QUE FUTURO PARA
PORTUGAL?
A crise de Chipre, mais do que qualquer outra ocorrida no
espaço da zona euro nestes últimos três anos, teve a vantagem de mostrar a
verdadeira face dos “patrões do euro”, depois de terem reduzido à sua
insignificância aqueles que, continuando a pertencer à moeda comum, nela
simplesmente vegetam como uma espécie de novos “untermenschen”, sendo nesta
nova modalidade o trabalho escravo substituído pela espiral recessiva e pela
agiotagem. A crise de Chipre e a 7.ª
avaliação da Troika, as suas reticências, as novas exigências e as
recriminações feitas a um governo servil, que tudo, mas tudo, fez nestes
últimos dois anos para agradar aos “patrões do euro”, não podem deixar de
colocar na ordem do dia a seguinte pergunta: Que futuro para Portugal?
Se perante um governo subserviente a Troika não teve qualquer
problema em se distanciar dos resultados de um programa que ela própria impôs e
que foi levado à prática com um zelo e uma dedicação dificeis de igualar pela
própria Troika, se a ela lhe coubesse executar a sua própria imposição, nenhum
português com um mínimo de lucidez deixará de perceber que o que ai vem a
seguir será ainda pior e tanto mais quanto pior for o resultado das novas e
sucessivas imposições.
Estamos perante um atentado não apenas à soberania da Pátria
e aos tratados constitutivos da União Europeia (por muito maus que eles sejam),
mas também à própria integridade física e moral das pessoas. Ninguém poderá
aguentar por mais tempo este estado de coisas, nem ninguém poderá continuar a
mentir, apresentando falsas ou ilusórias soluções para resolver um problema que
não tem qualquer hipótese de solução no seio da Europa.
Desde há muito que no espaço livre e sem censura da
blogosfera e das redes sociais em escritos mais ou menos fundamentados se tem
apontado para o abandono do euro como a única saída possível para a presente
situação, havendo nesse mesmo espaço sempre a cautela de acrescentar que o
facto de ser a única saída possível não significa que ela seja fácil nem isenta
de sacrifícios. Significa apenas que é a única que, a prazo, permite perspectivar
um futuro diferente e melhor. O tempo que isso levará dependerá da vontade dos
portugueses e do modo como esse abandono do euro ocorrer. Nem todas as soluções
são boas como adiante se explicará.
Mas fora deste espaço livre que é o das redes sociais e da
blogosfera a questão tem sido praticamente tabu. Nenhuma estação de televisão ou
de rádio aceita pôr o tema em agenda e os próprios partidos, com excepção do
PCP, guardam sobre ele idêntico silêncio, apresentando sempre a manutenção no
euro como um a priori óbvio e
evidente, carecido de qualquer demonstração.
Das posições do CDS e do PSD não adianta muito falar. Hoje
são contra, mas nada garante que o sejam amanhã. A firmeza deles sobre esta
matéria não será nenhuma. E por isso é que posição deles é grave para todos os
que buscam uma boa solução. De facto, nada pior nos poderia acontecer do que
sair do euro sob a pata destes dois
partidos.
Já para o PS o problema é muitíssimo complicado. A Europa
está para o PS como a União Soviética estava para o PCP. Cortar com a Europa ou
reconhecer o seu rotundo fracasso seria o mesmo que reconhecer a falência do
seu próprio projecto. “A Europa connosco”, as ilusões sobre a construção
europeia como uma zona de solidariedade e prosperidade sem par fazem parte da
matriz genética do PS. Sem a Europa, como referencial imaginário – que para o
PS funcionou como referencial substitutivo do mito imperial -, o PS não existe.
E isso está-se notando já hoje, mesmo sem o partido ter feito esse debate ou
sequer interiorizada a falência do projecto europeu, na incapacidade de apresentar
uma real alternativa à presente situação, quer sob a liderança de Seguro, quer
sob a de Costa ou de Assis, todos eles tolhidos pela ausência de saídas
minimamente credíveis e susceptíveis de reverter a presente situação.
Se a posição do PS é apesar de tudo relativamente clara –
advoga a mudança e simultaneamente a fidelidade a um conjunto de compromissos
que efectivamente a impede – já o mesmo se não poderá dizer da posição do
Bloco. O Bloco nega os compromissos mas simultaneamente apresenta um conjunto de
propostas que não têm qualquer viabilidade prática de efectivação no quadro
europeu tal como ele existe. Pugnar pela manutenção de Portugal no euro e
simultaneamente advogar a reestruturação da dívida, eliminando parte dela e
fazendo depender o pagamento da restante do crescimento das exportações são
realidades incompatíveis como toda a gente sabe. Os “patrões do euro”, não vão
certamente aceitar para Portugal uma solução que rejeitaram para os demais,
que, de resto, nunca sequer tiveram a ousadia de a apresentar. Pelo contrário,
o que a prática política recente comprova, é que esses “patrões” tendem a agravar
as imposições a que os países devedores estavam submetidos.
Por isso, quem defender a manutenção no euro e
simultaneamente não apresentar as alternativas a seguir em consequência da
rejeição das propostas de redução da dívida e das políticas de crescimento, o
que no fundo está a esconder é que para permanecer no euro é preciso respeitar
o Memorandum da Troika que tenderá, pela sua própria natureza e com o tempo, a
agravar o condicionalismo imposto aos Estados intervencionados.
Já o PCP admite, como consequência inevitável, a prazo mais
ou menos curto, a saída do euro, mas, além de não insistir suficientemente
nesta conclusão, nomeadamente ao nível do debate público, não desenvolveu politicamente
as condições em que essa saída deveria ocorrer.
Para não alongar este post,
no próximo indicar-se-ão algumas das medidas que deveriam ser tomadas para garantir
o êxito, num prazo razoável, do abandono do euro.
6 comentários:
Há dias o dr Ferreira do Amaral comparava situação actual face ao Euro com a que o regime marcelista tinha com a questão colonial: havia receio em quebrar o tabu por causa das consequências de vária ordem e ia-se adiando sendo que, quanto mais tarde, piores seriam essas consequências. Segundo ele com a questão do euro passar-se-àmais ou menos o memso.
O PCP é o único que coloca a questão frontalmente, aliás, em coerência com a sua oposição a todo o processo desde a adesão...Então porque é que pouco aumentou a audiência favorável ao tema? Porque embora ele evite entrar em "detalhes" as pessoas pressentem pesadas as consequências. No dia em que haja conversão para uma moeda nacional não serão cortadas apenas as pensões/salários superiores a 1350€. Também não seriam apenas os depósitos superiores a um qq valor, seriam todos e todos os direitos titulados nessa moeda, obviamente e seria a falência imediato de todo o sistema bancário, endividadíssimo face ao xterior. Há quem calcule a desvalorização imediata em 30 a 60%, portanto é só, como disse o outro, fazer as contas. POr isso é que o pessoal hesita em "cortar a perna gangrenada na esperança de poder recuperá-la. Penso eu.
Vou citá-lo, com um outro enquadramento.
O Euro é um cão e nós somos presos por tê-lo e por não o ter...
Mil perdões pelo abuso, mas partilhei lá no meu canto. Tinha que o fazer. É muito importante.
http://ceuazuleaguamolhada.blogspot.pt/2013/03/o-debate-inadiavel.html
Respeitosa e solidariamente,
Álamo
Obrigado pelas citações
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