo
O nome de Vale e Azevedo não foi indicado, não para ser omitido, mas para não tirar força ao texto. No fim de contas, para o fim em vista, interessa mais a tipificação da situação inatendida do que o nome do eventual "beneficiário".
Abraço
CP
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