terça-feira, 4 de janeiro de 2011

NOBRE E A "DAMA DE SINTRA"




CONVERGÊNCIA DE OBJECTIVOS

A “Dama de Sintra” entrevistou hoje Fernando Nobre. A estratégia da entrevistadora é sempre a mesma: ilibar Cavaco Silva do caso “acções SLN”, mais correntemente conhecido como “caso BPN”.
Apenas vai mudando de táctica consoante o entrevistado e as suas mais que previsíveis respostas. Ontem, com Defensor Moura, o objectivo era impedi-lo desde o início de falar no assunto, remetendo a questão para o minuto final de modo a minimizar o seu efeito ou mesmo a neutralizar qualquer intervenção mais contundente.
Hoje, com Nobre tudo mudou. Sendo claro que Nobre se candidata contra Alegre, é evidente para qualquer analista político que as suas respostas sobre o “caso BPN” só poderiam traduzir-se num ataque àqueles que, segundo o seu mais que conhecido entendimento, fazem da campanha um palco para ataques pessoais e ao carácter dos outros candidatos. E já se sabe que nesta sua diatribe contra os outros candidatos pode sempre contar com a colaboração da entrevistadora que, questionando-o, vai simultaneamente extraindo as conclusões e tirando a "moral da história".
Com Nobre escusa Cavaco de se preocupar. A cidadania que ele diz representar não entra nos meandros dos negócios financeiros. Fica à porta, ou não fosse Nobre um ilustre representante da exigente cultura do subsídio…
Oriundo do “Portugal Ultramarino”, educado na Bélgica, Nobre apenas encontra “Portugal metropolitano” na década de oitenta do século passado. E é do percurso feito a partir de então em instituições humanitárias que se alimenta a sua candidatura. Percurso que, pelo menos num ou noutro ponto, convergiu com o da entrevistadora, que também acompanhou no Congo, como jornalista, o drama dos campos de refugiados do Uganda.
Nobre tem excelentes relações com os media que sempre registam os primeiros dias da ocorrência de uma qualquer catástrofe. Passados esses dias, a catástrofe deixa de ser notícia, os desventurados da fortuna ficam entregues ao seu triste destino, e a gente só fica a saber quem “posou” para a fotografia. E essa é uma falha que infelizmente Nobre não pode agora colmatar. Como atestar a continuação da sua presença se as televisões se vêm embora?
Nobre quer falar das ideias que o movem, da ruptura que representa relativamente aos demais…mas só fala do percurso e o percurso, como acabamos de ver, sofre de indocumentação…
É pena que Nobre não tenha documentado mais o seu percurso com reflexões, propostas e acções que pudessem no futuro contribuir para atenuar pelo menos as catástrofes causadas pelo homem, à semelhança daqueles que, tendo igualmente feito da vida um permanente percurso pelas catástrofes que assolam a humanidade, nos legaram um contributo narrativo capaz de ajudar a compreender e a prevenir a desgraça de quem as sofre.
Qualquer que tenha sido o papel de Nobre no percurso que escolheu, por mais nobre que seja, ele é curto para justificar uma candidatura à Presidência da República, embora possa ser suficiente para atingir os seus objectivos.

4 comentários:

Maria de Fátima Filipe disse...

Ora bem! aquela insinuação aos "telhados de vidro" de outros candidatos parecia um míssil teleguiado..

NUNO MIGUEL HENRIQUES disse...

E Porque os Debates são quando são? E porque não falam todos na RTP do Estado?
Onde está a igualdade?
Precisamos de um Presidente Jovial e com outra mentalidade e talvez muito mais novo, mas não sei quem...

Anónimo disse...

Acho injusto que se classifique Fern Nobre e aquilo que tem feito assemelhando-o (a) à pedinchice...

Também acho feio dizer-se que só há poucos anos encontrou Portugal como se, ter vivido nas possessões portuguesas, fosse um crime ou se a passagem pela Bélgica o tivesse contaminado... ao ponto de o seu percurso humanitário ser inferiorizado. Ter sido deputado, prof. universitário e político de profissão ou poeta são melhores atributos ou únicos e indispensáveis para se concorrer a presidente?

E finalmente aquela de se insinuar que depois de passar a TV e a foto do jornal o Fernando Nobre dá às vila diogo deixando os miseráveis entregues a si próprios, carece de uma explicação: ou é verdade e então o meu coração cai-me ao chão, ou é mentira e, nesse caso quando se diz que ele ficando a cuidar dos doentes já não tem documentação para o provar é o quê?
Só lhe restava escrever como evitar catástrofes? Com franqueza,

Aqui fica a transcrição:

"(...)Fica à porta, ou não fosse Nobre um ilustre representante da exigente cultura do subsídio…
Oriundo do "(...) Nobre apenas encontra “Portugal metropolitano” na década de oitenta do século passado. E é do percurso feito a partir de então em instituições humanitárias que se alimenta a sua candidatura.
«Nobre tem excelentes relações com os media que sempre registam os primeiros dias da ocorrência de uma qualquer catástrofe. Passados esses dias, a catástrofe deixa de ser notícia, os desventurados da fortuna ficam entregues ao seu triste destino, e a gente só fica a saber quem “posou” para a fotografia. E essa é uma falha que infelizmente Nobre não pode agora colmatar. Como atestar a continuação da sua presença se as televisões se vêm embora?
Nobre quer falar das ideias que o movem, da ruptura que representa relativamente aos demais…mas só fala do percurso e o percurso, como acabamos de ver, sofre de indocumentação…
É pena que Nobre não tenha documentado mais o seu percurso com reflexões, propostas e acções que pudessem no futuro contribuir para atenuar pelo menos as catástrofes causadas pelo homem, à semelhança daqueles que, tendo igualmente feito da vida um permanente percurso pelas catástrofes que assolam a humanidade, nos legaram um contributo narrativo capaz de ajudar(...)»
F Santos

JMCPinto disse...

O que está dito no texto é que Nobre tem uma boa relação com os media e que estes apenas estão presentes quando a catástrofe é notícia, ou seja, nos primeiros dias. Depois regressam à base...
Como Nobre também está presente um dia depois de a catástrofe ocorrer, encontra-se com os media no aeroporto, à partida de Lisboa, e no lugar de destino.
Depois os media regressam e de Nobre fica sem se saber. Não quer dizer que lá não esteja, o que quer dizer é que o seu apregoado percurso está pouco documentado para o comum dos mortais.
Quanto à cultura do subsídio, sim, ela existe. E é exigentíssima. Pessoalmente, prefiro lidar com um credor a "título oneroso" do que com um credor a "título gratuíto", prinipalmente quando ele contesta o papel do Estado!

5 de Janeiro de 2011 19:52