ASSIM GOVERNA BERLUSCONI
Um odor insuportável impregna toda a cidade. Mais de quatro mil toneladas de lixo lançam o caos por toda a parte. Em todo o lado há incêndios ateados por uma população desesperada que quer a qualquer preço desfazer-se do lixo. Grupos de verdadeira guerrilha urbana, montados nas suas vespinos, hostilizam a polícia e os bombeiros. Os habitantes sentem-se completamente abandonados e temem as piores consequências no plano da saúde pública.
Gamorra, a novela de Roberto Saviano, adaptada ao cinema e estreado em toda a Itália este fim-de-semana, explica como tudo se passou. Desde há mais de 30 anos que a Camorra descarrega ilegalmente, e a preço “competitivo”, milhões de toneladas de resíduos tóxicos, produzidos pelas empresas do Norte, na região da Campânia. Com os aterros sanitários saturados e o território da Campânia progressivamente envenenado, a população em pânico recusa-se a deixar construir mais aterros e incineradoras. Não há, por isso, onde deitar o lixo de todos os dias, que se acumula nas ruas antes de ser exportado para a Alemanha e para a Suíça a preços milionários.
Berlusconi prometeu na campanha eleitoral resolver o problema e anunciou que reuniria o seu primeiro conselho de ministros em Nápoles, onde aprovaria o famoso “pacote de segurança”, do polémico Ministro do Interior, Roberto Maroni. A Camorra porém já deixou a mensagem: o Governo tem que negociar.
Simultaneamente, um pouco por toda a Itália, mas também em Nápoles, sucedem-se as manifestações policiais de xenofobia contra os ciganos, contra os imigrantes ilegais, tenham ou não trabalho, acompanhadas de actos de violência.
A vice-presidente do Governo espanhol, M. Teresa de la Veja, presidindo ao Conselho de Ministros na ausência de Zapatero, referindo-se às expulsões sem respeito pela lei, bem como a actuações fomentadoras do racismo, como foi o caso dos ataques aos acampamentos de ciganos em Nápoles, foi muito clara: “O Governo rejeita a violência, o racismo e a xenofobia, portanto não pode concordar com o que se está passando em Itália”. Também o Ministro do Trabalho e da Imigração de Espanha, Celestino Corbacho, diz:"Berlusconi quer criminalizar o diferente". Finalmente, a eurodeputada húngara, Viktoria Mohacsi, enviada do Parlamento Europeu para analisar a situação da comunidade romena, diz que o governo alimenta o ódio contra os estrangeiros.
Nesta Europa tão “sensível aos direitos humanos”, nesta Europa tão hipócrita, somente a Espanha de Zapatero protesta contra o que se está a passar na Itália. Infelizmente, o pior ainda está para chegar.
2 comentários:
Excelente post e o blog também está todo ele com muito nível. Necessitas divulgá-lo.
É a minha primeira visita. Já ficou nos meus favoritos.
O post eatá excelente e só espero que não se concretizem as ameaças de reforço dos contingentes militares italianos nas aventuras do médio e intemédio Oriente...
Mas, por outro lado, há uma certa tradição militarista da direita italiana que sempre conduziu a derrotas humilhantes e miseráveis...
Talvez então os italianos percebam no que se meteram
MFerrer
http://homem-ao-mar.blogspot.com
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