quinta-feira, 4 de abril de 2013

A MOÇÃO DE CENSURA


 

AS CONCLUSÕES QUE DELA SE EXTRAEM

 

Tendo seguido durante mais de três horas todas as intervenções que hoje se fizeram no Parlamento a propósito da moção de censura, apresentada pelo PS (de Seguro/Zorrinho) e não tendo ouvido nem lido nenhum comentário ao que lá se passou, as conclusões que parecem impor-se são as seguintes:

1 – Seguro não tem uma verdadeira alternativa à política do Governo; é certo que não concorda com essa política nem com os seus resultados, mas o que propõe em sua substituição não é exequível por ser irremediavelmente contraditório com as políticas impostas pela Troika; Seguro só seria credível se dissesse, no mínimo, que tinha um plano B para a não aceitação das suas propostas por Bruxelas;

2 - Assis salvou o PS de um completo desastre no debate desta tarde pelo brilhantismo da sua oratória e por saber fazer luzir o que na realidade é baço; as propostas e a análise de Assis, embora sendo parecidas com as de Seguro, não são iguais; são duas as principais diferenças: Assis já aceita que o Governo pode não ter falhado nos seus propósitos (e isto representa uma diferença importante relativamente às teses de Seguro/Zorrinho), mas garante (e aí toda a esquerda está de acordo) que falhou relativamente aos portugueses; em segundo lugar, Assis já não acredita nesta Europa, embora continue a acreditar que ainda será possível “reformar a Europa” a partir da iniciativa de alguém que dentro dela tenha a coragem de quebrar a unanimidade (o que no fundo representa a confirmação da ausência de alternativa, atenuada pela esperança do eventual surgimento de uma Europa diferente);

3 – Passos e Gaspar foram muito claros e extraordinariamente coerentes: estão satisfeitos com os resultados já obtidos, mas convencidos de que têm de ir muito mais além para que a política que ambos defendem produza efectivamente todos os resultados que esperam alcançar: destruição completa do modelo socioeconómico herdado e sua substituição por uma sociedade de matriz exclusivamente liberal;

4 – O Bloco, não obstante continuar a apostar numa retórica diferente da do PS, assenta a sua intervenção política numa estratégia que cada vez se confunde mais com a dos socialistas: defesa de propostas irrealizáveis no quadro da união económica e monetária, igualmente sem qualquer plano B por convencimento (irrealista) de que uma política à beira do abismo faria recuar a Alemanha;

5 – O CDS, assentando toda a sua política de permanência no Governo na defesa de um interesse nacional completamente despido de conteúdo, demonstra à inteligência de quem o souber interpretar e não se deixe levar por pretensas retóricas “de sentido de Estado” que é um partido completamente oportunista que quer estar no Governo para estar no poder não tendo qualquer tipo de pudor, sempre que a oportunidade surja, em fazer recair sobre o parceiro do lado as suas próprias responsabilidades;

6 – O PS e o Bloco, apesar de diferentes entre si e pretendendo ambos manter-se distintos do PCP, para serem credíveis e não fraudarem completamente as expectativas dos portugueses, têm um longo caminho a percorrer na reformulação das suas propostas, podendo dar-se o caso, por ironia do destino, de esse caminho poder ser primeiramente trilhado pelo PS do que pelo Bloco.

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