SÃO SEMPRE OS MESMOS
Ouvimos na TV e lemos nos jornais as opiniões dos “grandes economistas” portugueses sobre o aumento do salário mínimo de 426 para 450 euros!
Que não, que não pode ser. Que as empresas não aguentam. Que a medida vai gerar desemprego e por aí fora. E logo um desconhecido representante das ditas vem à TV chamar prepotente ao Governo e fazer ameaças. Se a medida for adoptada, disse o tal cavalheiro, não renovaremos os contratos a prazo. Claro, que o Governo deveria ter estas declarações em consideração e, na medida da concretização da ameaça, excluir as ditas empresas de qualquer benefício genericamente previsto.
Do lado dos economistas que se manifestaram contra a medida – João Salgueiro, Vítor Bento, Ferreira Leite, entre outros – não seria de esperar outra coisa. Todos eles têm um longo currículo especializado no alastramento da pobreza. Nunca, em muitas décadas, se ouviu dessa gente qualquer palavra que não fosse de austeridade, de contenção salarial, em suma, de salários de miséria para a generalidade do povo trabalhador.
É gente ligada ao capital financeiro, logo, à especulação e agiotagem, que sempre olhou a força de trabalho como um factor de exploração. É gente aliás sem qualquer legitimidade moral para se pronunciar sobre o que está em jogo. Na verdade, como é que pessoas pagas milionariamente têm o descaramento de se insurgirem contra um aumento de 24 euros por mês num mísero ordenado de 426 euros? Pagas milionariamente e provavelmente com várias reformas. De facto, gostaríamos de saber se Salgueiro não beneficia de uma reforma do ex-Banco de Fomento, outra do Banco de Portugal e outra ainda da Caixa Geral de Depósitos. E Vítor Bento ainda há pouco tempo foi beneficiado com uma generosa avaliação sem a ela ter direito.
Sim, são argumentos ad hominem, mas muito justificáveis quando dirigidos a pessoas que vivendo principescamente estão a regatear um aumento de 24 € no mais baixo escalão dos salários (legais) portugueses.
Claro, que eles vêm com o hipócrita argumento de que se trata de uma falsa vantagem, já que o aumento pode levar a empresa à falência. Hipócrita e falso. Se uma empresa não tem condições para pagar um salário de 450 €/mês, ela não deve ocupar um espaço no tecido empresarial português. Deve ser substituída por outra que o consiga. Aliás, a propósito das pequenas e médias empresas há muita demagogia: durante anos e anos a fio nunca pagaram impostos directos. Apresentavam sempre prejuízos. Depois, por via de um expediente legal bem conseguido, foram obrigadas a fazê-lo, posto que parcialmente. É esta mentalidade empresarial que os nossos ditos “grandes economistas” querem perpetuar. A mentalidade do atraso!
Mas deles já nada nos causa espanto. Pois não disse, muito recentemente, João Salgueiro num programa de economia da SIC Notícias, a propósito da crise financeira, que talvez houvesse excesso e não falta de regulamentação? Ou ainda que, o que havia era incompetência dos órgãos fiscalizadores e não falta de regulamentação. E não é esse mesmo economista que agora, neste preciso momento histórico, se manifesta contra os investimentos públicos? Mas também aqui a sua posição não causa admiração a quem não tiver memória curta. Pois trata-se exactamente da mesma pessoa que, como Ministro das Finanças de um dos governos mais desprestigiantes da democracia, anulou a adjudicação de um troço da auto-estrada do Norte em construção – salvo o erro Aveiras-Santarém – por não considerar aquela auto-estrada uma obra prioritária!