AS CONCLUSÕES QUE DELA
SE EXTRAEM
Tendo seguido durante mais de três horas todas as
intervenções que hoje se fizeram no Parlamento a propósito da moção de censura,
apresentada pelo PS (de Seguro/Zorrinho) e não tendo ouvido nem lido nenhum
comentário ao que lá se passou, as conclusões que parecem impor-se são as
seguintes:
1 – Seguro não tem uma verdadeira alternativa à política do Governo;
é certo que não concorda com essa política nem com os seus resultados, mas o
que propõe em sua substituição não é exequível por ser irremediavelmente
contraditório com as políticas impostas pela Troika; Seguro só seria credível
se dissesse, no mínimo, que tinha um plano B para a não aceitação das suas
propostas por Bruxelas;
2 - Assis salvou o PS de um completo desastre no debate desta
tarde pelo brilhantismo da sua oratória e por saber fazer luzir o que na
realidade é baço; as propostas e a análise de Assis, embora sendo parecidas com
as de Seguro, não são iguais; são duas as principais diferenças: Assis já
aceita que o Governo pode não ter falhado nos seus propósitos (e isto representa
uma diferença importante relativamente às teses de Seguro/Zorrinho), mas
garante (e aí toda a esquerda está de acordo) que falhou relativamente aos
portugueses; em segundo lugar, Assis já não acredita nesta Europa, embora
continue a acreditar que ainda será possível “reformar a Europa” a partir da
iniciativa de alguém que dentro dela tenha a coragem de quebrar a unanimidade (o
que no fundo representa a confirmação da ausência de alternativa, atenuada pela
esperança do eventual surgimento de uma Europa diferente);
3 – Passos e Gaspar foram muito claros e extraordinariamente
coerentes: estão satisfeitos com os resultados já obtidos, mas convencidos de
que têm de ir muito mais além para que a política que ambos defendem produza
efectivamente todos os resultados que esperam alcançar: destruição completa do
modelo socioeconómico herdado e sua substituição por uma sociedade de matriz exclusivamente
liberal;
4 – O Bloco, não obstante continuar a apostar numa retórica
diferente da do PS, assenta a sua intervenção política numa estratégia que cada
vez se confunde mais com a dos socialistas: defesa de propostas irrealizáveis
no quadro da união económica e monetária, igualmente sem qualquer plano B por
convencimento (irrealista) de que uma política à beira do abismo faria recuar a
Alemanha;
5 – O CDS, assentando toda a sua política de permanência no Governo
na defesa de um interesse nacional completamente despido de conteúdo, demonstra
à inteligência de quem o souber interpretar e não se deixe levar por pretensas retóricas
“de sentido de Estado” que é um partido completamente oportunista que quer
estar no Governo para estar no poder não tendo qualquer tipo de pudor, sempre
que a oportunidade surja, em fazer recair sobre o parceiro do lado as suas próprias
responsabilidades;
6 – O PS e o Bloco, apesar de diferentes entre si e
pretendendo ambos manter-se distintos do PCP, para serem credíveis e não fraudarem
completamente as expectativas dos portugueses, têm um longo caminho a percorrer
na reformulação das suas propostas, podendo dar-se o caso, por ironia do
destino, de esse caminho poder ser primeiramente trilhado pelo PS do que pelo
Bloco.
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