TEM A PALAVRA O PS: OU ROMPE
COM ESTA POLÍTICA OU AS CONSEQUÊNCIAS SERÃO AS MESMAS
A partir de agora já não são legítimas as dúvidas. Houve quem
durante o debate sobre a intervenção da Troika tivesse entendido que havia
exagero e irrealismo nas posições defendidas pela esquerda. As coisas não
seriam como a esquerda as pintava, dizia-se então.
Infelizmente confirmaram-se todas as previsões: com a
intervenção da Troika estava em causa o Estado Social nas suas diversas
vertentes, como muito bem se sabia e como tinham obrigação de saber todos os
responsáveis políticos do famoso “arco do poder”. Bastava terem estudado as
intervenções do FMI em outros continentes, a partir de meados da década de
oitenta.
Mas se era exigir muito àqueles responsáveis políticos o
conhecimento dessas intervenções em países e em populações que não lhes suscitavam
a menor solidariedade, já não se compreende que não tivessem imediatamente
entendido as consequências politico-económicas das políticas draconianas que a
Alemanha estava a impor aos países europeus intervencionados, de facto ou de direito.
É certo que as forças estrangeiras e antidemocráticas que
ditaram o condicionalismo do “resgate” contaram em Portugal com um apoio e um proselitismo
inexistente em qualquer outro país da Europa. Mas não haja ilusões. Essa vontade
de ir além da Troika e esse fanatismo ideológico que levou o Governo e os partidos
que o apoiam a tentar construir, partindo do programa da Troika, um modelo
económico-social completamente diferente do que antes existia,
acompanhado da destruição de toda a economia inserida na famosa “má oferta”,
apenas configura o crime de traição, mas não altera nada do que de essencial
sempre se passaria com mais ou menos colaboração, com mais ou menos entusiasmo -
o resultado seria sensivelmente o mesmo, como se está a ver na Grécia e se verá
também em Espanha se não mudar rapidamente de rumo.
A especificidade portuguesa está em tudo se ter passado, e estar a passar, com um incrível cinismo e laivos de grande perversidade. Mas mesmo sem essa perversidade estaríamos
hoje, ou daqui a uns meses, a discutir exactamente o mesmo que agora está em
agenda: a destruição do Estado Social.
Em Portugal, recordando a quem tem fraca memória, a
perversidade consistiu em Governo numa primeira fase (iniciada em 2011) ter optado
pelo combate ao défice externo, reduzindo drasticamente a procura interna
mediante um agravamento dos impostos sobre o trabalho. No ano seguinte (ou
seja, no ano em curso), manteve essa política, pela via do confisco de ordenados
e pensões, bem como da redução das prestações sociais em geral e de cortes de despesa na Educação e na Saúde, além, evidentemente, do congelamento do
investimento público e do agravamento dos impostos indirectos. Eliminando grande parte da “má oferta” e lançando
voluntariamente no desemprego centenas de milhares de pessoas bem como empurrando para
a falência milhares de empresas, o Governo, para cumprir integralmente este seu
primeiro objectivo, vai decretar em 2013 um enorme aumento de impostos com
vista a consolidar a redução do défice externo e a eliminar o que resta da “má
oferta”.
Cumprido este objectivo, o Governo vai tentar atacar o
segundo: reduzir o défice fiscal (orçamental) para cumprimento das metas
fixadas pela Alemanha. Que medidas vai o Governo adoptar para o alcançar? Reduzir
drasticamente as despesas sociais, nomeadamente a Saúde e a Educação, sendo
ainda de esperar alguma novidade retroactiva no domínio da Segurança Social.
Com esta brutal redução de despesa, o Governo tenderá a reduzir o défice orçamental e
destruirá o essencial do Estado Social.
Ora bem, é para a conclusão desta tarefa que Passos Coelho
está convocando o PS. Apesar da resposta do PS ter sido aparentemente
contundente: não conte o Governo com o Partido Socialista para rever a
Constituição ou para destruir o Estado Social, com ou sem revisão
constitucional, a verdade é que a posição do Partido Socialista não pode deixar
ninguém descansado.
De facto, o PS parte de um erro de base que não poderá deixar
de ter consequências futuras. O PS parte do pressuposto (errado) de que o
Governo falhou. O Governo não falhou, o Governo está a cumprir escrupulosamente
a “agenda escondida” com que se candidatou às eleições. Supor o contrário é admitir
que a execução de um “programa de ajustamento” como o que foi imposto a
Portugal poderia ter consequências substancialmente diferentes. Não podia. A
única diferença é esta: enquanto o PSD/CDS executam com gosto e consonância
ideológica um programa em cujas virtudes acreditam (mais Passos e Gaspar do que
Portas), o PS executá-lo-ia contrariado e porventura com alguma reserva mental sem
que daí decorressem consequências substancialmente diferentes.
Vale, por isso, a mesma conclusão de sempre: por esta via não há saída; supor
que a “Europa” vai mudar ou que vai ser possível a médio prazo uma mudança na
Europa é uma ilusão. E a longo prazo, como dizia Keynes, estamos todos mortos!
1 comentário:
in the long run we are all dead
keynes nunca diria que estávamos todos mortos ele nem era da fox news
elles é que estavam todos mortos
e acertou nem sobra um vivo...
excepto o manel de oliveira e o só ares que tinha uns 4 anos e picos em 1929
mas tirando esses e mais uns milhões deles
tão mesmo todos mortos
é só esperar mais 20 anos
Ano IPC Global (1981 =100) Variação Anual (Taxa de Inflação)
'1977 100,0
'1978 122,1 22,1
'1979 150,6 23,4
'1980 175,8 16,7
'1981 211,9 20,5
'1982 260,1 22,7
'1983 325,2 25,1
'1984 419,8 29,1
'1985 503,3 19,9
'1986 561,9 11,6
'1987 614,6 9,4
é só pôr 2014 em 1977
e 2024 em 1987....
em 2024 só temos 9,4% de inflação
infelizmente em 2024 já estamos todos mortos...
pega na catana e faz como o gajo de Beja e corta a família às postas
que ganhas 12 anos
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