sábado, 8 de março de 2014

AS ANÁLISES SOBRE A RÚSSIA


 

UM BREVE APONTAMENTO

Há um conjunto de análises sobre a Rússia que aparecem nestas alturas em blogues, revistas, jornais e outros meios de comunicação tendentes a demonstrar que ela caminha para o declínio por os alicerces da sua grandeza estarem em decadência. Todas estas análises feitas na perspectiva americana e logo muito divulgadas pelos nossos "representantes de Washington" – que são muitos e normalmente bem situados – assentam num pressuposto errado: no pressuposto de que a Rússia tem uma visão imperialista acerca do seu futuro.

Ou seja, estes analistas são absolutamente incapazes de compreender a política de um país sem ser pela visão americana das coisas. Como os americanos têm uma visão imperialista da sua posição no mundo e aspiram ao reforço permanente da sua hegemonia, tudo o que possa contrariar ou pôr em causa esse objectivo é sinónimo de decadência ou de declínio.

Mas não é assim que as coisas se põem para os outros países, mesmo para os grandes países, cuja aspiração máxima é poderem viver sem tutelas e sem dependências humilhantes dos que têm pretensões imperialistas, estando na primeira linha das preocupações a sua segurança e a defesa da sua soberania. E a sua segurança passa antes de mais por lutar contra a segurança absoluta dos que têm aspirações imperialistas, porque essa segurança absoluta implica a insegurança dos demais.

A Rússia é um grande país, geograficamente falando é o maior país do mundo, mas essa vantagem constitui também uma desvantagem na medida em que torna a sua defesa mais difícil. Por outro lado, está rodeada por grandes países a sul do extremo oriente, no centro da Sibéria e a sul do Cáucaso e do Mar Negro, além de a ocidente ter um império económico e comercial como vizinho, o que obviamente implica o desencorajamento de qualquer pretensão imperialista já que ela seria racionalmente inviável.

Por outro lado, não só é auto-suficiente em matéria de energia como os excedentes energéticos e a dependência que deles tem uma parte muito significativa do seu poderoso vizinho económico e comercial ocidental constituem um importante factor impulsionador do seu próprio desenvolvimento e não uma fraqueza.

Por isso, a fragilidade de outros elementos constituintes da actual Rússia, como a baixa demografia e até algum atraso tecnológico em matéria de armamento, não são assim tão importantes como a propaganda americana pretende fazer crer. Seriam, se a sua estratégia como país fosse outra (aliás, se acaso fosse, não teria o menor sucesso), mas sendo os seus objectivos fundamentalmente defensivos o que interessa equacionar é a possibilidade de assegurar a sua estratégia em cada momento e sempre que as situações de crise surgirem.

Em resumo: está neste momento a Rússia em condições de fazer frente à ameaça americana na Ucrânia? Se estiver, como parece que estará, essa pretensa fragilidade não existe.

2 comentários:

Anónimo disse...

Por acaso tenho dúvidas que a leitura imperialista seja tão excluivamente americano-cêntrica como sugere.

Visão imperialista tanto a terão os EUA, como a Rússia, a França, o Reino Unido, a Alemanha ou a Espanha.

Mais ou menos afinadas, mais ou menos belicosa, mais ou menos actuante, mas não as excluiria enquanto elemento operativo das actuais circusntâncias ucraniana - e embora aqui eu esteja claramente com as razões Rússia.

Anónimo disse...

Independentemente do singular ou do plural da palavra "imperialismo" o importante mesmo é identificar o inimigo principal.
Isto está bem exposto neste pequeno texto do autor do post:
"importante é identificar o inimigo"
http://politeiablogspotcom.blogspot.pt/2014/02/ucrania.html

Agora é fazer a correspondente transposição

De