QUE FUTURO?
Torna-se cada vez mais evidente aos olhos das pessoas
informadas, que não se deixam intoxicar pela poderosa imprensa ocidental, que
quem manda em Kiev e por extensão em parte da Ucrânia são as milícias fascistas
e nazis do Svoboda e do Pravy Sektor com a cumplicidade dos corruptos de Iulia
Timochenko.
São estes os aliados do Ocidente: dos Estados Unidos, da
França, da Inglaterra e da Alemanha para citar apenas os que realmente contam.
Que a Alemanha esteja do lado dos que governam a Ucrânia, nada a estranhar,
porque com Hitler ou sem Hitler os aliados naturais da Alemanha são os mesmos
desde há muito: croatas, eslovacos, austríacos, húngaros, letões, ucranianos do ocidente
e os finlandeses (se os deixassem). Mas que aqueles que no
Ocidente lutaram contra o nazismo, nomeadamente a Inglaterra e os Estados
Unidos, já que a França saiu estranhamente vitoriosa de uma guerra que perdeu
por duas vezes, estejam hoje do lado dos aliados de Hitler não deixa de ser uma
ignomínia para os milhões de soldados que por eles combateram e lutaram
gloriosamente e não deixa de ser também a evidência do estado de degradação
moral a que desceu o capitalismo que tudo sacrifica ao lucro e à ganância.
Que a “geração neoconservadora” americana, a que Obama também
pertence, por mais que se pense o contrário, e a que antes dele já outros altos
responsáveis pertenceram, como Bush e a sua gente, os Clinton e Reagan, não
compreenda a complexidade da situação europeia, da sua geopolítica, da sua
história e das gravíssimas consequências que decorrem dos passos errados que se
dêem na Europa, é grave, mas era esperado. Mas já não era de esperar que a
Inglaterra, apesar das nefastas reformas introduzidas na educação por esse coveiro
do trabalhismo britânico, que foi Tony Blair, também não compreenda e alinhe
cegamente com as máximas do capitalismo neoliberal de cariz neoconservador no
cerco à Rússia, bem como a França, principalmente a direita francesa, já que os
socialistas sempre foram um pau-mandado de Washington e tanto mais quanto mais
frouxa e inepta for a sua direcção, como é actualmente o caso, alinhe
igualmente neste desvario europeu manobrado pela Alemanha, é de uma gravidade
extrema que prenuncia não apenas o fim da União Europeia – o que em si, tal
como as coisas estão, até poderia não ser mau – mas principalmente a futura e
muito próxima irrelevância política desses dois países na condução da política
europeia.
É exactamente tendo por referência um quadro que não andará
muito longe deste que a Rússia irá actuar no futuro próximo. A Rússia já percebeu
- e quem não perceberia no lugar dela – que a sua integração no espaço europeu
e por extensão no espaço ocidental só poderia ter lugar como súbdito, nunca
como par. Como súbdito militarmente cercado e economicamente diminuído. E isso
a Rússia não vai aceitar certamente. A ofensiva ocidental na Ucrânia irresponsavelmente
conduzida pela União Europeia e logo secundada pelo neoconservadorismo
americano (que hoje domina praticamente toda a classe política), que não teve
pejo em se servir dos maiores escroques do leste para a tentar pôr em prática
uma política de facto consumado, retira quaisquer dúvidas a quem porventura na
Rússia ainda as tivesse sobre quais os verdadeiros objectivos do Ocidente.
Colocada perante esta evidência, a Rússia anexou a Crimeia,
fazendo uso de um simulacro de legalidade, apesar de tudo mais bem urdido do que
as técnicas fraudulentas utilizadas pelo Ocidente em situações similares, com a
diferença de a Crimeia nunca realmente ter sido ucraniana e de a maioria
esmagadora da população estar de acordo com aquele resultado. E está preparando
agora a jogada seguinte, obviamente imposta pela razão de Estado,
consubstanciada na garantia da sua segurança e na protecção dos seus nacionais.
E a jogada seguinte continuará a passar pelo não reconhecimento
do governo de Kiev e dos bandos nazi-fascistas que o integram e por uma de duas
soluções: ou uma Ucrânia neutralizada à finlandesa (sem quaisquer veleidades de
integrar a NATO) e federalizada com ampla autonomia das componente federadas,
nomeadamente as regiões do leste em Donetsk e em Kharkov, ou seja, de forma
mais correcta, tudo o que fica para lá do rio Dniepre ou, segunda alternativa,
a Rússia ver-se obrigada a ir em auxílio da população russófona ameaçada de
marginalização e hostilizada pelas milícias nazi-fascistas de Kiev e da Ucrânia
Ocidental, ficando, neste caso, a Ucrânia praticamente circunscrita ao
território antes integrado na Polónia entre o fim da Primeira Guerra Mundial e
o começo da Segunda. Um território que ficaria doravante à mercê da cobiça dos
alemães (novas técnicas) e dos polacos (velhas técnicas).
Esta segunda alternativa é uma aposta de risco mas que a
Rússia muito provavelmente assumirá se a investida Ocidental permanecer e os
seus interesses estratégicos continuarem a ser desprezados. E isso levará a que, depois desta crise, ou porventura desde já, a Rússia tenha
de reorientar as suas relações, olhando para Oriente e para a América Latina.
Do lado de cá, o
capitalismo ocidental, com excepção do entreacto representado pela Revolução de Outubro e
suas sequelas no mundo, só tem somado vitórias e isso tem-no levado a olhar
apenas para o presente e para o futuro imediato sem qualquer preocupação com
uma perspectiva verdadeiramente estratégica que tenha em conta o que possa
acontecer a longo prazo. A lógica do lucro é fundamentalmente uma lógica de
conjuntura. E a da capital financeiro mais do que a de qualquer outro. Ele vive
da ocasião. O que interessa é cavalgar a onda e tirar da força motriz que dela
irradia a máxima vantagem. O que possa acontecer depois, logo se verá. O
capitalismo adaptar-se-á e voltará a tirar proveito da nova situação. Sempre
foi assim, exulta o capitalismo vitorioso!
E de facto, há fundadas razões para recear as consequências desta
visão temerária que o capitalismo de hoje tem da política. A diferença que hoje
existe relativamente ao passado é que num passado não muito remoto os Estados
não se dispensavam de desempenhar o seu papel e tinham frequentemente em conta
estratégias destinadas a garantir a sua própria sobrevivência corrigindo e
pondo alguma ordem na voracidade do capital em defesa dos seus próprios
interesses. Hoje, pelo contrário, os Estados, nomeadamente os Estados
ocidentais desenvolvidos, estão completamente nas mãos do capital, principalmente
do capital financeiro e especulativo, sendo este e o modo como interpreta os
seus interesses que ditam a acção dos Estados, obrigando-os a agir mesmo quando
o modo de actuação imposto acaba por causar dano aos seus próprios interesses
estratégicos. É por isso que nesta crise não é tão relevante quanto se supõe o
papel que determinados sectores políticos, mais ligados a um certo tipo de
interesses que privilegia a estabilidade e a consolidação dos fluxos comerciais
entretanto criados, possam vir a desempenhar já que a sua acção estabilizadora e
de contenção é facilmente suplantada pela fatídica aliança entre o
neoconservadorismo arvorado em defensor universal de altos valores morais e a
acção rapinadora do capital financeiro.
Por outro lado, como se tem visto, pelos múltiplos exemplos
ocorridos nestes últimos vinte anos tanto na Europa como em África e no Médio
Oriente, o papel outrora desempenhado pelas massas populares de oposição aos
desvarios expansionistas do capitalismo está hoje muito limitado ou é quase
inexistente dada a fragilidade do movimento operário, por um lado, e a
colonização das consciências pela ideologia dominante, por outro. Tudo isto
aponta, infelizmente, para a intensificação de uma situação explosiva na Ucrânia…onde
tudo poderá acontecer.