MAIS UMA DO EMÉRITO PROFESSOR
Não estava em Portugal quando passaram os trinta anos do acidente de Camarate. Tinha ideia de fazer um post sobre o assunto, principalmente sobre Sá Carneiro, com um apêndice sobre Freitas.
De Sá Carneiro não adianta falar agora: uma morte precoce e inesperada deu corpo e alento a um mito que, quanto mais se distancia da real vida política de Sá Carneiro, mais condições tem para se impor.
Já de Amaro da Costa é quase impossível não falar sempre que se trata de Freitas. É que, desde que Amaro da Costa desapareceu, Freitas apenas tem acumulado erros e derrotas, a ponto de se poder dizer que ele é hoje uma das mais figuras mais típicas da vida política portuguesa. Não certamente pelas derrotas que tem acumulado, mas pelas múltiplas vicissitudes que não deixou de protagonizar, sempre impelido por um ego que não tem qualquer correspondência com as suas reais capacidades políticas.
De admirador de Salazar e discípulo dilecto de Marcelo Caetano, que logo renegou a seguir ao 25 de Abril para se entregar nos braços do que cuidava ser o MFA, passando por “socialista personalista”, líder de um partido “rigorosamente ao centro” e logo depois rodeado pela extrema direita na eleição contra Soares, até ministro de um governo socialista, do qual “continuou a fazer parte em espírito”, mesmo depois de o ter deixado, até à renegação de Sócrates, antes tão venerado, Freitas já fez de tudo e tudo dele se espera, porque é uma daquelas pessoas a quem a idade não ensina nada!
A última que ouvimos dele, numa entrevista muito recente, foi a confissão de se ter oferecido a Durão Barroso, à época apenas presidente do PSD, para se candidatar contra Jorge Sampaio, em 2001…com a condição de Barroso o apoiar em 2006!
O génio político de Freitas está espelhado nesta proposta. Teve a sorte de dar com um Durão Barroso demasiado escrupuloso, que lhe respondeu: “Isso não posso garantir. Sabe-se lá o que vai acontecer daqui a cinco anos.”
Para se fazer uma ideia da conta em que Freitas se tem, basta ler um pequeno passo do seu primeiro livro de memórias “O antigo regime e a revolução”, no qual conta alguns dos contactos que manteve com os professores da Faculdade de Direito de Lisboa para se aconselhar sobre em qual das duas especialidades – ciências jurídicas e ciências político-económicas – deveria apresentar a pós-graduação.
Um desses contactos foi com Costa Leite (Lumbrales), um dos grandes nomes da ditadura e íntimo de Salazar, que, segundo Freitas, o tentou convencer a optar pela especialização em economia. Freitas, muito preocupado com o futuro, terá respondido a Lumbrales que se fizesse a especialização em economia se arriscava a ficar com a carreira tapada, porque havia apenas duas vagas de catedrático e ambas estavam ocupadas. Ao que Lumbrales respondeu:
“Não se preocupe com isso. Primeiro ainda tem de fazer a pós-graduação e o doutoramento. Só daqui a uns anos chegará o momento de fazer o concurso para catedrático. Mas se nessa altura não houver nenhuma vaga eu próprio pedirei a aposentação e lhe cederei com muito gosto o meu lugar”.
Freitas nunca mais esqueceu o gesto! Freitas é assim!
Mas quem tivesse conhecido o ambiente das Faculdades de Direito naqueles já longínquos anos do início da década de sessenta não pode deixar de sorrir…
Não estava em Portugal quando passaram os trinta anos do acidente de Camarate. Tinha ideia de fazer um post sobre o assunto, principalmente sobre Sá Carneiro, com um apêndice sobre Freitas.
De Sá Carneiro não adianta falar agora: uma morte precoce e inesperada deu corpo e alento a um mito que, quanto mais se distancia da real vida política de Sá Carneiro, mais condições tem para se impor.
Já de Amaro da Costa é quase impossível não falar sempre que se trata de Freitas. É que, desde que Amaro da Costa desapareceu, Freitas apenas tem acumulado erros e derrotas, a ponto de se poder dizer que ele é hoje uma das mais figuras mais típicas da vida política portuguesa. Não certamente pelas derrotas que tem acumulado, mas pelas múltiplas vicissitudes que não deixou de protagonizar, sempre impelido por um ego que não tem qualquer correspondência com as suas reais capacidades políticas.
De admirador de Salazar e discípulo dilecto de Marcelo Caetano, que logo renegou a seguir ao 25 de Abril para se entregar nos braços do que cuidava ser o MFA, passando por “socialista personalista”, líder de um partido “rigorosamente ao centro” e logo depois rodeado pela extrema direita na eleição contra Soares, até ministro de um governo socialista, do qual “continuou a fazer parte em espírito”, mesmo depois de o ter deixado, até à renegação de Sócrates, antes tão venerado, Freitas já fez de tudo e tudo dele se espera, porque é uma daquelas pessoas a quem a idade não ensina nada!
A última que ouvimos dele, numa entrevista muito recente, foi a confissão de se ter oferecido a Durão Barroso, à época apenas presidente do PSD, para se candidatar contra Jorge Sampaio, em 2001…com a condição de Barroso o apoiar em 2006!
O génio político de Freitas está espelhado nesta proposta. Teve a sorte de dar com um Durão Barroso demasiado escrupuloso, que lhe respondeu: “Isso não posso garantir. Sabe-se lá o que vai acontecer daqui a cinco anos.”
Para se fazer uma ideia da conta em que Freitas se tem, basta ler um pequeno passo do seu primeiro livro de memórias “O antigo regime e a revolução”, no qual conta alguns dos contactos que manteve com os professores da Faculdade de Direito de Lisboa para se aconselhar sobre em qual das duas especialidades – ciências jurídicas e ciências político-económicas – deveria apresentar a pós-graduação.
Um desses contactos foi com Costa Leite (Lumbrales), um dos grandes nomes da ditadura e íntimo de Salazar, que, segundo Freitas, o tentou convencer a optar pela especialização em economia. Freitas, muito preocupado com o futuro, terá respondido a Lumbrales que se fizesse a especialização em economia se arriscava a ficar com a carreira tapada, porque havia apenas duas vagas de catedrático e ambas estavam ocupadas. Ao que Lumbrales respondeu:
“Não se preocupe com isso. Primeiro ainda tem de fazer a pós-graduação e o doutoramento. Só daqui a uns anos chegará o momento de fazer o concurso para catedrático. Mas se nessa altura não houver nenhuma vaga eu próprio pedirei a aposentação e lhe cederei com muito gosto o meu lugar”.
Freitas nunca mais esqueceu o gesto! Freitas é assim!
Mas quem tivesse conhecido o ambiente das Faculdades de Direito naqueles já longínquos anos do início da década de sessenta não pode deixar de sorrir…
1 comentário:
E agora já nem o PS o quer. Alguma coisa Sócrates deve ter aprendido com a sua brilhante passagem pelo MNE. Valha-nos isso.
Qual será o próximo encosto? Uma coisa é certa: o homenzito não se poupa a esforços. Oferece-se a tudo o que cheire a patacas.
JR
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