A VIRTUDE DA FRONTALIDADE
Francisco Lopes deu hoje um grande contributo à campanha presidencial, ao colocar na ordem do dia temas que continuam sendo da máxima importância para o futuro próximo dos portugueses.
Sem rodeios, nem circunlóquios, frontalmente, Francisco Lopes responsabilizou Cavaco Silva pela promulgação do decreto de nacionalização do BPN, bem como da lei que a posteriori a regulou, assim como pelo seu comportamento, enquanto Presidente da República, perante o ataque especulativo de que Portugal está sendo vítima por obra de agentes do capital financeiro que actuam com a cumplicidade (e o apoio) dos poderes constituídos, nomeadamente no quadro comunitário.
Cavaco ficou sem resposta. E, de facto, não a tem. No caso BPN, uma verdadeira calamidade para as contas públicas portuguesas, Cavaco, embora não tenha qualquer responsabilidade directa no que se passou no banco, apoiou, muito para além dos limites politicamente admissíveis, um conselheiro de Estado, por ele directamente nomeado, com grandes responsabilidades na gestão do banco e que, além do mais, tinha mentido perante o Parlamento e dado uma falsa versão de um contacto mantido com o Banco de Portugal.
E se é verdade que Cavaco Silva nunca teve negócios com o BPN, já o mesmo se não poderá dizer com a Sociedade Lusa de Negócios, empresa detentora do capital do banco ou da maior parte dele. Como verdade é que desses negócios retirou razoáveis proveitos, não havendo forma de objectivamente avaliar a justeza desses lucros, uma vez que os títulos comprados e mais tarde vendidos não estavam cotados em bolsa. Ou seja, o seu valor não dependeu das chamadas “condições objectivas do mercado”, mas do ajuste entre o vendedor e o comprador, sendo que nesses negócios a contraparte de Cavaco Silva era constituída por antigos colaboradores seus (membros dos governos Cavaco Silva), alguns muito próximos ou até íntimos.
Já no que respeita ao comportamento de Cavaco, como PR, relativamente aos ataques especulativos, tem de dizer-se, mais uma vez, que ele se colocou objectivamente do lado desses ataques, de nada lhe valendo, para se defender, a invocação da posição tomada pelo Banco de Portugal, que, aliás, foi, como toda a gente sabe, uma vergonhosa desculpabilização da especulação, atribuível ou justificada pelo comportamento desleixado e culposo dos portugueses e de quem os governa.
Tanto Cavaco, como o governador do Banco de Portugal, deveriam conhecer as declarações de Fernando Ordoñez, governador do Banco de Espanha, que, sendo insuspeito de simpatias esquerdistas, ainda na semana passada, criticou inequivocamente o comportamento dos "mercados" e o da própria União Europeia, por ter deixado degenerar a situação até ao ponto em que agora se encontra, como aqui se pode ler.
Aliás, Cavaco continua convencido – ainda hoje o reiterou – que Portugal pode no actual quadro normativo e político da União Europeia sair da crise pelos seus próprios meios, desde que siga o rumo certo. Mesmo não se sabendo bem o que seja o "rumo certo" ou o tal "estreito caminho" para sair da crise, e admitindo, como será normal fazê-lo face ao que se tem passado, que esse caminho implicaria pesados sacrifícios para os que menos têm, já hoje há elementos suficientes para saber que a proposta de Cavaco não leva a nenhuma saída da crise, antes ao seu contínuo agravamento.
De facto, por mais que o capital abandone a maior parte das tais actividades geradoras daquilo a que os economistas chamam os “bens não transaccionáveis” – e não se sabe muito bem o que se teria de fazer para que as grandes empresas que actuam neste domínio abandonassem as áreas onde o capital tem sido mais rentável – sempre haveria um limite para a produção dos “bens transaccionáveis”, como há em qualquer economia.
Esta crítica insistente de Cavaco, aliás partilhada por Constâncio, e por tantos outros “economistas encartados” da nossa praça, apenas serve para demonstrar que Cavaco não compreendeu o euro em toda a sua dimensão, não tendo, por isso, sido capaz de antecipar as consequências da adesão à moeda única, deficiências essas que hoje igualmente o impedem de compreender o âmago da crise que o país atravessa e de propor para ela uma solução aceitável mesmo dentro do sistema em que raciocina e actua.
De facto, por mais que o capital abandone a maior parte das tais actividades geradoras daquilo a que os economistas chamam os “bens não transaccionáveis” – e não se sabe muito bem o que se teria de fazer para que as grandes empresas que actuam neste domínio abandonassem as áreas onde o capital tem sido mais rentável – sempre haveria um limite para a produção dos “bens transaccionáveis”, como há em qualquer economia.
Esta crítica insistente de Cavaco, aliás partilhada por Constâncio, e por tantos outros “economistas encartados” da nossa praça, apenas serve para demonstrar que Cavaco não compreendeu o euro em toda a sua dimensão, não tendo, por isso, sido capaz de antecipar as consequências da adesão à moeda única, deficiências essas que hoje igualmente o impedem de compreender o âmago da crise que o país atravessa e de propor para ela uma solução aceitável mesmo dentro do sistema em que raciocina e actua.
Partindo de uma censura moral sobre os comportamentos individuais dos consumidores e de uma censura política dos programas governamentais, Cavaco quer fazer crer que a autodeterminação “correcta” da vontade dos consumidores e uma política diferente (conduzida no mesmo contexto político-económico) levariam a resultados completamente diferentes.
Isto é um erro crasso. Qualquer análise que parta deste princípio negligenciará o essencial e arrisca-se a abrir caminho para conduzir o país ao abismo, que é o que, em grande medida, já está a acontecer. Cavaco, como cientista social, como ele gosta de ser considerado, nem sequer se dá conta de um fenómeno de fácil observação empírica que, dentro do melhor método científico, o deveria despertar para uma análise mais aprofundada do que se está a passar. Por que razão há na União Europeia uma situação comum a um conjunto de países que, não tendo combinado, nem coordenado as suas políticas económicas, sofrem de males sensivelmente idênticos? Será apenas por factores atribuíveis à caracteriologia dos povos desses Estados? Ou será antes porque a União Europeia, particularmente a zona euro, tal como foi “construída”, leva necessariamente a essas distorções, sendo portanto necessário encontrar nesse contexto o antídoto necessário para um desenvolvimento harmonizado e coerente do conjunto?
E como estas coisas não se fazem sem luta, é óbvio que quantos mais responsáveis políticos houver a culpar exclusivamente o próprio país pela situação existente, mais duradoiro, injusto e incoerente se tornará o conjunto, com vantagens cada vez maiores para aqueles que tiram proveito dessas distorções.
Isto é um erro crasso. Qualquer análise que parta deste princípio negligenciará o essencial e arrisca-se a abrir caminho para conduzir o país ao abismo, que é o que, em grande medida, já está a acontecer. Cavaco, como cientista social, como ele gosta de ser considerado, nem sequer se dá conta de um fenómeno de fácil observação empírica que, dentro do melhor método científico, o deveria despertar para uma análise mais aprofundada do que se está a passar. Por que razão há na União Europeia uma situação comum a um conjunto de países que, não tendo combinado, nem coordenado as suas políticas económicas, sofrem de males sensivelmente idênticos? Será apenas por factores atribuíveis à caracteriologia dos povos desses Estados? Ou será antes porque a União Europeia, particularmente a zona euro, tal como foi “construída”, leva necessariamente a essas distorções, sendo portanto necessário encontrar nesse contexto o antídoto necessário para um desenvolvimento harmonizado e coerente do conjunto?
E como estas coisas não se fazem sem luta, é óbvio que quantos mais responsáveis políticos houver a culpar exclusivamente o próprio país pela situação existente, mais duradoiro, injusto e incoerente se tornará o conjunto, com vantagens cada vez maiores para aqueles que tiram proveito dessas distorções.
5 comentários:
Não vi o debate. Escapou-me a data. Vou ver se o vejo na Internet. Sobre ele telefonou-me o Roupiço animadíssimo com a peleja e seu resultado.
Faz tempo que não ouvia falar no Roupiço.
Gostei muito da serenidade e frontalidade do Francisco Lopes. Disse com muita precisão tudo o que era importante dizer, principalmente sobre os "mercados" e sobre como deveriam actuar aqueles que por eles são flagelados. Não o conhecia. Fiquei bem impressionado.
CP
O link para o debate é:
http://www.tvi.iol.pt/mediacenter.html?gal_id=131930&mul_id=13365903&load=1&pagina=1&pos=3
não conhecia seu blog...
parabens,
aprendi ja alguma coisa e gostei da sua frontalidade
mesmo quando toca em assuntos e personagens,
que de algum modo, ainda não sou tão critico
abraço e obrigado
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