O MISTÉRIO, ANTÓNIO COSTA E O BLOCO CENTRAL
O Mistério – Todos, com excepção do PS, se sentiam confortáveis com
a liderança de Seguro à frente do Partido Socialista. O governo, porque não
tinha oposição nem alternativa à sua política, o que permitia ao PSD não baixar
muito e ao CDS manter-se à tona com passes de equilibrismo tentando dar a
entender que a propósito de certas políticas até estava mais contra do que o próprio Seguro. Tudo
fantasia, mas era o que parecia. Por outro lado, tanto o Bloco como o PC só
tinham a ganhar com a presença de Seguro. Não tendo Seguro capacidade para
entusiasmar quem quer que fosse, não só aqueles dois partidos não perderiam votos
a favor do PS na oposição como, pelo contrário, até poderiam ganhar alguns. Assim
sendo, como se explica o regresso de Sócrates pela porta grande da RTP? A
esquerda, obviamente, não tem nada com isso. E a direita terá? Não pode deixar
de ter, porque quem manda na RTP é Relvas. A tese da conspiração ensaiada por
Pacheco Pereira na última quinta-feira não faz porém qualquer sentido. Pôr
Sócrates na ribalta para desancar em Seguro e poder, assim, o Governo gozar de algumas tréguas,
é hipótese que não passa pela cabeça de ninguém. Relvas pode não ser Sócrates,
e certamente não é, mas não é tonto, nem entrou ontem na política. Não iria
fazer isso numa altura em que ninguem melhor do Seguro serve na oposição os interesses do governo. Então porquê Sócrates na TV? A “política”
é feita de muitos compromissos e protecções. Dá-se agora para receber mais
tarde…
4 comentários:
Sobre o Bloco Central Sócrates deixou uma ponta.
Sócrates, que desenvolveu uma defesa com um ataque cerrado, por (quase) tudo o que era lado (particularmente contundente àquele que é "presidente") teve uma excepção.
Sócrates, visto por ele próprio, não erra. Sócrates, visto por ele próprio, está sempre no caminho de que não se arrepende. Apenas a tal excepção: Sócrates admite ter errado ao avançar para um governo minoritário. Quase passava despercebido (e passou aos entrevistadores)mas não me passou. O homem que nunca erra, admite que errou. Não é inocente que o tenha feito. À beira de uma situação onde as eleições são uma probabilidade elevada. À beira de uma situação em que o presidente pode ter uma intervenção, Sócrates diz que foi (e será) erro avançar para soluções de solidão.
Coloca-se a questão com quem?
Mas há aqui um problema que eu evitei tratar: é que Sócrates não tem condições, pela sua própria personalidade, pelo seu passado, para fazer coligações com a direita. E a direita também não o aceita.
Repare que há mais de dois anos que não ouvia ninguem responsável do PS referir-se ao governo, ao PSD/CDS,como a direita. Quer isto dizer que Sócrates está a pensar noutras coligações? Não creio. Apesar de Sócrates não ter atacado nem com uma vírgula a esquerda, nomeadamente pelo chumbo do PEC IV, o que ele certamente está a pensar é em maioria absoluta.
Fica por explicar que tenha reconhecido o erro de ter aceite formar um governo minoritário... e foi de sua iniciativa fazê-lo, já que não foi sobre isso questionado. Entretanto vivemos uma situação que se agrava dia após dia (em menos de duas semanas a divida agravou-se em mil milhões de euros) e o Tribunal Constitucional pode colocar a situação em que todos os sinais, dos subliminares aos de carácter, podem ser subvertidos por estratégias sem precedentes. O impensável pode acontecer oriundas de todas as partes... com um ponto comum: a ostracização de soluções que passem por rupturas com a troika (Sócrates, isso já pré-anunciou)... e, parafraseando o Marcelo, aquilo de que não se fala não existe...
Houve ontem na Quadratura do Círculo um vago indício de que o PS poderia mudar de posição, inclusive quanto ao euro.
Mas é como diz a situação em que tipos deixaram isto permite "pensar" que o impensável pode acontecer...
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