sábado, 8 de janeiro de 2011

AFINAL, HOUVE MESMO FAVOR!




A DIREITA UNIDA TENTA ABAFAR O CASO

Imagine-se o que aconteceria neste país se se descobrisse que Sócrates tinha comprado e revendido com um lucro de 140% acções não cotadas em bolsa de uma empresa gerida pelo Coelho ou pelo sucateiro de Ovar. Sim, o que diria Pacheco Pereira na Quadratura do Círculo, o que diria o “Padre Malagrida” no Plano Inclinado, o que escreveria JM Fernandes no Público, enfim, o que teria escrito e dito toda a media portuguesa, mesmo que a dita empresa se não tivesse transformado num dos mais graves problemas orçamentais do Estado português?
Diria aquilo que é óbvio, com o acinte que lhes é próprio.
Pois é. Mas sabe-se agora que Cavaco Silva comprou por um preço reservado ao presidente da SLN e a mais três empresas por ele dominadas (1 euro) acções provenientes de um aumento de capital que deveriam ter sido pagas ao preço estabelecido para os “compradores convidados” (novos accionistas) - 2,2 euros!
É até muito provável que o preço estabelecido para Oliveira Costa e “suas” três empresas já seja em si uma ilegalidade. Agora, o que não há dúvida é que essa ilegalidade é indiscutível quando esse mesmo preço é estabelecido, contra as deliberações da AG, para um terceiro, que nem accionista era. É bom que se perceba que Cavaco beneficiou de um regime de compra a que nem sequer Dias Loureiro teve acesso…
Em termos simples pode dizer-se que Oliveira e Costa ofereceu a Cavaco Silva e família 1,2 euros por acção. A que propósito se dá uma “prenda” destas a alguém? Como explica Cavaco Silva que um seu ex-secretário de Estado, aliás, muito contestado por incompreensíveis perdões fiscais que concedeu, lhe tenha proporcionado semelhante benefício?
Não há, portanto, dúvida de que houve um favor. E para se ter a certeza de que esse favor não foi completo, Cavaco deveria demonstrar que pagou as acções, porque quem oferece 1,2 euros também pode oferecer 2,2.
A direita unida à volta deste caso começou por invocar a honestidade de Cavaco como uma espécie de infalibilidade papal para afastar qualquer tipo de suspeita, quando o problema era muito mais comezinho: tratava-se apenas de perceber se houve ou não um favor, político ou pessoal, e que explicações racionais poderiam ser aduzidas para afastar aquela suspeita.
Como esta estratégia não pegou – o silêncio de Cavaco só agravou a situação -, a direita, munida de documentos que entretanto conseguiu obter, desencadeou então a segunda vaga argumentativa, primeiramente insinuada por Miguel Relvas e logo depois desenvolvida por Marques Mendes com toda a "convicção": Cavaco até perdeu dinheiro, porque houve quem à mesma época tivesse vendido mais caro. E acrescentava: o problema não está na actuação de Cavaco mas na esquerda que, como não aceita o lucro e o confunde com actividade ilícita, está sempre predisposta a lançar calúnias contra as pessoas honradas.
É claro que desde a primeira hora se percebeu que o negócio não era claro: nem em si, nem pelas pessoas com quem foi feito. E mesmo que se aceitasse que Cavaco estava completamente inocente, isso não seria bom para ele. Pelo contrário, tratar-se-ia de mais um facto a atestar a fragilidade de Cavaco para o desempenho as funções de Presidente da República: a incapacidade para avaliar devidamente os factos e as pessoas.
Que Cavaco em situações de aperto fica emocionalmente descontrolado já se sabia: viu-se no modo primário como lidou com a intentona das escutas, mas viu-se também agora: acossado pela situação do BPN, Cavaco só encontrou como resposta um ataque à actual administração do BPN, culpando-a da situação em que o banco agora se encontra. Ao meter-se na “boca do lobo” – como pode fazer tal crítica uma pessoa que nunca dirigiu a menor censura à criminosa gestão anterior? –, Cavaco demonstrou mais uma vez que não está à altura das situações difíceis. De facto, esta sua lamentável actuação, independentemente dos juízos de valor que se façam relativamente ao facto em si, demonstra as fragilidades de Cavaco como governante, principalmente em situações de crise.
Para o resto da direita, nomeadamente para o CDS – tão activo na defesa de Cavaco – a responsabilidade por tudo isto continua a ser do “polícia”. Dos ladrões o CDS só fala quando são pequenos. Quando se trata de ladroagem da grande – BPN, submarinos, helicópteros, sobreiros, etc. -, o CDS cala-se e arranja coisinhas pequenas para distrair as atenções: uma carteira roubada por esticão, mais uma historieta de Teresa Caeiro e por aí se fica, embora muito estridentemente.
Só que desta vez a coisa está feia: houve mesmo favor!

5 comentários:

anamar disse...

Como diz o povo " averdade é como o azeite...", mas mesmo assim o povinho ,e não só, vão vota-lo....
era preciso um grande "carinho" entre a esquerda para repôr alguma coerencia no meio disyo tudo...
Abraço
Ana

Anónimo disse...

Portugal e os portugueses tem que se preparar e ter muita coragem para lidar com um Presidente que se deixou enredar nesta historia viscosa,

na das escutas

e em varias outras que virão ao de cima pelo andar da carruagem

e não abonam o homem serio que cavacu tera intencionado ser...

Será um processo traumatizante nossa democracia...

abraço

Maria de Fátima Filipe disse...

A coisa está feia sim. Não sei como vai ser possível lidar com esta situação na situação de fragilidade em que o país se encontra...

Anónimo disse...

Totalmente de acordo.
Belo texto, tom justo, na "mouche"...

A.M.

Carta a Garcia disse...

Meu Caro,

Excelente...Vou fazer link para "A Carta a Garcia". Abraço,
OC